19 DE JANEIRO DE 2013
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Aplausos do BE.
Isso ilude o problema de fundo, isso é uma chantagem falsa, porque se trata de cortar onde não há efeitos
recessivos. Cortar nos juros, cortar na dívida, essas, sim, é que eram medidas úteis para o País e para os
portugueses.
Sr. Primeiro-Ministro, o Governo realizou esta semana, no Palácio Foz, uma reunião que qualifico entre o
secreto e o amordaçado, digamos assim, que foi um requiem pelo Estado social, segundo a cartilha do FMI.
Sr. Primeiro-Ministro, não estou muito interessado, nem quero saber, se o relatório do FMI foi uma
encomenda do Governo — já todos sabemos do grande envolvimento da maior parte dos ministros do seu
Governo nesse relatório — nem tão pouco se foi um frete que fez ao Governo, como alguns dizem.
A esse propósito, interessa dizer é que o Governo cumpre o que o FMI diz e manda. Tem sido assim desde
que o programa de execução existe e desde o início do seu Governo.
Sr. Primeiro-Ministro, quero perguntar-lhe o seguinte: cabe na cabeça de alguém (permita-me a expressão)
ir perguntar ao credor o que é que há de fazer para pagar o dinheiro que lhe deve? Só mesmo o Sr. Primeiro-
Ministro e o seu Governo é que se lembram de cair numa situação tão insólita!
Sabemos hoje que o FMI sugere cortes que vão de 10 000 a 16 000 milhões de euros. Sabemos também
que o seu Governo decidiu cortar, pelo menos, 4000 milhões de euros — não nos diz onde, mas todos já
sabemos onde é que vai ser e também não nos diz quais são as consequências desse corte para a economia
do País e para a vida das pessoas. Isso não diz, mas diz uma outra coisa: promete recuperação económica e
recuperação do País.
A minha pergunta é a seguinte, Sr. Primeiro-Ministro: como é que vão recuperar as dezenas de milhares de
funcionários da Administração Pública que o seu Governo vai despedir? Explique-nos lá como é que vão
recuperar as centenas de milhares de pensionistas cujas pensões o seu Governo vai cortar? Explique-nos lá
como é que vão recuperar os milhares de desempregados que perderam o subsídio de desemprego?
Explique-nos lá como é que vão recuperar os doentes a quem o senhor reduziu o subsídio de doença?
A Sr.ª Presidente: — Queira terminar, Sr. Deputado.
O Sr. João Semedo (BE): — Vou terminar, Sr.ª Presidente,
Explique-nos lá, Sr. Primeiro-Ministro, como é que vão recuperar o Serviço Nacional de Saúde e a escola
pública depois da terraplanagem que o seu Governo pretende fazer sobre isso, entregando-os ao setor privado
e desarticulando aquela que é uma riqueza do País, isto é, o Estado social, a democracia social, que o nosso
País soube construir nas últimas décadas.
Aplausos do BE.
A Sr.ª Presidente: — Tem a palavra o Sr. Primeiro-Ministro.
O Sr. Primeiro-Ministro: — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado João Semedo, o Estado social que o País soube
construir nas últimas décadas tem pés de barro.
O Sr. João Semedo (BE): — Na sua opinião!
O Sr. Primeiro-Ministro: — É verdade, Sr. Deputado. Não é a minha opinião, é a realidade. E podemos
querer ver a realidade ou não.
O Sr. João Semedo (BE): — Não é a realidade!
O Sr. Primeiro-Ministro: — A realidade é que Portugal, em 2011, não tinha dinheiro para pagar nem o
Estado social nem o resto.