O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

1856 I SÉRIE - NÚMERO 55

este alerta para as actas desta Assembleia, se não apelasse aos partidos deste órgão de soberania no sentido de actuarem enquanto é tempo, devolvendo democracia à democracia, moralizando o sistema e dando o próprio exemplo. Este não é um caso pessoal, não é um juízo em causa própria. nem um ajuste de contas, nem uma recriminação orientada neste ou naquele sentido do espectro partidário. Diz respeito a todos nós e todos temos responsabilidades nesta situação.
Estas poderão ser palavras que se extinguem com o silenciar deste microfone, entulhadas nos milhões de silabas que anualmente são debitadas nesta Assembleia. Poderão ser palavras que passem despercebidas, que não encontrem eco para lá desta Sala, nem interfiram, por um segundo que seja, com a lógica das estratégias e das prioridades parlamentares. Mas fica saldado aqui o meu dever de denúncia de muitas injustiças, de exercícios abusivos do poder, do simulacro de democracia, do caricato ético e da moral travestida.

Aplausos do PSD.

O Sr. Presidente: - Srs. Deputados, vamos apreciar o voto n.º 107/VII - De homenagem ao comandante da guerrilha timorense, Konis Santana, e de pesar pelo seu falecimento, apresentado pelo Presidente da Comissão Eventual para Acompanhamento da Situação em Timor Leste, Deputado Nuno Abecasis.
Para proceder à leitura do voto, tem a palavra o Sr. Secretário.

O Sr. Secretário (Artur Penedos): - Sr. Presidente e Srs. Deputados, o voto é do seguinte teor:

Konis Santana, o 4.º Comandante que a guerrilha timorense até hoje teve, acaba de falecer, vítima de grave desastre sofrido ao deslocar-se, sempre perseguido pelas forças ocupantes e opressoras do exército indonésio, nas altas montanhas onde, com os seus homens, luta e se abriga.
Konis Santana entrou na clandestinidade ainda um jovem. com 19 anos, e nela viveu mais de metade da sua vida, suportando os perigos da seiva, sempre sobre a ameaça da doença e do acidente, perseguido pelo inimigos, longe da família e dos amigos e privado do seu conforto e apoio, numa luta incessante e corajosa, indiferente à esmagadora diferença de recursos e de meios de defesa e de ataque, certo que estava de que a visibilidade das razões do povo timorense aos olhos do mundo em tudo dependiam da sua obstinação e do seu generoso sacrifício.
A Assembleia da República, que desde sempre fez sua a luta indómita do povo timorense pela conquista do direito à liberdade e à identidade nacional, por meio do livre exercício da autodeterminação, presta pública homenagem ao valor do Comandante Konis Santana e expressa ao povo de Timor o seu profundo pesar por tão dolorosa perda.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Nuno Abecasis.

O Sr. Nuno Abecasis (CDS-PP): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Penso que quanto mais digno é um homem e mais valorosos são os seus actos menos palavras são necessárias. Até diria que as palavras são dispensáveis, porque podem ofuscar a sua grandeza.
Konis Santana viveu 22 anos da sua vida na guerrilha, escondido, defendendo sem armas, quase de mãos nuas, a sua pátria e o seu povo. E só viveu 19 anos em liberdade e, mesmo essa, com certeza, sofreu alguns atropelos durante as ocupações estrangeiras.
Sr. Presidente, penso que Konis Santana é um bom exemplo, por isso tenho pena que este voto não tenha sido votado quando a nossa Assembleia estava repleta de jovens, porque são estes homens que mostram bem à juventude quanto vale uma pátria. Tal como a liberdade, só quando ela se perde se sabe o valor que tem.
Sr. Presidente, é de forma comovida que, em nome do CDS-PP e da Comissão a que presido, quis prestar esta homenagem e este testemunho de pesar pela perda de um homem notável que era Konis Santana.
A existência de outros é a certeza de que não se apagará no mundo, senão pela libertação, esta causa, que é nossa também: a causa da liberdade e da identidade do povo timorense.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Manuel Moreira.

O Sr. Manuel Moreira (PSD): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: O povo mártir de Timor Leste ficou mais pobre com o desaparecimento físico, vítima de grave e lamentável acidente, de um dos principais e mais corajosos combatentes pela sua causa de libertação, Konis Santana, que comandava a guerrilha timorense, sucedendo ao comandante Xanana Gusmão, quando este foi preso pelo regime, abominável e ditatorial, da Indonésia.
O PSD associa-se a este voto de pesar pela morte do comandante Konis Santana, apresentando à sua família e ao povo de Timor Leste as suas sinceras condolências.
Também através deste voto, prestamos a nossa singela e justa homenagem a alguém que é bem o exemplo de determinação e coragem de quem dedicou a sua vida a uma causa muito nobre, que é a defesa da liberdade, da dignidade e da autodeterminação do seu povo.
Morreu um combatente ilustre por Timor Leste, o comandante Konis Santana, mas não morrerá a sua causa e a luta que travou ao longo destes anos enquanto o povo de Timor Leste não for totalmente livre e senhor do seu destino.
Estamos certos de que a guerrilha timorense e o povo de Timor Leste, em geral, no interior e na diáspora, com particular destaque para a sua juventude e com o apoio da comunidade internacional, prosseguirão esta luta difícil mas heróica, continuando a ter como referências maiores o comandante Xanana Gusmão e os Prémios Nobel da Paz, D. Ximenes Belo e Dr. Ramos Horta, a quem também queremos prestar a nossa homenagem.

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado José Calçada.

O Sr. José Calçada (PCP): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Konis Santana morreu na luta pela liberdade do seu povo. Muitos dos melhores de entre o nosso povo morreram em luta pela liberdade e, entre esses, muitos eram comunistas - nestas coisas, como noutras, reclamar o monopólio é insensato e historicamente incorrecto, mas o nosso quinhão de sacrifício é incontornável.