I SÉRIE — NÚMERO 13
22
O Sr. Miguel Tiago (PCP): — Sr.ª Presidente, Sr. Ministro da Economia e do Emprego, vou apenas tocar
num dos setores que ilustra muito bem a política que este Governo vem prosseguindo e, também, a evidência
da necessidade de uma alternativa.
O Sr. Ministro tem conhecimento, certamente, de um estudo do LNEG (Laboratório Nacional de Energia e
Geologia) sobre o potencial dos recursos geológicos e mineiros do nosso País, que os estima, algures, entre o
valor equivalente a um PIB e dois PIB, em termos comparativos, apenas nas reservas identificadas.
A primeira questão muito concreta que lhe coloco é a seguinte: como podem o Sr. Ministro e o seu Governo
colocar a saque e entregar, quase de borla, estes recursos e esta riqueza a empresas estrangeiras,
curiosamente, algumas das quais até canadianas, que certamente o Sr. Ministro conhecerá bem por ter
privado com elas?
Protestos de Deputados do PSD.
Como podemos tolerar, Sr. Ministro, que o Governo, ao invés de apostar na capitalização desta riqueza
para o País, no seu investimento e, até, na sua modernização no plano industrial, vá entregá-la de mão
beijada a estes grupos — e não só! —, submetendo, inclusivamente, a estratégia nacional à estratégia destes
grupos económicos, que ora mineram, ora não mineram, de acordo com o que querem e pretendem do valor
do minério no mercado internacional?
Como pode o Sr. Ministro (e este Governo) abdicar da construção de uma fileira em Portugal,
nomeadamente que atinja a indústria transformadora, para valorizar a integralidade destes recursos e destas
riquezas?
Mais grave, Sr. Ministro: numa altura como esta, em que o País atravessa uma profunda recessão, com
profundas e graves dificuldades — o Sr. Ministro diz que este Orçamento do Estado é difícil, mas não é para
si, é para os portugueses que vivem do seu trabalho, daqueles que vivem do seu esforço —, como pode pôr a
saque e entregar ao estrangeiro esta riqueza nacional que, com o devido investimento público, com a
valorização da fileira e, inclusivamente, com a valorização da transformação da matéria-prima em Portugal,
poderia representar uma grande alavanca para o desenvolvimento do País, com o controlo público sobre a
extração e sobre a estratégia de extração?
O Sr. Ministro nem sequer coloca limites, mínimos e máximos, à extração: se a empresa não quiser, não
faz a exploração, e o País fica sujeito a esses caprichos da empresa.
O Sr. Ministro disse aqui que tudo isto era a bem do superior interesse da Nação, a bem do superior
interesse nacional. Mas, a bem do superior interesse nacional estão as pessoas, lá fora, fartas de gritar contra
este Governo, também através do seu trabalho e do seu esforço, porque isso é exatamente o contrário do que
o Sr. Ministro e o seu Governo fazem.
Aplausos do PCP.
A Sr.ª Presidente: — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado José Luís Ferreira.
O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — Sr.ª Presidente, Sr. Ministro da Economia: Portugal foi o terceiro
País da OCDE, depois da Grécia e da Espanha, que mais destruiu empregos no 2.º semestre deste ano. São
dados que, de certa forma, não surpreendem, porque o desemprego em Portugal tem vindo a agravar-se,
assustadoramente, de dia para dia, e cada dia que passa acaba por ser pior do que o dia que passou.
São dados que não surpreendem, mas que nos devem preocupar a todos, inclusivamente, devem
preocupar o Governo. E nós — é verdade —, de facto, não temos nenhum ministério do desemprego. Mas,
pelo menos do ponto de vista formal, nós temos o Ministério do Emprego, ainda que isso passe quase
desapercebido, quase ninguém dá por ela!
Sr. Ministro, que medidas para combater o desemprego? De que forma é que a decisão do Governo de
despedir mais uns bons milhares de funcionários da Administração Pública contribui para combater o
desemprego?