O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

4 DE JUNHO DE 1985 3321

melhor, deve ser muito mais do que isso. É bom que de tal se apercebam os portugueses em geral, os políticos a todos os níveis e os governantes em especial. A população de cerca de 40% do território nacional não pode ir sobrevivendo apenas da agricultura, assistindo passivamente ao desenvolvimento progressivo do resto do País, acentuando diariamente a enorme assimetria entre o aquém e o além Tejo. Mas se uma determinada parcela desse Alentejo fica no interior de Portugal, então, para sua desgraça, a situação agrava-se assustadoramente. E dentro das coordenadas que tracei, Sr. Presidente e Srs. Deputados, encontra-se o meu distrito, o distrito de Portalegre: exactamente para além do Tejo e junto da fronteira espanhola. Vive, por isso, os mesmos dramas das outras regiões do interior sul, o abandono à sua sorte e a condenação à desertificação, se não a curto, pelo menos a médio ou longo prazo.
O distrito de Portalegre é já hoje o distrito de menor índice de natalidade e de menor densidade demográfica.
Pelas reduzidas condições de fixação da sua população, não passa de berço e infantário de uma maioria de jovens que o solo industrial da capital do distrito não pode fixar, a agricultura não consegue atrair e o sector de serviços não permite absorver.
Resta assim a emigração, muitas vezes dentro do seu próprio País, um autêntico êxodo rural para zonas mais evoluídas e portanto mais favoráveis à justa ambição de realização pessoal.
Mas será esta realidade impossível de alterar-se?
Não terá o distrito de Portalegre potencialidades que permitam desenvolvê-lo para poder ombrear com as outras regiões do nosso Portugal?
Não será o turismo, nos dias de hoje e mais ainda naqueles que se aproximam, com a entrada de Portugal para a CEE, um dos principais factores de desenvolvimento?
É verdade que o turismo em Portugal se tem desenvolvido e promovido nos últimos anos, mas reconheça-se que à custa de investimentos em zonas muito específicas da nossa orla marítima, mais concretamente na Costa do Sol e a partir do princípio da década de 60 no Algarve. Sr. Presidente, Srs. Deputados: Não pode contestar-se a utilidade da aposta que foi feita neste domínio e nesse período temporal, mas hoje, em meados da década de 80, penso que é altura de reflectir sobre o turismo que queremos ter. Portugal não pode continuar a pensar exclusivamente no turismo de litoral, não pode continuar a falar apenas de turismo de Verão.
Há no nosso país condições favoráveis para que se comece a estruturar seriamente um turismo de todo o ano e esse passa, obrigatoriamente, por um turismo do interior.
E é aí nesse turismo que concebo, para aproveitamento integral de todas as nossas potencialidades, que o distrito de Portalegre tem uma importante palavra a dizer.
Não serei acusado de facciosismo por afirmar que o já bem conhecido triângulo turístico do Alto Alentejo - Portalegre, Castelo de Vide, Marvão - é das regiões de maior beleza natural do nosso país, mas, para além disso, tem um enorme interesse sob o ponto de vista histórico, arquitectónico e não só.
As barragens do Caia, de Montargil, da Póvoa e Meadas, Belver e Maranhão têm as melhores condições para o exercício da pesca e a prática de desportos náuticos sem motor, como a vela e o windsurf. Em Alter do Chão, a coudelaria tem os seus méritos já reconhecidos, mas sob o ponto de vista turístico tem um aproveitamento muito aquém do que merece.
O interesse arqueológico das antas de Castelo de Vide, das pinturas rupestres das grutas perto de Arronches, os restos de vila romana em São Salvador da Aramenha tem passado totalmente despercebido.
À excepção da água minero-medicinal de Castelo de Vide, a riqueza termal deste distrito, como as termas de Cabeço de Vide e outras com enormes potencialidades para crenoterapia, é praticamente desconhecida da maioria dos portugueses.
O artesanato da região, que vai do trabalho em cortiça à escultura em madeira, do rico e original trabalho de olaria de Nisa, Flor da Rosa ou Portalegre aos bordados de Nisa, não tem que temer comparações com o que de melhor se admira noutras regiões com boa promoção turística.

O Sr. Guerreiro Norte (PSD): - Muito bem!

O Orador: - O folclore do distrito de Portalegre tem já hoje grande projecção no País e no estrangeiro através dos seus ranchos de Portalegre, Cana e Castelo de Vide, por exemplo.
A gastronomia é rica e bastante apreciada por que já está saturado do internacional bife, do linguado de Cascais ou das amêijoas do Algarve.
A riqueza cinegética que o distrito de Portalegre conheceu já noutros tempos deve ser recuperada rapidamente, para, através de zonas de caça turísticas, competentemente exploradas, poder atrair grande número de turistas que naturalmente não se deslocariam ao nosso país durante o Inverno se não fosse o interesse e prazer da caça.
Portalegre aguarda também há já alguns anos a criação do parque natural de São Mamede, zona maravilhosa, onde as belezas naturais, a flora e a fauna específicas, os aspectos culturais, arquitectónicos e outros precisam de ser preservados já que constituem uma riqueza a não deixar degradar.

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Orador: - Sr. Presidente, Srs. Deputados: O turismo do interior não é um concorrente «desleal» do turismo do litoral, muito pelo contrário, eles são complementares. Não nos podemos dar ao luxo de ter muitos turistas apenas no Verão.
É urgente que o País saiba captar o maior número de turistas durante os 12 meses do ano. Para isso, repito, é preciso fazer despertar os nossos governantes para o turismo do interior. Não basta criar as comissões regionais de turismo totalmente impotentes para implementar uma verdadeira política de turismo.
Não se pode esperar que as autarquias resolvam o problema ou que a iniciativa privada crie as infra-estruturas indispensáveis.
Ao Estado compete planear, apoiar directamente e promover esse mesmo turismo.