32 | I Série - Número: 010 | 9 de Outubro de 2008
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Muito bem!
O Sr. Francisco Madeira Lopes (Os Verdes): — Portanto, se isto não é uma política de Estado mínimo, não sei o que será, Sr. Primeiro-Ministro!
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Muito bem!
O Sr. Francisco Madeira Lopes (Os Verdes): — Depois, o Sr. Primeiro-Ministro veio fazer outra coisa, absolutamente extraordinária, que foi ter a muito distinta «lata» de querer passar as responsabilidades — todas! — da situação económica nacional para a crise económica internacional. O Sr. Primeiro-Ministro por mais do que uma vez disse: «A culpa é da economia internacional». Portanto, V. Ex.ª, apesar de ter usado, muitas vezes a palavra «responsabilidade» não tem qualquer responsabilidade.
Ora, vejamos esta crise internacional, então: o crash das bolsas, em todo o mundo, a falência das instituições financeiras, nacionalizações de bancos — mas, afinal, qual é que é a história desta crise? Especulação do imobiliário: em Portugal, não houve especulação do imobiliário!
A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Nada!…
O Sr. Francisco Madeira Lopes (Os Verdes): — Isso é uma coisa estranhíssima para Portugal! Facilitação intensiva ao uso do crédito desregulado: também não houve em Portugal. Isso é só nos Estados Unidos da América, ó Sr. Primeiro-Ministro.
E, depois, Sr. Primeiro-Ministro, o que convém assinalar é que há uma característica fundamental, nesta crise, que é: a falta de liquidez prende-se com a impossibilidade, com a dificuldade que os portugueses, como os outros cidadãos noutros países do mundo, estão a ter, em cumprir as suas responsabilidades, em pagar as suas dívidas. E isso porquê? Porque temos vindo a assistir a uma desvalorização, a uma perda do poder de compra dos portugueses; e, por essa, o Sr. Primeiro-Ministro tem de responder, porque é essa que está na base desta crise, não só em todo o mundo, como também em Portugal.
Portanto, a minha pergunta é esta, Sr. Primeiro-Ministro: vão finalmente aumentar os salários, no próximo ano?
O Sr. Presidente: — Para responder, tem a palavra o Sr. Primeiro-Ministro.
O Sr. Primeiro-Ministro: — Sr. Presidente e Srs. Deputados, Sr. Deputado Francisco Madeira Lopes, a crise financeira mundial, que estamos a viver, tem uma origem, bem identificada. E é absolutamente injusto, para não dizer oportunista, que se confunda tudo.
Essa origem é o sistema financeiro dos Estados Unidos da América, absolutamente desregulado, não controlado por regras do Estado — foi aí que começou e se desenvolveu o problema; a origem está completamente identificada — e, em particular, os bancos de investimento que foram entregues a si próprios, por decisão do Governo dos Estados Unidos da América, e não sujeitos à supervisão e à regulação financeira.
A origem desta crise nos mercados é essa e não outra.
Eu compreendo que dê jeito a muita gente querer «meter tudo no mesmo saco». Mas é absolutamente injusto, porque grande parte dos problemas, que o sistema financeiro europeu está a sofrer, provém e resulta das consequências do sistema financeiro dos Estados Unidos da América. Isso é absolutamente objectivo e não dúvidas.
O que é absolutamente espantoso é que alguns venham, agora, dizer que os problemas no sistema financeiro americano resultantes do subprime resultaram, digamos assim, de uma ideia de socialização do crédito. Quero dizer, os banqueiros estavam interessados em conceder crédito aos «probrezinhos» e foi essa ideia da socialização que estragou o capitalismo. Isto é o máximo do cinismo! O que estragou este sistema financeiro foi a ausência de regulação e o comportamento pouco escrupuloso dos seus dirigentes e dos seus responsáveis.
Aplausos do PS.