46 I SÉRIE — NÚMERO 94
A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Ora, o que é que acontece? O voto no Partido Socialista implica
exactamente o oposto. O Sr. Ministro sabe que as pessoas votaram num programa do Partido Socialista mas o
Partido Socialista, quando chegou ao Governo, fez exactamente o oposto daquilo a que se tinha
comprometido com as pessoas, no seu programa eleitoral. Isto é que é incoerência total, isto é que é
altamente descredibilizador! Portanto, Sr. Ministro, não critique a coerência e a seriedade política, concretize-
a!
Sr. Ministro dos Assuntos Parlamentares, permita-me que lhe diga que Os Verdes não temem a arrogância
de nenhum Ministro ou de outro membro do Governo, nem a do Sr. Ministro em particular. E refiro-me à
resposta que o Sr. Ministro deu ainda há pouco.
Agora, Sr. Ministro, lamentamos mas existe uma Constituição da República Portuguesa e um Regimento da
Assembleia da República. E sabe o que é que dizem? Dizem que o Governo é fiscalizado pela Assembleia da
República. Ora, Os Verdes têm muita consciência daquele que é o papel e a responsabilidade dos Deputados,
que é justamente a de colocar questões ao Governo e obter respostas da sua parte, porque, se não, andamos
aqui todos a brincar às democracias, e Os Verdes não estão na Assembleia da República para brincar às
democracias. Se o Governo o fez, diversas vezes, durante este mandato, durante esta Legislatura,
lamentamos mas não entramos nesse jogo. Sim, queremos respostas! É verdade! Estamos aqui à procura de
respostas — assumimos isto perfeitamente e exigimos essas respostas por parte do Governo. Isto não é
legítimo?! Para o Governo não é, mas para Os Verdes é legítimo!
Sr. Deputado Jorge Seguro Sanches, este é um tema central para o desenvolvimento do País. Talvez,
provavelmente por isso, foi trazido por Os Verdes à Assembleia da República e não pelo Partido Socialista.
O Sr. Jorge Seguro Sanches (PS): — Só agora?!…
A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Bom, essa história de que Os Verdes são contra tudo é sempre o
argumento de quem não tem mais argumentos para apresentar. É o desespero total, como, de resto, o Sr.
Deputado Francisco Madeira Lopes já aqui teve oportunidade de referir. Chegam ao ponto de dizer que Os
Verdes são a favor do nuclear!… Ó Sr. Deputado, por amor de Deus, invente outra! Invente outra, porque essa
representa o descrédito total!
Sr. Deputado, já nós aqui andávamos, com precaução — porque, no que se refere ao princípio da
precaução, aplicamo-lo em tudo —, na Assembleia da República, a questionar o Governo sobre a questão do
nuclear, assumindo, evidentemente, a nossa oposição total, como sempre fizemos, e o Governo ainda dizia:
«Ah! Não está na agenda do Governo». Foi preciso tirar a saca-rolhas, Sr. Deputado, mas conseguimos
resposta por parte do Governo: não ao nuclear! Andaram por aí a tremer, em função dos interesses que altos
negócios no País reclamavam, mas Os Verdes não tremem nestas questões!
Então, e esquecem as inúmeras propostas que Os Verdes apresentaram, durante esta Legislatura, em
torno da eficiência energética e das energias renováveis?!
O Sr. Francisco Madeira Lopes (Os Verdes): — Bem lembrado!
A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Os Verdes são contra tudo?! Os senhores chumbaram tudo, tudo
aquilo que Os Verdes apresentaram! Afinal, quem é que é contra tudo?! Quem é que é contra tudo?! Os
Verdes apresentaram inúmeras propostas na área da eficiência energética, designadamente ao nível fiscal, da
consignação do ISP para uma questão de que os senhores nunca falam e que é fundamental em termos
energéticos, que é a questão dos transportes, a qual fica sempre arredada do vosso debate. Porquê, se
estamos a falar, de facto, de um dos sectores que gera a maior dependência energética em Portugal?! Está
sempre, sempre, sempre arredado dos vossos debates!
Nós denunciámos aqui questões que estão a travar o desenvolvimento da energia solar, mas os senhores
olharam para o lado, assobiaram para o lado e não querem saber. Transformaram o potencial da energia solar
deste País num negócio! Não querem a sua expansão, querem é que alguém, uns poucos, beneficie com isso!
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Os amiguinhos da Mota-Engil!