I SÉRIE — NÚMERO 46
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Vozes do PCP: — Muito bem!
A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Contudo, desde a apresentação do Programa do Governo PSD/CDS, ficou claro
que o combate à precariedade e aos falsos recibos verdes não era um objetivo. Pelo contrário, todas as
medidas têm conduzido a mais precariedade e a uma tentativa de legalização dos falsos recibos verdes.
Em diversos aspetos, este Governo PSD/CDS decidiu mesmo avançar para a sedimentação destas
situações no mundo do trabalho, criando falsas saídas e agravando as condições de vida de milhares de
trabalhadores, sobretudo jovens.
É disto exemplo o caso dos descontos para a segurança social e para o acesso ao subsídio de
desemprego, quando a entidade patronal é totalmente desresponsabilizada, sobrecarregando exclusivamente
os trabalhadores.
Vozes do PCP: — Exatamente!
A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Aliás, o Governo PSD, com o apoio do PS, alterou para pior o Código do
Trabalho, com a aprovação de medidas profundamente gravosas: a generalização da precariedade; o
embaratecimento e a facilitação dos despedimentos; cortes salariais; aumento do horário de trabalho;
agravamento da articulação da vida pessoal, familiar e profissional.
Sr. Presidente, Sr. Deputados: Hoje, no nosso País, existem mais de 1,2 milhões de trabalhadores com
vínculo precário, sendo uma fatia significativamente referente a falsos recibos verdes. Cerca de 25% do
emprego total obedece a uma hierarquia, tem um horário de trabalho definido, tem uma remuneração fixa, mas
não tem um contrato com direitos. A grande maioria destes trabalhadores ocupa um posto de trabalho
permanente, mas não tem um vínculo efetivo.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!
A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Jornalistas, enfermeiros, terapeutas, psicólogos, designers, amas da segurança
social ocupam um posto de trabalho permanente, mas não têm um contrato com direitos, não têm qualquer
proteção na doença e na gravidez, não têm subsídio de férias ou de Natal e os falsos recibos verdes roubam-
lhes 30% do salário mensal.
A precariedade dos contratos de trabalho e dos vínculos é a precariedade da família, é a precariedade da
vida, mas é igualmente a precariedade da formação, das qualificações e da experiência profissional; é a
precariedade do perfil produtivo e da produtividade do trabalho.
A precariedade laboral é, assim, um fator de instabilidade e de injustiça social, mas é, em paralelo, um fator
de comprometimento do desenvolvimento do País.
Sr. Presidente, Sr. Deputados: Recordamos, hoje, aqui a definição do Instituto Nacional de Estatística, nos
formulários dos Censos para 2011, que dão, inclusivamente, razão às propostas que hoje aqui trazemos: «Se
trabalha a recibos verdes mas tem um local de trabalho fixo dentro de uma empresa, subordinação hierárquica
efetiva e um horário de trabalho definido, deve assinalar a opção ‘trabalhador por conta de outrem’» —
exatamente o que nós aqui propomos!
Para o PCP, não só é possível como é urgente promover, de uma vez por todas, um efetivo combate aos
falsos recibos verdes para trazer a justiça à vida de milhares de trabalhadores que são duramente explorados
e sujeitos a uma brutal precariedade. Urge a criação de mecanismos dissuasores do recurso a estas práticas
ilegais.
Propomos, por isso, que detetada uma situação de irregularidade de recurso ilegal à prestação de serviços
que imediatamente seja convertida esta prestação de serviços em contrato sem termo, cabendo então à
entidade patronal provar a legalidade do recurso aos falsos «recibos verdes».
Propomos, por isso, a inversão do ónus da prova.
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Muito bem!