O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

3050

I SÉRIE - NÚMERO 79

A vossa aventura é importante para o nosso século, um século com tantas promessas e tantas tragédias. Devo afirmá-lo com severidade: acabo de ver lugares que nos recordam a destruição e o mal que o ódio humano pode causar.
Mas aqui no novo Portugal e por toda a Europa vemos a promessa do nosso século, uma promessa não só de progresso material - uma época em que os inimigos de há muito da Humanidade, a fome, a doença, e a pobreza, serão coisas do passado -, mas vemos igualmente a promessa de progresso no espírito humano, um progresso conducente ao dia em que todos os homens, mulheres e crianças da terra viverão em liberdade e terão o direito de se pronunciarem sobre o seu próprio destino.
Assim, nesta etapa final da nossa viagem pela Europa, uma viagem ao futuro bem como ao passado, permitam-me dizer-lhes o que penso ter descoberto. Quer a consideremos uma verdade revelada ou apenas uma grande história, nós aprendemos no génesis que existiu uma época em que a humanidade viveu em harmonia consigo própria e com Deus. Já alguém disse que o significado da história se encontra na história revelada do nosso regresso a essa época - um regresso doloroso e por vezes interrompido por desgraças e sofrimento. Por agora, deixarei tais pensamentos para os teólogos e historiadores. Mas o que sei é que tenho visto nestes últimos dias lembranças da tragédia e da grandeza do nosso tempo: ouvi a voz do século XX. É a voz da humanidade que se ouve em todos os séculos, em todas as épocas. E as palavras são inequívocas; elas evocam em nós a angústia, mas também a esperança: que as nações vivam em paz entre si. Que os povos mantenham a solidariedade que Deus preconiza.
Mas, tragicamente, este grande anseio sentido por todos os povos em todas as épocas nem sempre tem sido partilhado pelos seus governos - especialmente os governos modernos, cujos chefes e ideologias glorificam o Estado e promovem o culto do poder pessoal. No final da última grande guerra, a Europa e todo o mundo esperavam ter visto o fim dos conflitos e dos armamentos. 15so não iria, no entanto, acontecer. Mas, pelo menos, não repetimos o erro de épocas anteriores, o erro que afinal conduziu à guerra mundial, o erro de acreditar que é suficiente apenas desejar a paz. Em vez disso, aceitámos a realidade; tomámos a sério os que ameaçavam pôr fim à independência das nossas nações e dos nossos povos. E fizemos o que devem fazer os povos que dão valor à sua liberdade. Juntámo-nos numa grande aliança. E rearmámo-nos. Mas fizemo-lo apenas para que nunca mais fôssemos forçados - sob o peso das nossas ilusões traídas - a recorrer à violência.
Ninguém melhor do que os Portugueses, que têm com a Grã-Bretanha o mais antigo tratado de defesa mútua na história da Europa, sabe o valor de tais alianças e de uma tal prontidão militar para evitar a agressão e a guerra. E por isso trabalhámos em conjunto - o Velho e o Novo Mundo, a Europa e a América, Portugueses e Americanos. E a NATO resultou. Temos mantido a paz há 40 anos. Mantenhamos a paz por outros 40 anos. E ainda outros depois desses.

Aplausos gerais.

A contribuição militar de Portugal hoje em dia para a aliança ocidental continua a ter uma importância fundamental; as vossas bases são estrategicamente vitais, as vossas Forças Armadas estão a modernizar-se para alargar o seu papel na NATO - tudo isto testemunha ainda que a destreza bélica e o amor pela independência nacional são componentes intrínsecas do passado português.
Contudo, as vossas contribuições para a aliança são largamente ultrapassadas pelo exemplo do que estão a viver neste momento. É verdade que o Portugal democrático tem enfrentado problemas políticos, sociais e económicos; mas nenhuma democracia, principalmente nos seus primeiros anos, avança sem obstáculos.
15to é verdadeiro para qualquer nação e especialmente em qualquer democracia. No meu país aprendemos, repetidamente, que os resultados da democracia só podem ser avaliados - não a curto, mas a longo prazo - se tivermos presentes os princípios nos quais ela se baseia e nos lembrarmos como Winston Churchill tinha razão ao recordar-nos que a democracia, na verdade, é a pior forma de governo. Excepto em relação a todas as outras.

Aplausos gerais.

A verdade essencial no âmago das democracias, portuguesa e americana, é a nossa crença de que o governo existe para bem do povo e não o contrário. E esta crença baseia-se numa visão essencial da nossa civilização: a dignidade do homem, o valor do indivíduo. Os antepassados da minha própria nação justificaram a nossa revolução com estas palavras na Declaração da Independência:

Todos os homens foram criados em condições de igualdade e dotados pelo seu Criador de certos direitos inalienáveis e entre estes direitos estão a vida, a liberdade e a busca da felicidade.

É esta confiança no indivíduo - o direito a falar, a reunir-se, a informar e a votar - que é o significado da democracia.

Aplausos gerais.

Os nossos governos democráticos não se baseiam no pressuposto de que o povo tem sempre razão; na verdade, dentro da estrutura dos nossos governos há salvaguardas contra os caprichos ou paixões da maioria. Mas os governos democráticos baseiam-se no pressuposto de que existe no homem vulgar uma sabedoria invulgar e que, ao longo do tempo, o povo e o seu direito de expressão política são a melhor protecção contra os inimigos mais antigos e mais poderosos da liberdade, contra o crescimento incontrolado e o abuso do poder do Estado.
Mas nem sempre é fácil conservar esta crença, especialmente quando o navio do Estado é abalado por tormentas. Haverá sempre os que perdem a fé e exortam ao pânico. Já ouviram as suas vozes algumas vezes, mas creio que aqui, na nação dos navegadores, há um respeito pela sabedoria de manter firme a rota que foi traçada. Por isso, deixem as crises vir. Sabemos que haverá sempre respostas se confiarmos no povo, se nos dirigirmos a ele, lhe apresentarmos os factos e nos apoiarmos nele para tomarmos as decisões correctas.
No meu próprio país aprendemos esta lição muitas vezes. Ninguém tinha mais razão para duvidar desta crença do que um dos nossos maiores presidentes e um dos fundadores do meu próprio partido político, Abraham Lincoln. Mesmo enfrentando uma Guerra de Se-