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1822 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 92

Uma das razões será evidentemente o nosso grande atraso económico-social, mas a outra, talvez a mais importante - ainda que corolário, em certa medida, da anterior -, é que, ao contrário daqueles países, vemo-nos forcados a empenhar no esforço militar percentagem muito superior da nossa mão-de-obra activa.
Mesmo uma nação como a Austrália, com um continente inteiro u sua guarda, com população pouco superior à do Portugal europeu, participando ainda em operações no Vietname, ocupa no serviço militar percentagem muito inferior da sua população, embora lhe destine um volume de recursos muitíssimo superior.
Na realidade, em 1970, a Austrália afectou ii defesa verbas da ordem, dos 35 milhões de contos, mas, em contrapartida e mercê precisamente dos meios materiais de que assim dispõem as suas forçais armadas, utiliza muito menos de metade dos efectivos que nós necessitamos.
Os problemas, é verdade, não são iguais, mas o contraste é bem flagrante.
Ainda há pouco o País pôde certamente aperceber-se, através da exposição clara e autorizada do general comandamte-chefe das Forças Armadas em Moçambique, da importância e da vantagem da melhoria da mobilidade, quer táctica, quer estratégica, na economia não só de tempo como também de energias humanas.
Evidenciou, por outro lado, essa exposição como um reorudescimento da nossa actividade operacional conduz, no fim de contas, a uma redução das perdas humanas motivadas pela subversão, as quais, nos casos descritos, chegaram a baixar para a ordem da terça parte.
Parece, portanto, evidente que neste domínio haverá ampla matéria para reflexão e também para úteis e urgentes ajustamentos.

O Sr. Camilo de Mendonça: - V. Ex.ª dá-me licença?

O Orador: - Faz favor.

O Sr. Camilo de Mendonça: - Estou a ouvi-lo com o maior interesse, e têm a maior importância as considerações que V. Ex.ª está a fazer. É que tenho a impressão de que nem toda a gente se dá conta de que se não foram as despesas militares a que somos forcados em África, pouco menores poderiam ser as nossas despesas militares por força das obrigações da N. A. T. O. Eu creio que este ponto referido por V. Ex.ª é extraordinariamente importante e por isso o ouvi com muita satisfação e me julguei no dever de o acentuar.
Sobre outro ponto, se V. Ex.ª me permite, eu queria fazer uma observação. É que em relação à afirmação do Sr. Comandante Militar em chefe de Moçambique há também uma observação a fazer: é que essa mobilidade, se possibilita uma redução de homens, conduz a um aumento de despesas. E é cloro também que essa mobilidade, que aquele nosso valoroso comandante pode por em prática, conseguiu-o, na medida em que lhe deram maiores meios materiais para a poder processar. Há assim uma opção que teremos de fazer nesse aspecto: entre os homens que dispomos e os meios que temos de investir. Uma coisa sem a outra poderia parecer que se poderiam fazer morcelas sem sangue.

O Orador: - Muito obrigado pela sua intervenção, Sr. Engenheiro Ramiro de Mendonça. E como eu já tive ocasião de dizer várias vezes, arama época, como esta, dominada por técnicas evoluídas, com emprego de computadores, e que adoptam o nome de investigação operacional, julgo que seria exactamente uma matéria para ser encarada por essa perspectiva e ver qual seria a optimização dos resultados no plano de economia.
Este (mesmo problema, se pode colocar, em termos gerais, em relação a toda a máquina da nossa administração pública.
Diz-nos o parecer que os servidores civis do Estado eram, em 1968, de cerca de 160 000, havendo ainda mais de 10 por cento de lugares vagos.
Se consultarmos as listas das grandes empresas mundiais, verificaremos que este número só é excedido por 9 ou 10 de entre as maiores.
Ora, é já lugar comum afirmar-se que a sua prosperidade e eficiência estão Intimamente ligadas ao cuidado que dedicam aos seus problemas de pessoal.
Em estudo difundido por um destes autênticos impérios dos novos tempos, chamava-se a atenção para este ponto: tentava pragmaticamente avaliar-se quanto custaria reconstituir o potencial humano de uma empresa, chegando a cifras enormes para exprimir o seu valor económico, e concluía-se por afirmar que um chefe que conseguisse melhorar a capacidade de produção e, portanto, o valor do seu pessoal em apenas 5 por cento, duplicaria, por esse simples facto, o lucro líquido do seu departamento.
Por terem bem claras estas noções, todas as empresas pesam seriamente o prejuízo que para elas representa a saída do seu pessoal qualificado e, em geral, a perda de interesse ou de motivação dos seus servidores, para impedirem aquilo a que alguém já chamou, com ironia mas com muita propriedade, a «reforma no efectivo», isto é, a situação daqueles que estão fisicamente presentes, mas não produzem.
O Estado pressiona - e muito bem - as actividades privadas para que se actualizem rapidamente nos métodos e processos de trabalho e nos conceitos que orientam a sua gestão, com a finalidade de as fazer alcançar níveis de produtividade que assegurem justa e estimulante remuneração, quer ao capital, quer ao trabalho. Não será, por consequência, razoável e. mais do que isso, absolutamente inadiável, empreender uma pronta e corajosa reforma que proporcione à máquina do Estado os meios e o vigor necessários para que seja um mais activo dinamizador do desenvolvimento do País?
Por mim, creio-o sinceramente, pois penso que a verdadeira causa das nossas dificuldades económicas está mais no atraso das mentalidades e na mediocridade de conceitos do que propriamente na pobreza dos recursos materiais com que Deus nos dotou.
Perante uma das clássicas crises de desemprego ninguém discutiria que entre as primeiras e mais imperativas das providências estaria, com certeza, a de dar sem demora trabalho aos desempregados.
Pois eu direi que quando nos encontramos numa situação como a actual, que, para o mundo em que vivemos, representa uma crise algo similar, uma crise crónica de progresso, porque tem na base uma crise endémica de produtividade, as mais imperativas e urgentes das medidas serão aquelas que visem vencer este «desemprego invisível», que entorpece e emperra a nossa economia e a nossa administração.
Se víssemos atingida pelo desemprego metade da população portuguesa, consideraríamos isso - e com toda a razão - uma trágica calamidade, perante a qual não hesitaríamos em agir pressurosamente e sem contemplações, em obediência às mais sãs e comezinhas exigências de ordem social.
Pois, em termos de produção, existe entre nós calamidades paralela, ainda que disfarçada ou diluída sob a