I SÉRIE — NÚMERO 49
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quadro plurianual. Portanto, não nos diga que há alguma luz ao fundo do túnel por estarmos mais próximos da
proposta inicial da Comissão, porque ela mesma já significava uma redução grande nesse quadro plurianual
de financiamento, ou seja, estamos sempre a falar de menos investimento e de mais austeridade.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Muito bem!
A Sr.ª Catarina Martins (BE): — Isto quer dizer que, embora o Governo aqui tenha anunciado, há pouco
tempo, que o próximo quadro plurianual, o próximo Quadro de Referência Estratégico Nacional (QREN), seria
um balão de investimento, não o vai ser. Isso não corresponde à verdade, não será assim, será antes mais
austeridade e menos investimento. E sabe-se já que também não será a oportunidade para a agricultura que
os senhores prometeram. Chamem-lhe agricultura ou lavoura, a verdade é que vai ficar com menos
investimento, com menos dinheiro, numa situação pior.
Portanto, o Sr. Primeiro-Ministro vem aqui preparar-nos para o falhanço, baixar as expetativas, dizer-nos
que vai ser um mau acordo, e que vai ser assim mesmo. Não há nenhuma ambição, nenhum compromisso
nas suas palavras, não há nada que nos diga que tem a mínima capacidade para defender o País. Vem aqui já
derrotado dizer que vai viabilizar um mau acordo para o País, que será dócil como sempre na Europa.
Do que nós precisávamos era de um Primeiro-Ministro que fosse à Europa dizer que a austeridade está a
dar cabo de cada país e da Europa e que a austeridade do sul da Europa se estende ao centro; que olhasse
para as grandes economias europeias em imensas dificuldades, como são os casos de Espanha e de Itália, e
percebesse que a austeridade é a recessão e está a matar a Europa; que olhasse para a Alemanha, que está
a parar, e percebesse que a recessão se estende a toda a Europa e está a matá-la; que olhasse para a
economia mundial a parar e percebesse que já ninguém sequer pode acreditar numas miraculosas
exportações para salvar a economia.
Com a austeridade não há nenhuma saída para a espiral recessiva. E o Sr. Primeiro-Ministro, como
sempre, será dócil na Europa.
Esperava-se que o Sr. Primeiro-Ministro tivesse voz e dissesse que é preciso uma nova política, dissesse
que o País não pode pagar estes juros abusivos, não pode pagar mais juros do que aqueles que os bancos
pagam; que há um plano para o País e para a crise que passa pela Europa; que é preciso trocar os títulos da
dívida a 10 anos por títulos da dívida a 30 anos; que é preciso que os juros estejam vinculados ao crescimento
do produto interno bruto e que só podemos pagar se a economia crescer; que é preciso anular a dívida já
paga; que é preciso acertar as contas para que haja dinheiro e capacidade para investimento.
A verdade é que há alternativa. Pode o Sr. Primeiro-Ministro chamar-lhe de extrema-esquerda ou o que
quiser, mas o que sabemos é do extremismo deste Governo para com a sua população e a sua inteira falta de
capacidade de apresentar uma alternativa, uma ideia para o futuro.
A verdade é que também não esperamos nada deste Conselho Europeu. O Sr. Primeiro-Ministro será dócil
como sempre, como foi com o Banco Central Europeu (BCE): era contra a intervenção do BCE enquanto
Ângela Merkel também o era, mas quando ela passou a achar que até poderia acontecer, aí o Sr. Primeiro-
Ministro até passou a elogiar a intervenção do BCE.
A verdade é que se perdeu tempo, perdeu-se imenso tempo, e a mutualização da dívida europeia é
fundamental para o futuro. Com o Sr. Primeiro-Ministro, infelizmente, tudo o que sabemos é que vamos
continuar a perder tempo.
Aplausos do BE.
A Sr.ª Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Heloísa Apolónia, de Os
Verdes.
A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Sr.ª Presidente, Srs. Deputados, Sr. Primeiro-Ministro: Os Verdes
creem que os orçamentos de financiamento comunitários deveriam servir para tornar os Estados-membros
mais robustos e para gerar maior coesão territorial dentro da União Europeia, mas, em bom rigor, não é isso
que tem acontecido ao longo dos últimos anos, no tempo em que estamos na União Europeia, e sentimo-lo, de
facto, na pele.