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1784 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 89

como medida urgente de salvação nacional. O custo dos géneros de primeira necessidade, que sobe sem parar, tem de ser travado doa a quem doer. Parece que se esquece que a energia que despendemos é produzida no organismo humano pelos alimentos que ingere, e que se o corpo vivo é antes um processo nutritivo, não - custa a acreditar que o homem pensa, ama, sofre e vive aquilo que come e que a sua actividade será, em boa dose, o reflexo da sua alimentação.

O Sr. Camilo de Mendonça: - V. Ex.ª dá-me licença?

O Orador: - Com certeza.

O Sr. Camilo de Mendonça: - V. Ex.ª está a focar um problema delicado, que afecta hoje, de uma forniu geral, a Europa, que é o problema do aumento dos preços e dos salários.

É claro que isso mós dói a todos. Mas repare V. Ex.ª que, efectivamente, é mais fácil desejarmos travar o aumento do custo de vida do que efectivamente consegui-lo.

E mais. Eu não penso que seja da melhor política uma solução que estagiasse por completo uma certa evolução dos preços. Um certo grau de inflação, desde que inferior à taxa de juro, pode ser útil ao desenvolvimento.

Repare V. Ex.ª que, este amo, por exemplo, as condições meteorológicas afectaram fortemente as possibilidades de produzir artigos agrícolas. Repare V. Ex.ª que no nosso caso a inflação tem várias origens. Tem origem, primeiro, na importação do estrangeiro, na transferência de rendimentos provenientes das despesas militares, nos reenvias dos emigrantes, nas receitas do turismo, e tudo isso cria uma situação extraordinariamente complexa que toda a boa vontade e leis não podem resolver facilmente. Direi mais. Porventura estamos a abusar das importações para tentar evitar ou travar a subida dos preços, e isto porque prejudica a produção interna. É uma arma de dois gumes.

O Sr. Albino dos Reis: - Apoiado!

O Sr. Camilo de Mendonça: - É claro que é dolorosa a posição, compreendo-a e dói-me. Mas eu queria, pela minha pouca experiência -, ou alguma, na matéria, chamar a atenção de V. Ex.ª e dei Câmara para a circunstância de que travar a marcha dos preços não se pode pôr como objectivo estático e não é tão fácil consegui-lo como parece, embora o Governo o procure ardorosa e firmemente.

O Orador: - Eu agradeço muito ao Sr. Deputado Camilo de Mendonça as explicações que fez o favor de dar e não sei se reparou que eu, quando fadei em congelar preços e salários, disse por período que fosse ponderado. Mas adiante; eu não me esqueço da evolução da inflação e da sua repercussão nos países externos, pois. infelizmente, é um mal geral e que tinha, forçosamente, de se repercutir num país de economia muito mais débil, como a portuguesa. Mas eu adiante foco esse ponto.

De qualquer maneiro, agradeço a intervenção de V. Ex.ª E mais: tenho muita satisfação e muito prazer na sua intervenção e ma de todos os Srs. Deputados cada vez que eu falo. Estou sempre pronto para atender e responder, quando souber.

Há um provérbio que Gandhi citava frequentemente e que diz:

O homem é o que come.

Mas Alexis Garrei dizia de forma menos sintética:

Os que conquistam, comandam e combatam alimentam-se principalmente de carne e de bebidas fermentadas enquanto os pacíficos, os fracos e os passivos se alimentam de leite, legumes, frutas e cereais.

Perdoe-se-me este derivativo.

Todavia, juntaria a este apelo um outro que diz respeito as rendas de casa. Estornos, nesta matéria, em fase de verdadeira loucura. Não tenho outra palavra para classificar o que se passa. Construções modernas, ou antigas onde vaguem apartamentos, pedem-se rendas absolutamente inacreditáveis, mantendo-se anos por alugar, com prejuízo da população, à espera de rendas escandalosas. Por outro lado, rendas anteriores a 1942 são, face à carestia da vida, de montante ridículo, mão pagando os encargos de conservação dos prédios, se os proprietários realmente os conservarem. Estou a vontade para fazer esta afirmação, porque pessoalmente, em Lisboa, sou apenas inquilino e de renda antiga, reconhecendo que não é justo pagar alugueres que são ruinosos para os senhorios.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Quanto ao indecoroso exagero das rendas modernas, autêntica especulação desenfreada, afigura-se-me que a Administração deveria debruçar-se a sério sobre o problema, tentando encontrar solução que, sem deixar de ser justa para os proprietários, permita encontrar habitação a preços compatíveis, designadamente para as famílias numerosas que dificilmente se instalam com decência e sem promiscuidade.

O recente desfazer dos grandes impérios com base em territórios afaçamos, como a França, Inglaterra e Bélgica, por moto próprio ou abdicação, para alguns ainda incompreensível, quando a evolução tecnológica, a prosperidade económica e, até, a independência política, como já aqui afirmei, anais dependem das dimensões geográficas e humanas - não se minimizam os recursos naturais, a capacidade técnica e científica - deu a Portugal uma projecção inesperada, de que resultou, em. grande parte, o assalto subversivo de que tem sido vítima.

Na minha primeira intervenção na Assembleia Nacional, ainda em 1969, e a propósito da Lei de Meios para 1970, fiz algumas afirmações, ou melhor, prestei certos esclarecimentos que reputei úteis a alguns que, por outras preocupações, andariam 'algo divorciados da forma como se processava, no aspecto económico e de fomento, a luta que somos forçados a defrontar nas três províncias de África, tão desumanamente castigadas pelas forças do mal.

Tudo o que então disse continua absolutamente de pé. Só com a diferença de que decorreu quase ano e meio e os números que então avancei sobre meios de pagamento em poder do público, designadamente os resultantes das pensões deixadas na metrópole pelos militares que exerçam missões de soberania no ultramar, são hoje muito mais elevados. E o aumento do consumo interno é claramente elucidativo sobre o poder de compra que se processa no País mercê de várias razões, entre as quais não deixam dia pesar os meios de pagamento a que me referi. Só em tecidos e malhas, por exemplo, atingiu níveis nunca alcançados.

Interessa igualmente relembrar que uma boa parte das dezenas de milhares de homens que anualmente são incorporados nas forças armadas recebem uma preparação escolar e especializada que corresponde a com plano de fomento humano, despretensioso, mas válido", como então o qualifiquei. E que entre muitos outras merece particular