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3620 DIÁRIO DAS SESSÕES N. 184

Se há uma dádiva ao Mundo e este a recebeu com cortesia, entre Portugal e o Brasil ficou renovada a transfusão de forcas espirituais, simbolizada no queimar das naus e sempre vivificadora como hoje se espera da jornada de mais um glorioso almirante prestes a aportar a terras de Santa Cruz.

Vozes: - Muito bem !

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Prabacor Rau: - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Ao tomar a palavra neste areópago da consciência nacional, a voz embai-ga-se-rne de còmoçíio ao recordar feitos gloriosos dos meus irmãos portugueses.
Na verdade, para lá dos mares, o nosso grande irmão brasileiro faz cento e cinquenta anos de vida própria.
E o português, o mais humano de todos os colonizadores, revé-se jubilosrmentei na obra que criou. E fá-lo com orgulho desmedido.
O seu venerando Chefe de Estado entrega pessoalmente ao grande país da América os despojos do seu primeiro imperador, que foi também rei dos Portugueses.
Mus, para além de todos os gestos oficiais, está a voz do sangue comum, o sentimento comum que, quer queiram quer não, une e unirá para sempre o coração dos dois povos. O brasileiro não é mais do que o português das Américo, e o português, o brasileiro europeu. Confundem-se os dois. Os dois no fundo silo um só, da mesma raça, da mesma língua, dos mesmos costumes, da mesma crença. Daí a comunidade luso-brasileira ser, desde sempre, um facto no coração de ambos. Os Governos limitaram-se a oficializá-la.
Becordemos 1922.
Dois jovens navegadores aéreos propõem-se atravessar o Atlântico Sul. E o país escolhido para a chegada é esse Brasil que todos trazemos no coração.
Vivem-se horas inesquecíveis. Na imensidade atlântica, no balbuciar da aviação, dois moços aventuram-se e partem em busca dos seus irmãos do outro lado do grande mar.
E estes vivem o momento tão intensamente como os que estão neste areal europeu. Batem em uníssono os corações tanto dos que os viram partir como dos que os esperam ansiosamente. Corações portugueses e corações brasileiros. Corações comuns.
E, tal como séculos atrás, desafiando o desconhecido e a aventura, os dois intrépidos marinheiros põem pá em terra brasileira.
À voz do sangue rompe todas as barreiras que, porventura, se possam levantar, para aplaudir, em delírio, esses irmãos que chegam pelo ar e que, com um voo balbuciante uniram ainda mais as duas pátrias irmãs e estreitaram o cornçílo de uma ao coração da outra.
Pensamos que esta amizade é úrtiça no Mundo. Este sentimento de afecto que une dois povos não me parece ter paralelo na história da Humanidade. Brota espontar o da alma e do coração de cada um deles.
O Chefe do Estado do mais velho por lá se encontra. Marinheiro também, consigo irão as caravelas de Quinhentos que dilataram a fé e trouxeram para o convívio humano povos de continentes diferentes com quem o Português se amalgamou e a quem transmitiu a sua bondade, o seu amor a terra, a ternura que sempre lhe inundou o coração.
Com o venerando Chefe do Estado vão todas as virtudes de um povo de marinheiros. Vão os colonizados do Brasil e vão também os que o transformaram numa das maiores potências das América; vão os missionários e os que fizeram dessa terra a maior comunidade
cristã do outro lado do Atlântico; vão as raízes lusíadas e o sentimento generoso do nosso povo; vão as virtudes e as que transmitimos. Vai com ele Portugal no seu todo.
Mas o que queria hoje recordar nesta Câmara era, acima de tudo, a viagem dos dois portugueses a terras de Santa Cruz. E se procurei relacioná-la com as realidades de hoje e, por outro lado, recordei os nossos antepassados, foi porque o sentimento de que estavam possuídos uns e outros era o mesmo.
Sou de uma terra longínqua, que teve o privilégio de conviver durante séculos com os Portugueses na melhor das harmonias. E hoje, ainda, os nossos corações batem em uníssono. Estou, portanto, à vontade para falar. O que digo não tem segundo sentido. E a expressão da verdade.
Sei o que representa para os Portugueses e para os seus irmãos o sentimento da unidade nacional.
Foi esse em-timenito que mão fragmentou a vasta tenra brasileira e une, como um só povo, os que vivem à sombra da gloriosa bandeira verde-rubra.
Foi esse sentimento que nos projectou no passado e será ainda ele que nos projectará no futuro, fazendo deste pequeno povo europeu um grande povo espalhado pelo Mundo.
E ao recordar o abraço fraterno desses moços de há cinquenta anos, quando a aviação era ainda uma aventura e a coragem, como sempre, a nossa única esperança, digo, recordar esses moços é recordar todos os heróis desta pátria única, é prestar homenagem a Portugal e ao Brasil.

Vozes: - Muito beml!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Martins da Cruz: - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Não sei se será coerente subir a esta tribuna para juntar a minha voz, voz modesta, a tantas que no nosso Portugal de aquém e além-mar e no Brasil têm exaltado com raro brilho, antes e agora, o feito heróico de Gago Coutiuho e de Sacadura Cabral.
Mas como dizia nesta Casa, em 1958, o seu eminente Presidente, Sr. Conselheiro Albino dos Beis, «erguer perante o País, no alto relevo a que têm direito, os vultos dos grandes homens que ao longo da história nacional mais vincadamente encarnam e representam o seu génio e são garantia da sua imortalidade é uma acção de maior interesse para a tonificacão do espírito nacional».
Daí eu secundar os ilustres colegas que me antecederam e dizer-lhes a razão da minha intervenção.
A quantos de nós um facto relevante ocorrido na meninice nos leva pela vida fora a sonhar nós a realização de grandes feitos em que sejamos, também, os protagonistas? E que tamanha influência esse facto pode ter quando contado com a exaltação natural, de epopeia acabada de viver, pêlos nossos primeiros mestres?
Foi precisamente essa salutar influência que senti então e sempre que se falava da primeira travessia aérea do Atlântico Sul realizada por Gago Coutinho e Sacadura Cabral.
Se os feitos históricos dos nossos antepassados me absorviam e me faziam exultar de orgulho, vivamente sentido, com os batalhas em que saíamos vencedores, nos descobrimentos empolgavam-me sobretudo as aventuras que eu vislumbrava na conquista de novas terras e novas gentes.
Mas este feito de 1922 foi mais vivido por mim; conhecia os seus intervenientes, estavam à minha beira, existiam.
Daí a minha identificação com o facto, daí a minha acção contemplativa directa. Dal, consequentemente, a