I SÉRIE — NÚMERO 2
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Aparentemente, e apenas pela leitura do título, o PCP pode identificar-se com uma iniciativa que pretenda
promover o acesso das pessoas com deficiência ao lazer, à ocupação dos tempos livres, à fruição cultural.
Como poderíamos não concordar que os cidadãos em geral, e também as pessoas com deficiência,
tenham acesso a um direito que foi uma das mais importantes conquistas sociais dos trabalhadores no século
passado?
Acontece, contudo, que o objetivo do PSD e do CDS-PP não é que os cidadãos portugueses tenham
acesso a um turismo acessível e de qualidade, ao contrário do que o título do projeto indica. O que estes
partidos recomendam ao Governo é que tire partido deste nicho de mercado, porque é considerável o número
de pessoas com deficiência, nomeadamente estrangeiras, que fazem turismo em Portugal.
A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Exatamente!
A Sr. João Ramos (PCP): — Mas como pode o País aspirar a atrair turistas com deficiência quando tem
um nível de acessibilidade aos serviços públicos miserável, quando tem um nível de acessibilidade a
monumentos e a museus compatível com o seu degradante estado de conservação e quando se trata de um
País em que as pessoas com deficiência estão entre as mais pobres e as mais desprotegidas?!
Vozes do PCP: — Exatamente!
O Sr. João Ramos (PCP): — Como podem vender Portugal como um País de turismo acessível quando os
portugueses com deficiência estão entre os cidadãos mais discriminados?
A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Exatamente!
O Sr. João Ramos (PCP): — Esta incongruência não é explicada no projeto de resolução, mas são
precisamente os partidos que mais dizem preocupar-se com a imagem do País lá fora que se esquecem que a
forma como tratamos os mais desprotegidos diz muito do País em que nos transformámos.
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Muito bem!
O Sr. João Ramos (PCP): — Infelizmente, o projeto de resolução do PS não descola desta linha de
aproveitamento da potencialidade de crescimento económico trazida pela implementação de uma estratégia
desta natureza.
Tanto num como noutro projeto, o que está subjacente não são as pessoas com deficiência mas, sim, o
potencial económico que representam as suas características, e com isto não podemos concordar.
A Sr.ª Rita Rato (PCP): — É uma vergonha!
O Sr. João Ramos (PCP): — Por fim, não deixa de ser caricato que o projeto do PSD/CDS se assuma
como um contributo para que o setor ultrapasse uma das suas dificuldades, que é a sazonalidade.
Então, os partidos que suportam o Governo esqueceram que ao acabar com os feriados, ao apontar as
pontes como um dos grandes males do País, ao reduzir os salários e o número de dias de férias aos
trabalhadores,…
A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Bem lembrado!
O Sr. João Ramos (PCP): — … deram uma forte machadada nas férias repartidas, férias essas que se
promoveram durante anos precisamente para combater a sazonalidade?!
Vozes do PCP: — Bem lembrado!