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9 DE MARÇO DE 1989 1757

A televisão é hoje um meio de comunicação social por excelência em todos os países europeus. É ciosamente controlada pelo Governo, desesperadamente desejada pelas oposicões, o médium preferido pelos jovens, o lazer das camadas economicamente débeis, a dieta cultural dos analfabetos. A televisão informa e forma a opinião pública, selecciona as prioridades políticas, os temas sociais da actualidade, cataloga personalidades difunde mensagens, faz a circunstância. No decurso da sua vida cada cidadão médio na Europa, passa duas vezes mais tempo diante do televisor que nos bancos da escola ou salas de estudo. Ela é hoje mais o ambiente que a comunicação.
Num estudo recente de Gabriel Thoveron feito em 1987, a pedido da Comissão das Comunidades Europeias, verifica-se que entre os jornalistas da televisão, por cada mulher contam-se seis homens e nas imagens utilizadas para ilustrar os acontecimentos as mulheres ocupam não mais que 6% do tempo atribuído aos homens; na publicidade, os homens aconselham, as mulheres compram. Quando falam é geralmente para os homens, ao passo que estes comummente falam entre si; nos anúncios 43% são donas de casa, 18% trabalhadores, 17% mães; quanto ao estatuto social 4% são de classe média superior, 24% de classe média e 62% jovens adultas. Estabelece-se uma hierarquia clara nos papéis desempenhados na televisão: as mulheres elegantes ou sofisticadas apresentam produtos de beleza ou higiene, marcas de automóvel, modas de vestiário e de bebidas alcoólicas.
As mulheres consideradas «reservadas» apresentam produtos para bebés e crianças, especialidades farmacêuticas, produtos alimentares de consumo quotidiano.
Nos telefilmes ou telenovelas as mulheres são classificadas em «tradicionais» (42%) absorvidas na vida familiar e dependentes do homem; modernas - mais independentes dos homens no contexto familiar (52%). Geralmente nesta categoria, 34% fazem apelo ao seu charme, e 18% à sedução. É raro privilegiar a iniciativa ou qualidade profissional. No enredo ou temática no conflito entre valor tradicionais e modernos, 29% abandona a modernidade e 19% os valores tradicionais.
O trabalho da mulher, é geralmente apresentado nos programa televisivos da Europa como assunto de pouca importância. Geralmente é apresentada como ocupando postos subalternos: 90% trabalha para homens e raríssimamente tem um homem ou um grupo de homens a ela subordinados.
Não se pode dizer que a televisão na Europa ajude as mulheres a libertarem-se da sua imagem clássica e que é depreciativa.
Em Portugal, mantém plena actualidade, decorridos 10 anos, o trabalho pioneiro de Maria Cristina Domingues - «A imagem da mulher na publicidade televisiva», publicado em 1979 nos cadernos da Comissão da Condição Feminina. Vejamos as diferenças entre Portugal e as médias europeias com base, nos dois estudos.» Nos anúncios de automóveis ou de produtos com eles relacionados em Portugal, o homem é o principal protagonista, podendo a mulher aparecer mas com mero papel secundário. Os automóveis são do domínio dos homens assim como a casa é do domínio da mulher... Nos produtos de higiene corporal fica-se com a impressão de que só as mulheres transpiram, só elas é que têm a obrigação de cheirar bem...

Risos.

...e isto em função do homem que ou franze o nariz no autocarro ou deixa de namorar uma rapariga porque ela tem mau hálito».
Tal como nos países europeus, o anúncio dos vinhos e de bebidas alcoólicas corresponde à imagem de mulher sedutora enquadrada em ambiente sofisticados e requintados.
A dona da casa tem a preocupação desmedida com a brancura da roupa, os bons cozinhados, o brilho do chão e a máquina de fazer iogurtes é o «o selo da verdadeira felicidade».

Risos.

Muito próxima da dona de casa temos a esposa tradicional: esta «tem pequeninos gestos atenciosos para o marido. Olha-o com ternura enquanto ele come o ovo estrelado por ela preparado».

Risos.

Depois a mulher-mãe com o papel secundário em relação às crianças que se presumem seus filhos porque no fim do anúncio «há qualquer coisa que o menino ou menina disse e ela ouviu com sorriso». A mulher sedutora, com aspecto requintado, variando a idade entre os 30 e 35 anos, é suscitadora de consumo, objecto sexual em que o apresentador remata sistematicamente «só a não livra de um grande amor».
Tal como no relatório de Thoverson, também em Portugal a imagem de mulher trabalhadora não é frequente, e mesmo quando ela esporadicamente aparece diz a uma colega: «ontem depois de sair do emprego fui às compras, fiz o jantar e ainda formos ao cinema», ao que a outra responde: «e tempo para isso tudo?» Também entre nós a mulher é sempre subalterna do homem.
Se esta é a imagem que nos é fornecida pela nossa RTP ela ignora por completo todos os grandes temas que interessam à sociedade em geral como, por exemplo, as mães solteiras, o divórcio, a contracepção, as mulheres isoladas ou sós, a violência sexual, a segregação profissional e que, quando convenientemente tratados abririam a grande porta para que tais temas outrora tabus fosse livremente debatidos e, dando voz a todas as correntes de opinião, incluindo claro está as diversas posições ideológicas e mesmo religiosas.

Aplausos gerais.

Seria recomendável que as equipas de produção destes programas integrassem obrigatoriamente as mulheres em todos os níveis sem cair na autogestão feminina destes temas.
Não conhecemos meio mais indicado do que a televisão para denunciar as contradições e as tensões que a mulher hoje protagoniza na sociedade portuguesa, tal como as suas irmãs noutros países europeus, porque o fenómeno não é exclusivamente português.
A ideia nada tem de nosso nem de novo. Existem hoje cooperativas de mulheres produtoras de cinema que reivindicam tempos de antena para expor as suas reivindicações, enquanto que as feministas radicais pensam que os programas devem adoptar um tom provocador que se assemelha a uma confrontação ideológica, e dispor de «tempo normal de emissão feminina».
Na Inglaterra o canal 4 (Thames Television) concede hoje, um tempo de programação às realizadoras para