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I SÉRIE - NÚMER0 79

jogo limpo, da transparência e do respeito pelas pessoas sem o qual todos os fins são inevitavelmente pervertidos.
É preciso dizer não ao cinismo, à intriga e à manobra sem regras nem princípios e apostar na honra, na clareza, na solidariedade, no respeito mútuo, para além das divergências e dos conflitos que são a própria essência da democracia.
Lutar por isso é talvez a melhor forma de homenagear Mota Pinto e todos aqueles que, em diferentes quadrantes ideológicos, sacrificaram as suas vidas ao serviço da coisa pública e da construção da democracia em Portugal.
Com saudade e com respeito, o Partido Socialista inclina a sua bandeira perante a memória de Mota Pinto.
Partilhamos o luto da sua família, com uma palavra especial para seus pais, seus filhos e sua mulher e minha querida amiga Fernanda Mota Pinto a quem, neste momento, em meu nome pessoal e no de todos os socialistas, expresso o nosso pesar e a nossa solidariedade.
Pela nossa parte, neste momento de luto, recordamos os combates travados antes e depois do 25 de Abril e a nossa fidelidade ao projecto - que também foi o de Mota Pinto - de uma solução de estabilidade e justiça que garanta a consolidação definitiva da democracia em Portugal.

Aplausos do PS, do PSD, do CDS, do MDP/CDE, da UEDS e da ASDI.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Costa Andrade.

O Sr. Costa Andrade (PSD): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: As intervenções do nosso Partido serão divididas em 3 curtas intervenções, sendo a minha a primeira.
Sr. Presidente, Srs. Deputados: Não me é naturalmente fácil evocar a memória do Prof. Mota Pinto. O Prof. Mota Pinto era meu amigo, foi um professor que deixou em mim um amigo, como deixava, seguramente, em todas as centenas ou milhares de estudantes que por ele passaram.
Mas ele era mais do que isso: para mim, jovem estudante da Universidade chegado ao espaço quase hierático das coisas quase sagradas, intocáveis, da Universidade, com professores distantes e intocáveis, tive a grata surpresa de, no 2.º ano do meu curso, encontrar um professor que tinha a alegria de viver, o gosto da modernidade e do progresso, que falava com os estudantes, que se sentava connosco à mesa, que discutia futebol, que passeava connosco na Praça da República, que dava uma boleia ao estudante que encontrava, que falava, que cumprimentava.
15to não podia deixar de ser extremamente estimulante para estudantes que vinham de fora, a quem um professor como o Prof. Mota Pinto abria generosamente as portas e os caminhos. Com professores daqueles era possível penetrar sem esforço no meio, apesar de todo o declive que havia entre os estudantes vindos do interior, das zonas mais desprivilegiadas e que faziam o seu primeiro contacto com a Universidade.
Não era minha intenção, Sr. Presidente, falar nesta sessão, mas foi entendido à última hora que alguém de Coimbra proferisse neste momento uma palavra especial e não só a direcção do grupo parlamentar.
Era minha intenção, dado o peso das emoções dos acontecimentos, entregar para a acta uma intervenção pessoal, naturalmente com uma visão crítica dos acontecimentos. Porém, a generosidade e a liberdade que se respiram neste partido e neste grupo parlamentar levou o Sr. Presidente do Grupo Parlamentar a solicitar-me que interviesse e que exprimisse as minhas opiniões. A minha intervenção tem por isso um carácter exclusivamente pessoal e é o testemunho pessoal de alguém que viveu estes acontecimentos com a sua própria emoção, com a sua própria paixão e no teor e no calor dessa emoção assim regista o que lhe ficou dos acontecimentos.
Sr. Presidente da Assembleia da República, Srs. Deputados: Na madrugada de 7 de Maio travou Carlos Alberto da Mota Pinto o último combate. Para trás ficava uma vida que foi uma luta sem tréguas: ao serviço dos valores humanos mais fundos, da tolerância, da modernidade e da alegria de viver, da investigação que faz recuar as fronteiras da sombra do não-saber, dos mais autênticos valores da alma colectiva da Pátria, da democracia e do progresso.
Foi, contudo, pouco avisada a morte quando se apressou a proclamar a sua vitória. No plano das coisas últimas - pelo menos, no horizonte de uma escatologia de valores meramente humanos - Mota Pinto foi mais vencedor que vencido. No momento do seu passamento, Mota Pinto assegurou para si uma vitória que o destino só reserva aos privilegiados. Ele logrou, com efeito, transcender o plano da quotidiana e imediata conflitualidade político-ideológica para se perfilar como um lutador daquelas batalhas mais radicalmente significativas que continuam a desfilar o homem a nível da sua existência individual ou colectiva. Batalhas que tendo outra dimensão temporal condenam inapelavelmente à provisoriedade os triunfos da morte como os da madrugada de 7 de Maio de 1985.
Bem o compreendeu, assim, o povo português que, em tantos milhares, se apinhou nas ruas de Coimbra para tributar a Mota Pinto o preito da sua homenagem numa insofismável manifestação de consternação. Bem o compreendeu, assim, a juventude de Coimbra que, vencendo as barreiras do sono, da fadiga e das divergências ideológicas, soube sentir e expressar a dor da falta de um mestre que era um amigo e um companheiro a prescrutar com ela e para ela os caminhos do futuro. Bem o compreenderam as gerações de juristas seus antigos alunos, já homens feitos, que o vieram chorar, pois deixava em cada aluno um amigo.
Bem o compreenderam assim os órgãos de soberania nacional, o Sr. Presidente da República, a Assembleia da República e o seu presidente, os tribunais, o Governo e o Primeiro-Ministro. Bem o compreenderam, assim, os partidos democráticos, nomeadamente o PS e o CDS e os Drs. Mário Soares e Lucas Pires que intuiram que, na sua última batalha, Mota Pinto transcendera as fronteiras do limitado e artificial espaço ideológico e passara a constelar no panteão dos valores nacionais.
Ousamos acreditar que também assim o terá compreendido, em plenitude, o PSD, o único partido de Mota Pinto, o meu próprio partido. Ouso também acreditar que assim o terá compreendido a Juventude Social-Democrata, em cujas fileiras militam os filhos de Mota Pinto, alguns deles tendo já liderado e apoiado listas vitoriosas aos actos, às disputas eleitorais das escolas secundárias e da universidade. Ouso, por isso,