I SÉRIE — NÚMERO 15
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A insistência do Governo em entregar a RTP 1 a interesses privados, permitindo centenas de horas de
publicidade adicional em sinal aberto, é o derradeiro prego no caixão da imprensa, ameaçando a viabilidade
da maioria das rádios e da imprensa escrita.
Sr.as
Deputadas e Srs. Deputados, não é possível falar na crise da imprensa sem nomear aquela que é,
porventura, a maior ameaça que paira sobre toda a comunicação social em Portugal: a falta de transparência
da propriedade.
As notícias de que a Controlinveste, que detém, entre outros, a TSF, o Jornal de Notícias e o Diário de
Notícias, está a caminho de ser vendida a um grupo desconhecido de capital angolano não podem descansar
ninguém. O mesmo já acontece com o jornal I e o jornal Sol, nas mãos de investidores angolanos que
ninguém conhece nem sabe quem são.
Se o negócio da Controlinveste avançar, uma fatia de leão da imprensa nacional fica em mãos
desconhecidas, de responsáveis de um País onde a liberdade de imprensa é uma miragem.
Não se pode esperar que a imprensa lute pela transparência do poder político e económico se ela própria é
refém de interesses incógnitos e escondidos.
Vozes do BE: — Muito bem!
A Sr.ª Catarina Martins (BE): — É por isso que não podemos deixar de lembrar que PSD e CDS
chumbaram, nesta Legislatura, propostas para a transparência da propriedade que o Partido Socialista e o
Bloco de Esquerda aqui apresentaram. De que estão à espera? O que têm a esconder? Afinal, quanto vos
incomoda a autonomia dos jornalistas e da imprensa?
Pode o Governo não perceber esta preocupação, mas não há nada pior para a democracia do que um
poder não escrutinado por uma imprensa fraca e a lutar por sobreviver.
Aplausos do BE.
Sr.as
e Srs. Deputados: Sem redações fortes, sem jornalistas independentes, não há liberdade de imprensa.
A precarização das jornalistas e dos jornalistas é a outra grande ameaça que paira sobre a nossa democracia.
Redações reduzidas e precárias não garantem a capacidade de investigação, de cruzamento de fontes, de
validação de informação e de fiscalização, que são próprias da comunicação social forte que faz forte a
democracia.
O Estado desinvestir nos serviços públicos de comunicação social, Lusa e RTP, será sempre um erro.
Neste momento, é um desastre, como desastre é o fim anunciado do porte pago, pondo em causa a maioria
dos jornais regionais e da imprensa semanal que dependem das assinaturas.
Uma comunicação social sem recursos e em permanente guerra para captar audiências e anunciantes não
interessa a ninguém. Conduz à degradação da informação, ao fim do jornalismo de investigação, à diluição da
autonomia dos seus profissionais, à diminuição da independência face ao poder político e económico e à
tabloidização de toda a imprensa, incluindo a de referência.
Que esse seja o sonho do Ministro Miguel Relvas, compreendemos, mas a democracia não o pode aceitar.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (António Filipe): — A Sr.ª Deputada tem um pedido de esclarecimento e como dispõe de
3 segundos para responder…
O Sr. Luís Fazenda (BE): — Sr. Presidente, peço a palavra para interpelar a Mesa.
O Sr. Presidente (António Filipe): — Tem a palavra, Sr. Deputado.
O Sr. Luís Fazenda (BE): — Sr. Presidente, a praxe é a de que não há pedidos de esclarecimento neste
debate, que é circular, mas, em todo o caso, não obstamos a que haja uma resposta curta a qualquer pedido