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1762 I SÉRIE - NÚMERO 49

problema de que aqui me vou ocupar - ela parece mostrar-se inoperante por não se ter ainda revelado portadora dos novos valores de que a sociedade carece.

Não me deterei na análise dos factores que, ao longo da década, com tendência crescente, têm vindo a provocar uma nova onda de marginalização das mulheres. São factores de ordem técnica, económica social e política, muitas vezes de âmbito supranacional, que, no nosso país não foram ainda objecto de estudos adequados.
Pretendo, apenas, chamar a atenção para esse outro lado do problema, que é o da possibilidade (ou impossibilidade) de as mulheres trazerem à vida colectiva o contributo social e cultural - que é o seu - e que os mecanismos asfixiantes da cultura masculina dominante continuam a menosprezar, quando não a bloquear.
Dou apenas um exemplo, talvez o mais óbvio e irrefutável.
Condição indispensável para uma paridade real entre homens e mulheres seria a equação, em termos razoáveis, da partilha das responsabilidades privadas e públicas por todos os cidadãos.
Ora acontece que em Portugal, como aliás na mataria dos países, o espaço da vida familiar continua inteiramente confiado às mulheres. São elas, salvo raríssimas excepções, as gestoras e as executoras da quase totalidade das tarefas domésticas. Trabalham em casa e fora de casa. Servem os patrões, os maridos e as filhos. Aumentam a máquina de produção e a do consumo. Têm horários de emprego, mas não têm horários de trabalho. Em tais condições, como esperar das mulheres na esfera pública - da operária à professora universitária, da dactilógrafa à gestora de negócios outra atitude que não a adaptação, mais ou menos conformista, face às exigências do mundo co trabalho?
As análises mais recentes sobre o contributo específico das mulheres nas várias profissões silo unânimes em constatar, não só a apropriação pelos homens do produto do trabalho feminino, como a própria incorporação pelas mulheres, de valores e padrões de comportamento profissional masculinos.
Que quererá isto dizer?
Que as mulheres não têm uma visão própria do mundo e da vida a trazer à organização t gestão dos interesses públicos?
Não será preciso recorrer aos exemplos das sociedades ditas «matriarcais» para provar o contrário. Em todas as épocas, segregadas ou não, as mulheres souberam criar uma cultura própria, sem a qual o equilíbrio e o bem comum da vida em sociedade não teriam sido possíveis. Que essa cultura possa, hoje, afirmar-se no exercício de novos poderes: esse o desafio que nos é colocado neste fim dê milénio, que é também o limiar de uma nova etapa de civilização.
Na era da complexidade, face aos problemas da ingovernabilidade com que os Estados se confrontam, ninguém negará que são os próprios modelos de organização política e .social que estão postos em causa. Ora, são esses modelos, até agora dominados pela componente cultural masculina, que urge questionar.
Falar, hoje, da necessidade da emergência de uma nova cultura feminina não é, pois, uma reivindicação unilateral das mulheres. É uma exigência do próprio devir histórico, em que a paridade na afirmação dos valores próprios de cada sexo se torna imperativa, se queremos construir um mundo onde homens e mulheres se sintam melhor.
Sr.ª Presidente, Sr.ªs e Srs. Deputados, o desafio colocado só tem uma resposta: há que libertar o potencial criador das mulheres e dar-lhe espaço de expressão na vida pública.
Fala-se e escreve-se hoje sobre a necessidade de «feminizar o poder». Não para excluir os homens, mas para humanizar as sociedades.
As provas estão dadas: não haverá desenvolvimento humano global e autêntico enquanto perdurarem a discriminação e a invisibilidade que impedem a manifestação dos valores, visões do mundo, modos de dizer e de criar do universo cultural feminino.
Esses valores têm a ver com um outro equilíbrio entre a razão e a afectividade, entre a técnica e o bem-estar, entre a afirmação própria e a solidariedade.
Faço a esta Câmara a justiça de presumir que a procura deste novo equilíbrio é projecto, não só do Grupo Parlamentar Socialista mas de todas as deputadas e deputados que se identificam com a construção de um país e de um mundo mais fraternos.
Só assim poderemos celebrar, em anos futuros, a «igualdade inédita», porque respeitosa das diferenças e capaz de se enriquecer com elas, que a década de 80 soube antever mas não conseguiu praticar.

Aplausos gerais.

A Sr.ª Edite Estrela (PS): - Sr.ª Presidente, peço a palavra para interpelar a Mesa.

A Sr.ª Presidente: - Tem a palavra, Sr.ª Deputada.

A Sr.ª Edite Estrela (PS): - Sr.ª Presidente, a minha interpelação visa pedir autorização, não só à Sr.ª Presidente como à Mesa, para as deputadas do Partido Socialista, num gesto de maior cordialidade para com a maioria masculina do que aquele que eles revelaram para com a minoria feminina, entregarem uma rosa, que tem um valor simbólico neste dia.

A Sr.ª Presidente: - Sr.ª Deputada, não consta da ordem do dia, mas penso que uma rosa nunca se recusa.

Aplausos gerais.

Neste momento, deputadas do Grupo Parlamentar do PS distribuem rosas aos presentes no Hemiciclo.

A Sr.ª Presidente: - Para uma intervenção, tem a palavra a Sr." Deputada Assunção Esteves.

A Sr.ª Assunção Esteves (PSD): - Sr.ª Presidente - e hoje o vocativo é no feminino -, Srs. Deputados: Vem o Grupo Parlamentar do Partido Social-Democrata associar-se à iniciativa desta Assembleia no âmbito da comemoração do Dia Internacional da Mulher.
Neste momento, a Deputada Independente Helena Roseta aplaude mulheres que se encontravam nas galerias destinadas ao publico e que se preparavam para as abandonar.

Protestos do PSD.