O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

1542 I SÉRIE - NÚMERO 44

O Orador: - O Sr. Deputado Pacheco Pereira sabe que as palavras também fazem sangue; sabe que as palavras, por vezes, criam o irremediável. Todos nós que andamos na política e travamos combates políticos sabemos disso. Ora, penso que, por detrás dessa realidade virtual com que os senhores se deliciam, por detrás do endeusamento ou do culto da personalidade que naquele Congresso foi feito de Cavaco Silva, do acriticismo total, algumas palavras terríveis foram ditas. Grandes punhaladas foram dadas ao próprio Prof. Cavaco Silva; grandes punhaladas foram dadas ao PSD pelos próprios candidatos do PSD.
Sr. Deputado Pacheco Pereira, começo por perguntar-lhe o seguinte: o Sr. Deputado disse que, ao fim de 10 anos de Governo, o PSD não poderia ser indiferente ao clientelismo e à corrupção. Isso quer dizer que o foi ou que vai continuar a ser?
O Sr. Deputado falou do PSD como se do País se tratasse: o PSD da cultura das «cunhas», da sofisticação política, da cultura de «A Morgadinha dos Canaviais». Pergunto-lhe: que cultura vai prevalecer? A das «cunhas», a da sofisticação política ou a de «A Morgadinha dos Canaviais»?
Porém, o novo líder do PSD disse algo de mais importante e de mais terrível, ao afirmar que era preciso separar os negócios e a política. Pergunto: então, quem é que andou a misturá-los? Foi só o Primeiro-Ministro Cavaco Silva? Ele disse ainda que não ia distribuir empregos, porque só tinha tarefas para distribuir. Então, quem é que andou a distribuir empregos? Foi só o Primeiro-Ministro Cavaco Silva?

O Sr. Silva Marques (PSD): - Isso é a Câmara Municipal de Lisboa que faz!

O Orador: - Mas também o Dr. Durão Barroso insistiu muito, citando Sá Carneiro, na necessidade de colocar o País em primeiro lugar. Então, porque ele subentendeu-o, pergunto: quem é que andou a colocar o partido acima de tudo? Foi só o Prof. Cavaco Silva? E qual é, Sr. Deputado Pacheco Pereira, a nova hierarquia que sai de tudo isto? Aliás, estranho que, hoje, o Sr. Primeiro-Ministro não tenha vindo aqui apresentar uma moção de confiança, o que seria claro e transparente. Mas qual é a nova hierarquia que sai de tudo isto? É o militante de base e Primeiro-Ministro, Cavaco Silva, que vai comandar o Ministro da Defesa Nacional e novo líder do partido? Ou é o Ministro da Defesa Nacional e novo líder do partido que vai dar ordens ao militante de base e Primeiro-Ministro Cavaco Silva?

Aplausos do PSD.

Sr. Deputado Pacheco Pereira, os senhores conseguiram, de facto, um grande espectáculo e dou-vos, nesse aspecto, os meus parabéns. Conseguiram uma grande encenação, uma grande realidade virtual. Deleitem-se com elas e entusiasmem-se com o vosso próprio entusiasmo, porque o vosso ex-líder não vai ao voto, fugiu ao voto, mas os senhores têm de prestar contas, têm de ir às umas, e o povo português vai dizer a última palavra!

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente: - Para responder, tem a palavra o Sr. Deputado Pacheco Pereira.

O Sr. Pacheco Pereira (PSD): - Sr. Presidente, Sr. Deputado Manuel Alegre, felizmente para nós que o Partido Socialista nunca percebe nada! Nunca percebe nada!

Risos do PSD.

As questões que levantou são exactamente as mais previsíveis e as menos importantes.

O Sr. Ferro Rodrigues (PS): - Então, a resposta deve estar escrita!

O Orador: - Os senhores não compreenderam que se o Congresso do PSD teve o efeito que teve no País foi porque os portugueses, mesmo que de um modo imperfeito, se reconheceram no Congresso, nas pessoas, na diferença de opiniões, e isso, meus senhores, independentemente de tudo o que lá tenha sido dito, foi mortífero para o Partido Socialista!

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Orador: - E não me venham dizer que eu defendo que o PSD é uma espécie de União Nacional, porque o PSD, na representação política portuguesa, tem estritamente o papel que os votos dos portugueses lhe dão!

O Sr. Manuel Alegre (PS): - Darão?!...

O Orador: - Mas, na vida política simbólica do País, nas expectativas e nos desejos dos portugueses, nas emoções e nas razões, o PSD tem um papel infinitamente superior ao que, hoje, tem o Partido Socialista.

O Sr. Jaime Gama (PS): - Perderam as últimas eleições!

O Orador: - E eu, meu caro Deputado Manuel Alegre, não troco uma coisa pela outra, porque a vitalidade da vida política portuguesa... É por isso que este Congresso prestou um grande serviço não só ao PSD mas também à democracia, porque serviu para mostrar aos portugueses como funciona um partido democrático, nas suas diferenças e nas suas contradições,...

O Sr. Manuel Alegre (PS): - Que ideia! Que projecto!

O Orador: - ... e como funciona uma coisa essencial que o Sr. Deputado, que é um trabalhador da palavra, não compreendeu. É que as palavras, Sr. Deputado Manuel Alegre, ferem, mas também saram as feridas.

Aplausos do PSD.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Octávio Teixeira.

O Sr. Octávio Teixeira (PCP): - Sr. Presidente, Sr. Deputado Pacheco Pereira, começo por registar o início da sua intervenção, quando faz a afirmação de que o grande interesse do Congresso do PSD foi a sua transmissão directa pelos órgãos de comunicação social,...

Vozes do PSD: - Ao contrário!

O Orador: - ... e, depois, complementa essa sua afirmação com o elogio que faz aos Srs. Jornalistas. Registe-se, porque será talvez a primeira vez que o Sr. Deputado Pacheco Pereira faz um elogio aos jornalistas, na medida em que, até agora, tem estado sempre do lado contrário, a bater nos jornalistas. É significativo que isso suceda!