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3910 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 198

Eu dizia aqui que, na maioria, melhor, em muitos casos. Pode crer V. Exa. que quando escrevi isto senti bastante a responsabilidade do que estava a escrever, e só um facto muito recente me levaria a fazer esta afirmação. Não queria alargar-me em pormenores, mas o que se passou há cerca de um mês no Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras ...

O Sr. Almeida Garrett: -Isso foi a demissão da própria autoridade da Universidade!

O Orador: - Ora aí está! Estamos plenamente de acordo.
Garanto-vos: nem que fosse apenas contínuo daquela casa, quanto mais director ... Se fosse director daquela casa nada daquilo se tinha passado e a Universidade hoje estaria tranquila.
Agora, o que eu garanto a V. Exa. é que não é o Ministro Veiga Simão que quer desautorizar a Universidade. Pelo contrário, tem feito tudo o que lhe é possível; eu não sou procurador dele . . .

O Sr. Cunha Araújo: - Nunca, isso fui posto em dúvida nesta Assembleia!

O Orador: - Exacto . . . exacto. Portanto, ele tem feito tudo o que lhe tem sido possível para prestigiar a Universidade, como bom professor universitário que é.

O Sr. Casal-Ribeiro: - V. Exa. dá-me licença?

O Orador: - Faça favor, Sr. Deputado.

O Sr. Casal-Ribeiro: - Eu era só para recordar uma coisa- a V. Exa. Não sei se ouviu outro dia a alocução que fez ao País, melhor dizendo, aos universitários, o Sr. Secretario de Estado da Instrução e Cultura?
Olhe que ele não era bem da opinião de V. Exa. O Sr. Secretário de Estado, que tem prestado ao País grandes serviços, quer no lugar em que está há tão pouco tempo, quer naquele outro que ocupou no Ministério das Finanças; pois ele ameaçou claramente de represálias se realmente os estudantes não cumprissem aquilo que era o seu dever.
Parece-me que V. Exa. esta a levar longe de mais a defesa de uma pessoa que não foi aqui atacada. Eu não ouvi atacar aqui o Sr. Ministro Veiga Simão.
Agora o que não há dúvida nenhuma é que o Sr. Secretário de Estado da Instrução e Cultura disse qualquer coisa de muito sério e de muito grave no que se refere à forma como os estudantes estavam a reagir ao enorme trabalho feito pelo Sr. Ministro Veiga Simão e pelo Ministério. Portanto, V. Exa. não está completamente na razão.

O Orador: - Em primeiro lugar, não estou a defender ninguém. Estou, quando muito, a expor as minhas ideias.
Em segundo lugar, não creio que o Sr. Dr. Costa André tenha qualquer obrigação de seguir as minhas ideias nem eu as dele.

O Sr. Casal-Ribeiro: - Mas é o responsável, Sr. Deputado.

O Orador: - Pois é. E eu também sou.

O Sr. Casal-Ribeiro: - Somos todos.

O Orador: - Somos todos, de facto. Estamos de acordo.

O Sr. Casal-Ribeiro: - V. Exa. até é triplamente responsável.
É Deputado, é homem inteligente e é de bem e não se esqueça que é presidente de uma comissão para o ambiente. Portanto, deve ser contra a poluição (risos) das ideias, dos homens e da Universidade.

O Orador: - Eu pensei que V. Exa. ia referir a minha condição de pai de dois universitários.

O Sr. Casal-Ribeiro: - É mais uma. São quatro responsabilidades.

O Orador: - Se me dessem licença, eu continuava. O Antídoto só pode ser encontrado na reacção gerada entre os próprios estudantes (é esta a minha opinião), sempre que lhes for dada a oportunidade de se sentirem co-responsáveis pela orientação da sua própria Universidade. E aqui volto a encontrar-me com o Prof. Almeida Garrett, porque não são só os professores, são os estudantes, todos eles fazem parte da Universidade e nós gostaríamos que ela fosse qualquer coisa de organizado. A apatia em muitos casos não traduz cobardia, mas desinteresse. E esse sentimento não grassa, infelizmente, apenas entre os estudantes; muitos de nós, cidadãos deste País, continuamos diariamente a lavar as mãos como Pilatos, considerando que os problemas, desde que nos não digam directamente respeito, hão-de encontrar sempre quem os resolva.
Desta passividade, inculcada ao longo de muitos anos de governo autoritário, estamos agora, em vários sectores da vida nacional, a colher os frutos. Amargos frutos.

O Sr. Casal-Ribeiro: - Não apoiado.

O Orador: - Mas não é com pensamentos melancólicos que poderemos fazer alguma coisa. O País precisa da elite que frequenta as Universidades como de pão para a boca. Vamos deixá-la trabalhar, vamos prestigiá-la, vamos ver nela o melhor penhor da nossa continuidade como povo e como nação. Para tonto, advogo a expulsão pura e simples de todos os pseudo-estudantes que tenham dado provas sobejas de quererem fazer tudo menos escutar . . .

Vozes: -Muito bem!

O Orador: - ... e de todos os pseudo-professores que tenham demonstrado desejar fazer tudo menos ensinar.

Vozes: - Muito bem! Muito bem!

O Orador: - Não admito que, por causa de uma minoria, o esforço do Governo para arrumar a casa seja constantemente sabotado; assim, como me repugna aceitar que uma Universidade bem dirigida tenha de recorrer às forças da ordem para poder garantir o clima de trabalho indispensável a prossecução dos seus fins.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Continuo a depositar nos estudantes - nos estudantes, repito - as melhores esperanças. O seu inconformismo, a sua generosidade, representam uma força poderosa; se for devidamente orientada, podemos encará-la como o meio mais eficaz de transformar, para melhor, a sociedade em que vivemos.

Vozes: - Muito bem!