42 | I Série - Número: 064 | 28 de Março de 2008
de vital importância para a dignificação e valorização da classe docente, para a qualidade da nossa escola 
pública e para a melhoria do nosso sistema educativo parecem-me atendíveis e pertinentes. Face à dimensão 
da contestação, importaria suspender o processo, repensar o modelo proposto e colher contributos tendentes 
à sua aceitabilidade. 
Sobre esta questão da avaliação do desempenho docente, e partilhando da convicção de que o anterior 
modelo precisava ser revisto e melhorado por forma a permitir um efectivo desenvolvimento docente, 
consequente melhoria do sistema educativo e reconhecimento do mérito e da competência, retomo a 
argumentação, no que diz respeito ao seu objecto e às suas finalidades, por mim anteriormente apresentada 
em declaração de voto sobre o Estatuto da Carreira Docente, elaborada na sequência da apreciação 
parlamentar ocorrida em 20 de Março de 2007. Uma verdadeira avaliação do desempenho dos professores 
permitirá simultaneamente fazer a monitorização do sistema educativo, com vista ao seu aperfeiçoamento. 
É meu entendimento que o desenvolvimento profissional docente é fundamental à promoção de uma 
escola de qualidade. O professor não nasce, faz-se. Aprende com a prática pedagógica, cresce em dimensão 
profissional com o passar do tempo, a experiência, os erros, a reflexão partilhada, num processo de 
aprendizagem contínuo. A sua acção enquadra-se sempre num contexto em que interagem diversos factores 
muitas vezes alheios à sua vontade. Avaliar, sim, para formar, melhorar o desempenho, cujos beneficiários 
naturais e imediatos serão os alunos, a escola e a sociedade, antes de classificar, premiar ou punir. Os 
professores são actores de mudança e têm todo o direito ao reconhecimento social do mérito da sua acção 
educativa junto das jovens gerações. 
Sempre me mereceu reparo o pretender responsabilizar-se unilateralmente os professores pelo insucesso 
e pelo abandono escolar. Educar é uma tarefa complexa e no processo de ensino-aprendizagem há factores 
que o professor não controla. O modo como o aluno assimila a informação, constrói o conhecimento e o 
transforma em saberes e lemas de vida é condicionado por uma multiplicidade de factores que transcendem a 
proficiência científica, pedagógica e relacional do professor. 
Importaria aqui incluir as políticas educativas, os desenhos curriculares, os conteúdos programáticos, as 
dinâmicas da escola, as características os interesses e a diversidade social e cultural de que se compõe a 
população que frequenta as nossas escolas, etc. Resumir tudo isto a meros resultados dos alunos e pretender 
contabilizá-los na ponderação da classificação a atribuir a um professor — com todas as consequências daí 
advindas — parece-me redutor, arbitrário, injusto e com possíveis efeitos perversos na qualidade do ensino e 
da escola pública. 
Sobre o abandono escolar, cujos índices são reconhecidamente preocupantes, reconheça-se que num país 
como o nosso, um dos primeiros da Europa a instituir com força de lei a escolaridade obrigatória (1835) mas 
que em 1974 apresentava uma taxa de analfabetismo de um em cada quatro portugueses, este não é um 
assunto imputável unicamente aos professores. É antes uma questão que se prende com o sermos um país 
fracamente escolarizado, que não privilegia os saberes escolares e onde a desistência da escola em troca de 
trabalho, muitas vezes precário e desqualificado é socialmente aceite. A situação económica de muitas 
famílias a isso empurra e até há no mercado oferta laboral, por factores ligados ao nosso nível de 
desenvolvimento social e cultural, por deficiente consciência cívica e escassa fiscalização e actuação por parte 
de quem deveria intervir nesta matéria. 
Por último, a avaliação do desempenho docente é um assunto tão sério e central ao desenvolvimento do 
sistema educativo que deveria resultar de uma colaboração concertada dos diversos actores envolvidos: os 
professores e as suas organizações representativas, as direcções das escolas, as instituições de formação de 
professores, os especialistas, os responsáveis governativos e outras entidades da sociedade. Um modelo de 
avaliação do desempenho tem de ser entendido e aceite pelos professores com um mecanismo indispensável 
ao desenvolvimento de uma consciência profissional, ao reconhecimento do mérito e da competência científica 
e pedagógica e não como um instrumento de julgamento baseado em parâmetros e critérios de objectividade 
duvidosa, sentido pelos professores como parecendo perseguir outros fins que não a promoção da qualidade 
da educação. Por todas estas razões se apresenta esta declaração de voto. 
A Deputada do PS, Maria Júlia Caré. 
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