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1190 I SÉRIE - NÚMERO 32

intervenções parlamentares pode dizer, com justiça, que a liberdade foi o farol da sua vida.
Lino Lima passou por todas as acções e lutas contra a ditadura Esteve nos diversos movimentos antifascistas, nas companhas eleitorais da oposição, incluindo as campanhas eleitorais de Ruy Luís Gomes e de Humberto Delgado Pela sua acção política, foi preso quatro vezes pela PIDE.
Ao longo dos anos de luta oposicionista fez profundas amizades Lino Lima sabia, como poucos, cultivar essa arte difícil de fazer amigos e de com eles conviver intensamente.
Com o 25 de Abril, Lino Lima empenha-se de alma e coração nos novos desafios da construção democrática Participou na comissão que preparou a legislação para o primeiro recenseamento e para a eleição da Assembleia Constituinte. Mas o terrorismo bárbaro do Verão de 1975 vitimou-o com violência, queimando o seu escritório de advogado em Famalicão, onde guardava os seus livros, escritos e reflexões Naquelas labaredas ardeu uma vida de trabalho Ainda hoje estão impunes os terroristas que atearam aquele fogo, como impunes estão os mandantes que organizaram aquelas acções.
Lino Lima sofreu duramente, por si, injustiçado como foi, mas mais ainda pela Júlia, sua companheira de sempre, falecida há cinco anos. A Júlia nunca se recompôs da saída de Famalicão e da falta do convívio sereno com amigos e familiares da sua terra de nascimento.
De 1976 a 1984, Lino Lima sentou-se nesta Assembleia, nesta bancada do PCP Recordamos a qualidade e profundidade das suas intervenções as reflexões sobre o poder judicial, a segurança interna, os direitos fundamentais, as forças armadas, as corajosas intervenções de denúncia das prepotências e ilegalidades e mesmo intervenções pioneiras, como as que fez sobre a situação das prisões ou sobre o sindicalismo policial E também recordamos o seu vivo sentido de humor, o brilho e intensidade da polémica parlamentar que ele tanto cultivava Os debates que ele teve aqui com Adelmo Amaro da Costa foram momentos parlamentares raros.
Deixo aqui, em nome do Grupo Parlamentar do PCP, a expressão da nossa profunda mágoa neste momento do falecimento de Lino Lima, cidadão empenhado, militante Comunista, homem de muitas lutas, de inteira coerência.
Perdemos um grande amigo, que recordamos com saudade.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr Deputado Barbosa de Melo.

O Sr. Barbosa de Melo (PSD): - Sr. Presidente, Srs. Deputados, Srs. Deputados do Partido Comunista. Em nome da bancada do Partido Social Democrata, quero exprimir a nossa adesão a este voto de pesar Mas permitam-me que faça uma evocação pessoal de Lino Lima, que conheci de perto no trabalho de uma comissão, prevista no Programa do MFA, a qual cumpriu elaborar o ante-projecto daquela que viria a ser a lei eleitoral para a Assembleia Constituinte.
Nessa comissão, num período de muita esperança, já de muita divergência, pude apreciar as qualidades intelectuais e humanas de Lino Lima Posso dizer que fizémos aí uma relação de amizade profunda.
Se algumas coisas, que não vem agora ao caso enunciar, foram recolhidas nessa lei eleitoral, que ainda hoje, apesar de tudo, continuam, e bem, na lei eleitoral vigente, deveu-se a um grande entendimento - permito-me dizê-lo - que se estabeleceu entre mim e Lino Lima.
Foi realmente grave a injustiça feita a Lino Lima no «Verão quente», mas creio que ele foi vítima, não por ele próprio, da sanha que lhe destruiu o espaço onde fez a sua vida profissional, onde arquivou muito da sua vida pessoal No fundo, creio que ele foi vítima da posição colectiva que então assumia a força que ele tão galhardamente sempre representou. Mas isso são contos passados.
De Lino Lima fica-me esta ideia muito clara era um homem culto, mesmo muito culto, um homem que desfrutava de um bem-estar material significativo, mas que nunca tergiversou na defesa, na luta pelos seus ideais políticos próprios É isto que faz um grande cidadão!
Esta palavra pessoal queria acrescentá-la à posição geral do meu partido de reunir-se convosco no voto de pesar que aqui foi apresentado.
A vós, Deputados do Partido Comunista, apresento pessoalmente os meus sentimentos.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr Deputado Joel Hasse Ferreira.

O Sr Joel Hasse Ferreira (PS): - Sr Presidente, Srs Deputados Quero começar por expressar, em nome pessoal e do Grupo Parlamentar do Partido Socialista, a admiração e o profundo respeito pela figura do Dr. Lino Lima.
Desde que, vindo do movimento estudantil, comecei a participar nas actividades do Movimento Democrático, lembro-me que, sempre que se falava de Braga, a grande figura de referência era Lino Lima Quando havia qualquer coisa com que era preciso avançar, uma candidatura, um movimento, um abaixo-assinado, fosse o que fosse, o nome de Lino Lima aparecia sempre a encabeçar a quês tão, em Braga Ele foi, desde sempre, uma das grandes figuras de referência da oposição democrática no Norte Eis, portanto, a homenagem ao oposicionista coerente, ao democrata de antes e depois do 25 de Abril.
Posteriormente, tive ocasião de privar com ele nesta Assembleia, tendo já sido referidas algumas das importantes actividades que ele aqui desempenhou De facto, ele habilitou-nos, nesta Assembleia, com a sua brilhante capacidade de intervenção.
Não resisto a referir que, no quadro do seu interesse pela situação prisional, já aqui abordado pelo Sr Deputado João Amarai, participou nos trabalhos da, então, Subcomissão de Assuntos Prisionais.
Por exemplo, em 1984, último ano em que Lino Lima esteve nesta Assembleia - e alguns dos que aqui estão talvez se lembrem -, houve algumas situações complicadas, nomeadamente com os presos das FP-25, em greve de fome e de sede, em que aquela Subcomissão de Assuntos Prisionais acabou por, digamos, quase exceder o seu mandato, o formal que não o legítimo, tendo desempenhado alguma função no relacionamento com aqueles presos e averiguado, em geral, a situação nas prisões, já muito difícil na altura Ora, o Deputado Lino Lima, com grande empenhamento e, muitas vezes, com manifesto esforço físico, não só nunca se escusou como visitou essas prisões, dialogou com os detidos e manifestou sempre um extremo bom senso, uma extrema elegância, um elevado conhecimento jurídico e uma capacidade de diálogo, quer com os colegas dos outros partidos, quer com os presos, quer com as autoridades prisionais, quer com os médicos, em circunstâncias por vezes um pouco compli-

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