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9 DE DEZEMBRO DE 1982 811

positivos? Era tão bom vê-lo ai a defender uma política social, como a política social do Partido Socialista Francês... Que bom que era!...

O Sr. Silva Marques (PSD): - Posso interrompê-lo, Sr. Deputado?

O Orador: - Faz favor, desde que não conte no meu tempo.

O Sr. Silva Marques (PSD): - Não falei na política do Governo socialista -comunista francês com a ideia de retirar a discussão do nosso pais. Mas se VV. Ex.ªs falam, então também há razão para nós falarmos. Mesmo que VV. Ex.ªs não falassem, havia razão para nós falarmos, porque já não tinha sentido um problema do nosso país isolado do mundo.
Mas ê só para lhe exemplificar que a forma de questionar exige algum rigor.
Repare: V. Ex.ª criticou-nos por não termos um plano democrático, ou por não darmos a importância...

O Orador: - E têm, Sr. Deputado? É que não têm!

O Sr. Silva Marques (PSD): - Sr. Deputado Almeida Santos, na conjuntura internacional é assente que a visão que se tinha do plano está alterada. E a prova é que se não fizermos uma adaptação da concepção de plano à conjuntura e até à estrutura actual acontece o mesmo que aconteceu aos socialistas e comunistas franceses, pois neste momento o seu plano intercalar - o Sr. Deputado Manuel dos Santos está desactualizado, pois não se trata de um plano de médio prazo, é, sim, um plano intercalar da autoria do Ministro Rocard - prevê um crescimento da economia francesa de 3% por ano e o objectivo do Governo Francês para o ano que vem é de 0,5% de crescimento.

O Orador: - Sr. Deputado, nenhum de nós considera grave que um país ou um governo, em função das alterações de conjuntura, altere os objectivos do seu plano. Grave é não haver plano e essa é a nossa situação.

Vozes do PS: - Muito bem!

O Orador: - Referiu também o Sr. Deputado que eu afirmei que a AD quer liquidar as empresas públicas, mas não fundamentei. Não preciso de fundamentar, pois foi o Sr. Vice-Primeiro-Ministro que o disse muito claramente ao povo português. Não tenho que fundamentar as afirmações do próprio Governo.
Por outro lado, disse que a esperança não está proibida. Pareceu-me que não estaria proibida até ontem. Mas ontem o Sr. Ministro das Finanças proibiu-a.

O Sr. António Vitorino (UEDS): - Muito bem!

O Orador: - O Sr. Ministro das Finanças fez ontem aqui, para um povo que precisa de ânimo, o discurso mais descoroçoante e mais desanimador a que já pude assistir. O Sr. Ministro das Finanças definiu-se aqui ontem como um excelente e sério técnico, mas como um horroroso político.
Este país precisa de ânimo, ele fez um discurso de pássaro morto. Apeteceu-me dizer-lhe daqui: Sr. Ministro, levante voo, anime o povo português, precisamos de ânimo, de entusiasmo, diga onde é que temos de trabalhar mais e consumir menos,...

Aplausos do PS e da UEDS.

...faremos isso se no-lo pedir com convicção. Não nos diga que não há solução, «porque nem os Franceses resolveram como é que nós podemos pensar alguma vez em resolver». Não aceito este tipo de argumentos. Isto é a demissão!

A Sr.ª Teresa Santa Clara Gomes (UEDS): - Muito bem!

O Orador: - E quando nos vêm dizer que o governo socialista, apesar de tudo, fez um brilharete porque a conjuntura lhe era favorável, não é tanto assim. Vimos ontem aqui que tivemos que enfrentar o aumento dos preços do petróleo que apenas se considerou equivalente à valorização do dólar. Portanto, estamos quites: o petróleo não subiu, o dólar não tinha subido -está a subir agora, mas não subiu o petróleo.
Mas, Sr. Deputado, o problema é este: se o Governo reconhece que só é bom em situações de euforia económica, então mais uma razão para se ir embora, porque não estamos numa dessas situações.

Aplausos do PS e da UEDS.

O Sr. Deputado Fernando Cardote disse que há pessoas que vão para a Suíça depositar dinheiro porque a taxa de juro não ê suficientemente alta. Tecnicamente é assim; do ponto de vista técnico e financista é assim. Reconheço que as taxas de juro são negativas. Só que há uma coisa que evita que se vá à Suíça: é o investimento, e nada se faz para que se invista.

O Sr. António Janeiro (PS): - Muito bem!

O Orador: - Defendeu, também, a Sr.» Thatcher. Não poderia esperar que fizesse outra coisa, fê-lo muito bem e disse até que ela tem controlado relativamente a inflação - 8% para a Inglaterra não é exaltante -, mas queria dizer-lhe, de qualquer modo, que se a opinião pública não é inteiramente desfavorável à Sr.» Thatcher, talvez devamos encontrar explicação disso na guerra das Malvinas e não em nenhum aspecto da sua governação política.

Vozes do PS e da UEDS: - Muito bem!

O Sr. Fernando Cardote (PSD): - Já o era antes!

O Orador: - Disse o Sr. Deputado Pinto Nunes esta coisa espantosa: que as minhas teses foram ontem rebatidas, ao que parece por antecipação, pelo Sr. Ministro das Finanças, e depois disse que nada mais há a dizer dixit. O Sr. Ministro das Finanças dixit e nada mais há a dizer.
Ora bem, não aceito esse capitulacionismo, nem o seu nem o do Sr. Ministro das Finanças. É verdade que o Sr. Ministro das Finanças veio ontem dizer que não só nada mais havia a dizer, mas que nada mais havia a fazer senão aguardar que a conjuntura internacional melhore, aguardar que tenhamos um pouco mais de sorte e, entretanto, que o povo tenha a resignação do próprio Sr. Ministro. O povo não quer ministros que o convidem à resignação, que o convidem ao desespero.