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I SÉRIE - NÚMERO 79

Pela gentileza da sua presença, aqui ficam os nossos sinceros agradecimentos.
Sr. Presidente: Somos um povo com uma história de muitos séculos, que «Entre perigos e guerras esforçado» soube construir corajosamente a sua identidade e ganhar o direito incontestável de marcar a sua presença no concerto das nações.
Demos um contributo valioso para o património da Humanidade, dando novos mundos ao Mundo e sempre soubemos, com galhardia, defender, preservar e continuar o que fomos construindo desde a penumbra dos tempos.
É esse património moral e humano que, enriquecendo os povos, nos dá autoridade para nos afirmarmos como Nação independente e livre. E é aqui, onde os representantes do povo têm assento, que sentimos mais fortemente o valor dessa independência, a força dessa vontade, que é soberana e o desejo de emancipação bem próprio dos homens livres.
É aqui, no calor das discussões, no frémito das polémicas, que se vem garantindo que os povos só são verdadeiramente livres quando aceitam, reconhecem e aplaudem a liberdade dos outros.
No mundo conturbado em que vivemos, apesar da paz que apregoamos, não raro se levanta neste hemiciclo a voz da crítica austera e cáustica contra todos quantos, no Mundo, se não sentem capazes de honrar e respeitar a liberdade e independência que aos outros pertence.

Vozes do PS e do PSD: - Muito bem!

O Orador: - Nessa atitude está todo o peso das concepções que defendemos e assumimos como deputados eleitos por um Povo que soube libertar-se das grilhetas do silêncio.
Fazemos parte de uma Europa que pretende ganhar confiança e vontade para se reconstruir por caminhos novos e diferentes. Porém, no momento, menos segura do seu futuro e mais centrada sobre os seus próprios problemas, parece perder a perspectiva do Mundo. Ela que é pensamento que nunca se contenta, que desfaz de noite a teia que tecera de dia para, com novos fios mais fortes e seguros, recompor a que lhe dará a segurança do amanhã, vive sob a tensão de um equilíbrio que tem constituído o seu tormento mas que é também a sua glória.
Esta complexa vivência da Europa repercute-se no nosso país com incidências preocupantes. Elas são, porém, o melhor acicate para congregar os povos e promover e garantir a unidade que se deseja.
Europa que pretendemos seja um grito desenfreado de vontade de liberdade! O mesmo que outrora quebrara por toda a parte os quadros sociais tradicionais, numa vontade louca de emancipação e cuja comoção, partindo da França, absorveu todos os povos que a constituíam e se comunicou à América do Norte com a força e o vigor que, de forma imparável, transforma os sonhos que se desejam em realidades que se vivem.
Então, na América, surgiu a Declaração dos Direitos do Homem e se firmaram os princípios em que devia basear-se a constituição dos estados.
Pelo impulso da filosofia dos direitos do homem e da constituição do Estado, Benjamim Franklin, promoveu a consciência nacional; Washington fortaleceu o Estado; Thomas Jefferson doutrinou os seus fundamentos e Abraham Lincoln que, pela força da sua sedutora humildade, cavou mais fundo e de forma segura os alicerces de um Estado poderoso de uma grandiosa nação.
A América apostou no triunfo, fez-se bandeirante da democracia, paladina da liberdade.
Liberdade que é fé combativa, força moral, crença no valor da pessoa humana e na necessidade da sua auto-realização.
Desde então, os Estados Unidos foram como que uma terra sonhada, o paraíso onde o impossível se tornava realidade. Porém, depois, parece ter existido uma certa desilusão porque nem a América, nem as instituições ocidentais, em geral, foram capazes de preencher aquelas esperanças, todos aqueles sonhos.
Entendemos, por isso, que a América e a Europa terão de fazer um esforço continuado, numa correspondência empenhada ao serviço do homem, no sentido da pessoa humana.
Sem tutelas, sem subserviências, sem abdicações, olhemo-nos cordialmente, frente a frente, olhos nos olhos, com a força moral que nos assiste, num empenhamento sem reticências, com uma disponibilidade sem reservas, para que entre iguais não haja «Uns que sejam mais iguais do que os outros».
Os tratados que subscrevemos, as alianças que respeitamos, são para nós as determinantes de um compromisso sério e de um comportamento bem definido.
Mas, para além da letra dos tratados, há um outro compromisso mais fundo, verdadeiro e real que integra os nossos povos num mesmo conceito civilizacional, numa mesma perspectiva histórica, em ramos diferentes de uma mesma cultura.
Por ele haveremos de ser julgados na solidariedade dos nossos propósitos. Propósitos de concorrer, de forma eficiente e eficaz, para a realização da justiça, da liberdade e da paz entre os povos e entre os cidadãos de cada povo.
Penso como Camus que, através dos cinco continentes, irá prosseguir nos anos vindouros uma interminável luta entre a violência e a palavra.
As possibilidades da primeira são mil vezes maiores do que as da segunda.
Sempre pensei, porém, que se o homem que confia na condição humana é um louco, o que desespera dos acontecimentos é um covarde.
Doravante, a única honra será a de manter, obstinadamente, o formidável desafio de decidir, enfim, se as palavras são ou não mais fortes do que a violência.
É V. Ex.ª presidente de uma forte e grandiosa nação que colocou o homem no limiar do espaço e que, em golpes de audácia, tem levado a inteligência à permanente conquista do desconhecido na rota do imprevisível.
Nesse esforço admirável de reduzir os mistérios, de clarificar o desconhecido, a América está a contribuir de forma decisiva para alargar os espaços da ciência.
É uma aventura maravilhosa, mas temo que, seduzidos pela maravilha da descoberta, esqueçamos a grandeza dos homens que nos rodeiam.
Li algures que, hoje, raramente se pergunta o «Porquê» e até nem o «Para quê», já que somos tomados pela preocupação de saber o «Como» e se «Funciona bem».
O homem, transformado num domador de máquinas, corre o risco, como amiúde sucede aos domadores, de ser por elas devorado.