I SÉRIE — NÚMERO 28
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de junho. Nenhum projeto, porque este Governo não tem iniciativa, mesmo quando o dinheiro está à
disposição de Portugal.
Defendemos linhas de crédito para a nossa economia, como aquela que foi aprovada no Conselho Europeu
que se realizou em junho, e a separação da dívida dos bancos da dívida pública de cada país.
Defendemos a convergência fiscal, por uma questão de equidade mas também para manter uma
concorrência séria, limpa e justa entre as empresas. Não é aceitável que uma empresa portuguesa tenha que
se financiar com juros a 7% ou a 8% e que uma outra empresa, que concorre no mesmo mercado, se possa
financiar com juros a 1%, a 2% ou a 3%. Essa concorrência é desleal, e o Primeiro-Ministro, sobre esse
assunto, «cruza os braços», como aliás em relação a outros, porque se resigna, sendo incapaz de defender na
Europa os interesses de Portugal e os interesses das empresas portuguesas.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente (António Filipe): — Sr. Deputado, queira fazer o favor de concluir.
O Sr. António José Seguro (PS): — As propostas concretas existem, o que não existe é vontade política para as adotar e, nalguns casos, sendo adotadas, tarde e a más horas para as concretizar. E não existe
vontade política tanto por razões ideológicas como por resignação. No caso português, isso sucede pelas duas
razões: por razões ideológicas e por ausência de iniciativa.
Vou terminar, Sr. Presidente, usando da mesma generosidade de tempo de que o Primeiro-Ministro gozou,
dizendo que aquilo de que a Europa e Portugal precisam neste momento é de uma aliança de países com
interesses comuns, que sejam capazes de erguer a sua voz, independentemente das suas famílias políticas, e
de defender os interesses das pessoas.
A Europa, no momento em que vários países estão em recessão e em que outros estão a fazer
ajustamentos, precisa de adotar políticas anticíclicas, de dinamizar a sua economia, de gerar riqueza, de
colocar os seus excedentes comerciais no sentido de ajudar à dinamização da economia e de responder às
graves dificuldades e aos elevados níveis de desemprego que existem no nosso País.
Espero que os dados do INE, já conhecidos por todos os portugueses, que apontam para uma contração
maior do que a prevista da nossa riqueza no terceiro trimestre deste ano, possam fazer com que a
«campainha lhe soe». Sabe porquê, Sr. Primeiro-Ministro? Porque o seu tempo está a esgotar-se.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente (António Filipe): — Tem agora a palavra o Sr. Deputado Jerónimo de Sousa.
O Sr. Jerónimo de Sousa (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Deputados, Srs. Membros do Governo: No próximo Conselho Europeu, a questão central será a soberania e a democracia. Estamos perante um salto de
transferência de parcelas de soberania do Estado em novas áreas, o que é o caso da supervisão bancária.
No limite, como já é admitido, será uma entidade supranacional, nos casos em que se verifique a ausência
de medidas adequadas por parte das autoridades nacionais, a decidir sobre o destino e a existência ou não de
instituições bancárias nacionais. Ou seja, processos de fusão e de concentração de capital financeiro passam
a ser diretamente determinados e organizados a partir de instituições supranacionais, que são controladas,
como bem sabemos, por esse mesmo capital financeiro. É mais um passo na submissão e na concentração e
centralização do poder económico e político.
O novo instrumento financeiro, chamado para a convergência e a competitividade, afinal o que é?
Poderemos ver situações como a que sucede nos fundos comunitários (que agora nos cortam no
orçamento da União Europeia, em especial nos casos das verbas de coesão), que são utilizados para financiar
novos setores, para financiar despedimentos, flexibilização laboral e liberalização de serviços — as chamadas
reformas estruturais. Vale como exemplo, Sr. Primeiro-Ministro, desta União Europeia, que muitos
proclamaram de coesão, de solidariedade… Pois, aqui temos uma União Europeia que usa os fundos para
despedir e não para criar emprego, não para criar crescimento e desenvolvimento económico!