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29 DE JANEIRO IDE 1985 1745

A força telúrica dos seus recursos, dos seus valores, anseia por aflorar com a grandeza e arrebatamento que a necessidade impõe como uma fatalidade de um destino que tem que ser cumprido.
O Brasil é grande. O Brasil será eternamente grande, porque grande é o seu espaço, maior a alma do seu povo, indomável a sua vontade, enorme o seu talento.
Pressinto e sei que o Brasil, desde o engenho à usina, vai entrar num trabalho trepidante, contínuo, aliciante.
Haverá nele uma mensagem de um humanismo exigente.
«Muda Brasil» não será expressão perdida. Ela tem o sinete de um homem que sabe «que toda a prosperidade será falsa enquanto houver um só homem sem trabalho, sem pão, sem tecto e sem letras».
Fazer, sentir, viver a democracia sob a pressão de tais preocupações é dar aos outros o testemunho vivo de uma solidariedade que não consente reservas.
Ao homem que vem para realizar urgentes e corajosas mudanças, quem haverá que lhe negue a sua disponibilidade, o seu contributo?
A sua rica experiência política, o conhecimento que tem dos homens e das instituições, a segurança e a coerência dos seus princípios, a amabilidade do seu trato, a firmeza das suas decisões, definidora de uma conduta, onde a inteligência e a competência se afirmam com invulgar relevo, são atributos que garantem a sedução do Brasil à obra que o espera.
Uma compatriota de V. Ex.ª, no jeito brasileiro de dizer coisas sérias com a graça de um sorriso, dizia que «Tancredo poderá ser a solução para a transição e a transição para a solução». Nesta expressão curta e concisa vai toda uma caminhada de recuperação que se traduzirá numa gesta heróica de que os brasileiros, (e nós com eles) se haverão de orgulhar.
Então terá surgido de forma plena e sem fissuras a democracia pensada para que se possa dizer com a comoção com que se recebe uma prenda desejada: «Bom dia, democracia.» «Sorri ao novo Brasil.»
E, estes slogans, que foram linhas de força de uma campanha eleitoral, receberão «o visto» solene de, «missão cumprida».
Será este o resultado das soluções que o povo brasileiro vai dar aos desafios que lhe são postos.
A tarefa é necessária, aliciantes são as metas.
Vamos viver o desenrolar desses acontecimentos, essa busca auspiciosa de soluções, com o sentimento fraterno que enleia os nossos corações, permanentemente alvoroçados pela estima comum. Por isso, «o nosso encontro aqui é um eloquente testemunho dessa esplêndida realidade».
Brasileiros e Portugueses unidos pela mesma fé, aquecidos ao calor de tantas glórias e triunfos, ávidos de projecção no mundo que nos rodeia, irmanados pelo sangue e pelo pensamento, estão dando conta de que para além dos tratados e dos acordos há uma força maior, perene, profunda, enorme que nos une num sentimento tão íntimo, tão nosso, que a vontade dos homens jamais poderá quebrar.
É, sobretudo, pelo impulso incontido desse sentimento, que me sinto à vontade para, neste encontro a que V. Ex.ª dá especial grandeza, lhe dizer que temos a certeza de que o Brasil rasgou caminho novo para a paz, para a grandeza, para a glória.
Estas as nossas certezas que o indomável querer dos brasileiros e a vossa firme vontade vão tornar realidades.

Aplausos gerais.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Presidente eleito dá República Federativa do Brasil, Tancredo Neves.

Aplausos gerais.

O Sr. Presidente eleito da Republica Federativa do Brasil: - Ex.ª Sr. Presidente da Assembleia da República, ilustres integrantes da Mesa directora, Preclaro Primeiro-Ministro e demais integrantes do Governo, Srs. Deputados: A honra que me conferis, qual seja a de falar do topo desta tribuna a este ilustre auditório nesta Casa, tão rica de tradições e tão edificante na sua história, eu recebo para transferi-la por inteiro à Nação de que tanto nos orgulhamos de pertencer.
Compreendo bem e avalio em toda a sua extensão a excepcional homenagem que se presta ao meu país, ao mesmo tempo em que me outorgais a distinção excepcional, mais rara do que excepcional, qual seja a de falar nesta Casa como se fosse um dos vossos pares, no que não encontro explicação senão no propósito generoso de todos vós de pretender distinguir um colega de além-mar, cujos 50 anos de vida pública - 50 anos ininterruptos foram, todos eles, dedicados quase que totalmente ao trabalho e à actividade parlamentar em serviço do seu povo.
Nunca compreendi distinção na luta de Portugueses e Brasileiros pela democracia. Por isso, neste instante secular da nossa história, este encontro é memorável, é deveras único, porque são duas nações que se encontram irmanadas pela história, mas que hoje se abraçam na plenitude do reencontro com os seus valores democráticos, os valores da sua tradição, os valores da sua história.

Aplausos gerais.

Ouvi, tomado do maior desvanecimento, as palavras que aqui se fizeram ouvir pelas lideranças mais representativas dos diversos seguimentos do pensamento político de Portugal, que, nesta hora, espelha e mostra ao Mundo a vitalidade da sua confiança nas suas instituições livres.
Muito no Brasil devemos, ainda neste particular e neste passo, ao exemplo de transição democrática que Portugal nos ensinou. Foi na sua última revolução que nós, Brasileiros, na oposição, encontrámos inspiração, alento e incentivo para que prosseguíssemos na nossa luta e nos pudessemos colocar, ombro a ombro, ao lado dos nossos irmãos portugueses.
A reconquista da democracia no Brasil não foi uma liberdade. Ela nos custou trabalho, ela nos custou sacrifício, ela nos custou um profundo empenho humano. Mas valeu a pena a luta, porque dela ficou para sempre gravada na consciência do povo brasileiro a certeza de que não vale a pena viver a não ser na plenitude dos valores democráticos e de que a nação que não sabe preservar os valores da dignidade humana não é digna de existir na face da Terra.

Aplausos gerais.

Meus colegas e meus irmãos portugueses, nós temos uma gratidão imensa a Portugal pelo muito que lhe devemos. A Portugal nós devemos tudo: o nosso sangue, a nossa história, as origens das nossas instituições livres, o espaço imenso que habitamos. Mas o que mais devemos a Portugal é essa obra memorável, a única existente no nosso século, que foi a de haver permi-