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10 DE MAIO DE 1983

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cessão, entre vozes poderosas que lhe diziam que não se podia confiar no povo em questões de grande importância, Lincoln, com a sua sabedoria tipicamente rústica, soube explicar eloquentemente a causa da democracia ser, ao longo dos tempos, a forma de governo mais pragmática. «Pode-se enganar algumas pessoas sempre», disse ele, «e todas as pessoas durante algum tempo; mas não se pode enganar todas sempre».

Aplausos gerais.

Portugal e o seu povo estão a avançar: durante os últimos anos enfrentaram enormes problemas, mas mesmo assim a vossa democracia é forte e está intacta. Estão a adoptar o mercado livre, a entrar no Mercado Comum, estão a começar a crescer economicamente.
Esta experiência democrática e o desenvolvimento económico andam de mãos dadas. Quando, há alguns anos, falei no Parlamento Inglês, apontei a ligação entre a liberdade política e o crescimento económico, entre a democracia e o progresso social. Apontei também para a grande revolução em marcha no mundo, a grande saudade da liberdade pessoal e do regime democrático, emergindo cada vez mais, mesmo em países comunistas. No início deste século havia apenas um punhado de democracias, mas hoje em dia mais de 50 países, um terço da população mundial, vive sob governos democráticos. Observei igualmente que uma das forças motrizes deste progresso é o desejo de desenvolvimento económico - a compreensão de que são as nações livres que prosperam e os povos livres que criam melhores condições de vida para si próprios e para os seus filhos.
Esta ideia está a crescer em todo o mundo e em algumas nações está a causar conflitos e desordem. De um certo modo Marx tinha razão; o progresso económico está a gerar choques com velhas e arreigadas ordens políticas. Mas Marx estava enganado sobre onde tudo isto iria ter lugar, pois é o mundo democrático que é flexível, vibrante e que está em crescimento proporcionando aos seus povos níveis de vida cada vez mais altos, à medida que a liberdade cresce e se aprofunda. É no mundo colectivista que as economias estagnam, que a tecnologia está atrasada e que o povo está agitado e se sente infeliz.
Por isso, para onde quer que nos voltemos, há uma rebelião de espírito e vontade contra os velhos chavões de colectivismo; por todo o mundo os velhos gritos de «poder para o Estado» estão a ser substituídos por gritos de «poder para o povo». Por todo o mundo podemos observar uma movimentação em direcção a uma época em que o governo totalitário e o terrível sofrimento que causa será apenas uma recordação triste e distante.
É por isso que o que está a ser feito aqui em Portugal é tão importante. Quando falei na Grã-Bretanha fiz um apelo para uma acção concertada - para uma campanha global em prol da liberdade, uma estratégia internacional para o desenvolvimento democrático.
Não posso imaginar um local mais indicado para renovar esse apelo ao mundo do que aqui em Portugal, nem povo melhor preparado para avançar na causa do desenvolvimento democrático e liberdade humana do que o povo português. Que Portugal conduza de novo o mundo e que os Portugueses atravessem novamente pequenos e grandes mares, levando novas da ciência e da descoberta: a nova ciência da democracia, a descoberta da liberdade, para que resulte, prospere e perdure.
E, apresso-me a acrescentar, para que a liberdade possa garantir a paz. Nunca esqueçamos que a agressão e a guerra raramente são obra do povo de uma nação - pois é o povo que deve suportar a violência e sofrer o pior da guerra. Não, a guerra e a agressão no nosso século foram quase sempre obra de governos, de militaristas e ideólogos que os podem controlar.
É por essa razão que a guerra e a agressão têm poucos apoiantes: deixemos que a democracia se espalhe, que a voz do povo seja escutada, e então os fomentadores da guerra serão banidos e transformar-se-ão em párias. Não tenhamos receio, pois, na nossa cruzada pela liberdade, de proclamar ao mundo que a causa do desenvolvimento democrático é também a causa da paz.
Esta busca da paz tem ocupado muitos dos nossos esforços nesta jornada e através dos nossos contactos com a Comunidade Europeia. Agora, em Genebra, estão em marcha importantes negociações, que podem diminuir a hipótese de guerra, originando acordos verificáveis e a primeira verdadeira redução de armamento, de incrível poder de destruição actualmente ao nosso dispor. Assim, também, os Estados Unidos estão a avançar na pesquisa tecnológica, que esperamos um dia reduza a hipótese de guerra, diminuindo a dependência de uma estratégia baseada na ameaça de uma retaliação nuclear.
Sei que partilham as minhas esperanças de que os nossos esforços para alcançar soluções negociadas tenham êxito. Sei igualmente que compreendem que trabalhar para este objectivo significa continuarmos fortes na nossa aliança e na nossa determinação de proteger a liberdade e independência das nossas nações.
A nossa concordância neste ponto é a razão pela qual podemos esperar que um século, que assistiu a tanta tragédia, possa tornar-se igualmente num século de esperança. Tanto nos Estados Unidos, como aqui em Portugal, na Europa e em todo o mundo redescobrimos a preciosidade que é a liberdade - a sua importância para a causa da paz e para restaurar na humanidade a dignidade a que tem direito.
Esta crença na dignidade humana assinala a verdade final, na qual se baseia a democracia - a crença de que os seres humanos não são apenas um outro elemento do universo material, não são meros grupos de átomos. Pelo contrário, acreditamos numa outra dimensão, um lado espiritual para o homem; encontramos aí uma fonte transcendente para as nossas pretensões de liberdade humana, para a nossa sugestão de que os direitos inalienáveis vêm de um ser superior a nós próprios.
Ninguém fez mais para relembrar ao mundo a verdade da dignidade humana - assim como a verdade de que a paz e a justiça começam em cada um de nós - do que o homem que veio a Portugal há alguns anos, após um terrível atentado à sua vida. Veio aqui a Fátima, local do vosso grande santuário religioso, para cumprir a sua devoção especial a Maria, para implorar perdão e compaixão para os homens, para rezar pela paz e pelo reconhecimento da dignidade humana no mundo.
Quando conheci o Papa João Paulo II, há 1 ano, no Alasca, tive a oportunidade de lhe agradecer pela sua vida e pelo seu apostolado. E ousei sugerir que é