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6 I SÉRIE — NÚMERO 95

O Orador: —Não é mais possível continuar com Vozes do CDS-PP: —Exactamente! promessas ilusórias em vésperas de dificuldades! Dentro de uma semana, o Governo virá a uma comis-O Orador: —Mas, entretanto, Sr. Presidente e Srs. são parlamentar discutir, mais uma vez, a sua proposta

Deputados, nada de parar com o anúncio de mais e mais mais polémica, aquela que se tornou o símbolo do descon-milhões. Pelos vistos, parece ser esta agora a regra: distri- trolo, da megalomania, da despesa enorme e injustificada: buir pelo maior número as consequências dos erros e con- o novo traçado do TGV. tinuar, até ao limite, a chamar a si o máximo de vantagens Em recente audição, os responsáveis do Instituto Naci-que ainda se puderem extrair da continuação dos mesmos. onal do Transporte Ferroviário, na semana passada, fize-

Mas a grosseira contradição entre as possibilidades e as ram saber ao Parlamento que essa estrutura não contribuiu promessas dificilmente deixará de confundir o cidadão para a elaboração dessa proposta e que a sua apresentação comum. Afinal, em que ficamos? — perguntará o cidadão. pública e respectivo debate têm mesmo o pernicioso efeito Com efeito, como poderia aceitar o candidato a um empre- de paralisia da actividade de planeamento da rede ferroviá-go público que o Estado deixasse de contratar mais pes- ria no seu conjunto. soal, as autarquias que se reduzissem investimentos e os Se a estes factos somarmos a insuficiência total de fun-serviços que diminuíssem verbas se a moda continua a ser damentação ao nível da viabilidade financeira, do estudo mais um aeroporto gigante, mais uma ponte caríssima, de mercados e da sustentabilidade da exploração, rapida-mais um comboio ultramoderno para todo o lado? mente chegaremos à conclusão de que estamos na presença

de uma proposta radicalmente afastada de qualquer possi-O Sr. João Rebelo (CDS-PP): — É verdade! bilidade de discussão séria. A intenção do Sr. Ministro do Equipamento Social de, na impossibilidade de a apresentar O Orador: —E com que autoridade fica o Governo como um projecto por manifesta falta de estudos e funda-

para pedir sacrifícios, ou simplesmente partilha de respon- mentação, a considerar como mera proposta, mas de ainda sabilidades, se cada vez que alguém critica o carácter gi- assim passar um ano a debatê-la, deve ser rapidamente gantesco de algum investimento é imediatamente tratado abandonada. como um adversário do progresso? O que foi publicamente apresentado quase que triplica

No cúmulo da desfaçatez, parece que é isto que o Go- os custos do traçado que Bruxelas já aprovou, aponta para verno ainda quer: continuar a engalanar-se com projectos percursos para os quais não se vislumbra sustentabilidade de prestígio, apostando ainda em que o espanto se trans- de exploração, assenta na ideia de transportar mercadorias forme em popularidade e, ao mesmo tempo, atribuir as em alta velocidade, o que tecnicamente é considerado culpas dos inevitáveis sacrifícios a outros, à custa de umas errado por quase todas as pessoas, e terá como destino quantas habilidades. final a frustração das expectativas regionais que, entretan-

Este caminho duplo não pode continuar por muito mais to, imprudentemente se despertaram. tempo, mas quanto mais tempo continua, mais custa sair É, pois, obrigação de qualquer Governo responsável dele, e o que vamos tendo são exercícios de hipocrisia, acabar, desde já, com este disparate. A única forma de não aliás, em crescimento. Veja-se o que já está a acontecer destruir o projecto de um TGV para o futuro é mesmo esta, com o chamado PRD. Começou por ser um Plano de Re- a de não inquinar o debate técnico indispensável com pro-dução de Despesas, mas na sua última versão a «redução» postas puramente políticas e megalómanas. já era «reorientação» ou «reforma» das despesas.

O que é que se passou? Consulta-se a imprensa e fica- Vozes do CDS-PP: —Muito bem! se a saber que os ministérios se recusam, um por um, aos cortes planeados. De repente, alguém terá vislumbrado O Orador: —É isso que é necessário para repor nos uma solução: se ninguém na administração central admite carris o projecto integrado de uma rede ferroviária, com cortes, corta-se no poder local! Saltou logo a Associação alguns troços de grande e alta velocidade, mas realista e Nacional de Municípios Portugueses, aliás com a razão de praticável do ponto de vista técnico e financeiro. representar quem, em comparação europeia, menos dinhei- E é, sobretudo, Sr. Presidente e Srs. Deputados, a única ro administra, a protestar: «Não há dinheiro? Corte-se no coisa decente que um Governo decente pode fazer com um TGV e no novo aeroporto!». E assim começa o Governo a projecto para o qual se anunciam mais de 1500 milhões de ser «comido» pela sua própria lógica, porque assim será contos, no momento em que já nenhum optimismo irres-com todos quando chegar a hora da verdade, isto é, quando ponsável pode esconder os sacrifícios que aí vêm. for mesmo preciso cortar; e essa hora já chegou.

Sr.as e Srs. Deputados, sendo absolutamente necessário O Sr. Presidente: —Sr. Deputado, peço-lhe que ter-que o Governo se muna da necessária autoridade para mine, pois já esgotou o tempo de que dispunha. impor a disciplina financeira indispensável, e sendo certo que ninguém pode atingir esse objectivo em vez dele, é O Orador: —Termino já, Sr. Presidente. obrigação da oposição continuar a incentivá-lo, se possível Há pouco mais de uma semana, o Governo foi, nesta com mais força ainda, a modificar a matriz dos seus com- Assembleia, interpelado sobre este e outros projectos alta-portamentos. mente gastadores e foi criticado pelo regresso à política do

betão em «tempo de vacas magras». O Sr. Primeiro-Vozes do CDS-PP: —Muito bem! Ministro ouviu a interpelação e, para a oposição ficar a perceber que com ele não se brinca, foi nessa mesma hora