28 DE NOVEMBRO DE 2012
35
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Um escândalo!
A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Uma vergonha!
O Sr. António Filipe (PCP): — Este Orçamento só vai acentuar a recessão e o desemprego. Os micro,
pequenos e médios empresários veem as suas empresas e as suas vidas destruídas pela falta de crédito
bancário, pela cessação de pagamentos que lhes são devidos, pela perda de poder de compra da maioria da
população e confrontam-se com a total insensibilidade do Governo e da maioria perante a destruição, às suas
mãos, da espinha dorsal do tecido empresarial português. A irracionalidade da manutenção do IVA da
restauração na taxa máxima de 23%, contra todos os apelos e perante a evidência das consequências
catastróficas dessa medida para a nossa economia e para o nosso tecido social, é uma elucidativa imagem de
marca deste Orçamento e do Governo insensato e irresponsável que o impõe.
Este Orçamento é um assalto ao bolso dos trabalhadores, dos reformados e das camadas mais
desfavorecidas, mas salvam-se os ricos e os poderosos, os grupos económicos e financeiros, os que sempre
se furtaram a pagar impostos, por via de benefícios e isenções fiscais ou por manobras de engenharia fiscal,
de distribuição antecipada de dividendos ou do recurso a paraísos fiscais.
Ao contrário do que afirma o Governo, a repartição dos sacrifícios não é justa nem equitativa. Mantêm-se
escandalosos benefícios ao grande capital em sede de IRC, não são tributadas as mais-valias mobiliárias das
SGPS e adia-se para as «calendas gregas» a tributação das transações feitas nos mercados financeiros.
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Exatamente!
O Sr. António Filipe (PCP): — Se a maioria não tivesse rejeitado as propostas apresentadas pelo PCP na
especialidade, visando a equidade fiscal, obter-se-ia uma consolidação orçamental que evitaria o assalto fiscal
que é este Orçamento e permitiria repor os subsídios de férias e de Natal injustamente confiscados aos
trabalhadores e aos reformados.
Vozes do PCP: — Muito bem!
O Sr. António Filipe (PCP): — Este Orçamento é um atentado contra a economia nacional. O Governo
pretende vender ao desbarato as mais estratégicas empresas nacionais, como a ANA, a TAP, os CTT, a CP
Carga, ou os Estaleiros Navais de Viana do Castelo.
Este Orçamento, de recessão, de desemprego, de empobrecimento, de ataque ao mundo do trabalho, de
atraso económico e social, que gera o desespero no presente e a descrença no futuro, segue um rumo
acelerado de desastre nacional que só a derrota deste Governo e desta política permitirá travar.
A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Muito bem!
O Sr. António Filipe (PCP): — Quando este Governo tomou posse, em 2011, as medidas de austeridade
seriam temporárias e limitadas ao período do chamado «programa de assistência» e seriam suficientes para
corrigir o défice, travar o endividamento e recuperar a confiança dos mercados.
Quando aqui apresentou o Orçamento do Estado para 2012, o Sr. Primeiro-Ministro caracterizou-o como o
«Orçamento da estabilização da economia portuguesa» e como o «Orçamento que prepararia a recuperação
económica do País». Considerou-o uma etapa necessária para o crescimento do produto e do emprego. Era
também um Orçamento «realista, equilibrado e robusto», seria o «salvo-conduto da economia portuguesa
durante tempos de intempérie».
Este Orçamento, porém, não só não foi o salvo-conduto como foi a própria intempérie. Nem recuperação,
nem crescimento do produto, nem crescimento do emprego, nem estabilização. Mas, apesar da evidência do
rotundo fracasso dessa política, o Governo e a troica insistem em mais e pior do mesmo.
Perante a evidência do fracasso dos objetivos proclamados pelo Orçamento para 2012 e a certeza do
fracasso do Orçamento para 2013, o que se anuncia é uma famigerada «refundação do Estado» assente num
corte de mais 4000 milhões de euros que representaria, a ser levado por diante, um golpe de Estado destinado