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28 DE JULHO DE 1971 2577

Guiné acerca da triste data que ontem passou, aniversário do desaparecimento dos nossos quatro colegas em visita de estudo àquela província. A imprensa de hoje noticia também que foram ontem celebradas na cidade de Bissau exéquias sufragando os nossos colegas falecidos. Espero ter a concordância e o apoio de VV. Ex.ªs para exprimir ao Sr. Governador da província da Guiné o nosso reconhecimento pelas atenções dispensadas à memória dos Deputados que, ao serviço da Assembleia e da Pátria, perderam a vida naquela província.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Camilo de Mendonça. Como estou ao corrente do assunto de que S. Ex.ª se deseja ocupar, e considero que a dignidade dele é compatível e exige mesmo o relevo do lugar, peço a S. Ex.ª o favor de subir à tribuna.

O Sr. Camilo de Mendonça: - Sr. Presidente: Faz hoje um ano que o Senhor foi servido de chamar à Sua presença quem foi um dos maiores portugueses de todos os tempos: o Prof. Doutor António de Oliveira Salazar.
E quase cumpridos são três sobre o momento em que a doença quebrou a indómita vontade do Doutor Salazar, prostrando-o de forma a impedir o seu regresso às funções que tão indelével e austeramente exercera por algumas décadas.
Foram primeiro momentos de angústia e de dor, foram depois momentos de profundo e recolhido pesar para todos os portugueses. Foi Portugal que comungou do seu sofrimento, foi Portugal que serena e univocamente tributou respeitoso preito de homenagem ao eminente estadista que moldou e caracterizou uma larga época da nossa longa história.
Se seria injustificável que, estando em funcionamento esta Câmara, se não secundasse a iniciativa do Governo recordando, aqui e desta tribuna, a efeméride e a personalidade ímpar do Doutor Salazar, é manifesto que é particularmente difícil fazê-lo enquanto o tempo não emprestar à sua figura a inteira dimensão histórica, ultrapassadas as contingências da vida diária e as vicissitudes de toda a acção humana.
Seria despropositado pretender fazer a sua biografia, de que, aliás, está incumbido um ilustre mestre de Coimbra, grande tribuno parlamentar e antigo Ministro, seria descabido tentar um esboço do seu pensamento político, seria impensável ensaiar uma avaliação dos resultados da sua actuação.
Demais, aos grandes homens deve-se a sobriedade respeitosa, já que o talento e a virtude são sempre simples, expressivos e exemplares, já porque o respeito que lhe devemos depois de morto não pode ser menor do que aquele que lhe tributáramos em vida, como muito a propósito anotou desta tribuna o Sr. Presidente do Conselho, a respeito do Doutor Salazar.
Sr. Presidente: Faço parte de uma geração que nasceu para a vida já na época de Salazar e que se moldou sob o forte impulso da sua extraordinária personalidade.
Pertenço ao número dos que por diversas formas e em diferentes oportunidades deu o seu modesto concurso à sua obra e à sua pessoa. Más incluo-me também entre os que não ficaram a dever nada, absolutamente nada, material ou politicamente, ao regime que criou e dirigiu. Só assim sei, de resto, colaborar em dádiva plena e independência inteira.
Posso deste modo recordá-lo com isenção e sinceridade inteiras.
Mas recordá-lo é fazer a história de quase meio século, rever e apreciar acontecimentos e pessoas, relembrar e analisar o comportamento de uma sociedade ë das suas instituições, quando a sua figura está ainda próxima de nós, não deixou de pairar no nosso viver diário, de pesar nas nossas estruturas, de influir no nosso proceder quotidiano.
Seria fazer a história com paixão, sujeitar a sua personalidade a controvérsias, discutir o seu lugar entre os grandes da nossa história ...

O Sr. Veiga de Macedo: - Muito bem!

O Orador: - Abster-me-ei de cair nesses pecados por respeito pela sua estatura de estadista, dos poucos que entrou na história ainda em vida, como raramente acontece no suceder dos séculos.
Mas tal não impede, antes postula, que observe e proclame que o Doutor Salazar não é pertença de um grupo, de uma classe, de uma casta ou de um partido, mas património de todos os portugueses.
Muito bem!

O Orador: - Daqueles que com ele colaboraram, daqueles que o apoiaram, daqueles que dele discordaram e até daqueles que o combateram, de todos os portugueses.

O Sr. Veiga de Macedo: - Muito bem!

O Orador: - Só deste modo poderemos começar a dar-lhe a perspectiva histórica a que tem jus, a definir os contornos da verdadeira dimensão da sua personalidade ímpar, a pesar a intensidade da sua vigência política caracterizando uma época com paralelo apenas com três outras afastadas por dois séculos de intervalo.
O Doutor Salazar é património do País e, como tal, cumpre a todos os portugueses, ultrapassadas as contingências de actuação política concreta, guardá-lo e defendê-lo. Não é pertença de um grupo, ainda que de amigos ou admiradores incondicionais, mas de todos, absolutamente de todos os portugueses, como o Mestre de Avis, como o Infante, como o Príncipe Perfeito.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Por mim, e neste momento, pretendo evocar com profunda saudade e maior respeito a personalidade do Doutor Salazar e recordar ainda que num dos momentos politicamente mais conturbados do Regime, nos começos de 1949, quando uma tão emocional como perturbada campanha eleitoral se desenrolava, um grupo de jovens lançou uma campanha sob a invocação de «Rumo ao Futuro», que concluiu, sob a presidência de Marcelo Caetano, como senda e sinal dos tempos vindouros: para além de Salazar - o espírito de Salazar.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - E concluo, com alguma ponta de orgulho e mais satisfação interior, dando-me conta de que tantos tenham sabido ser fiéis aos princípios proclamados e às posições tomadas, mas também imunes à corrosão do tempo, talvez como testemunho da perenidade da doutrina.

Vozes: - Muito bem!