I SÉRIE — NÚMERO 52
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mas querer dar aos juros da dívida uma prioridade absoluta na despesa pública, para lá das funções
essenciais do Estado, bem definidas na Constituição, seria um erro demasiado grande, uma subversão dos
princípios fundamentais de um Estado democrático, como aliás assinala e bem o Tribunal de Contas no seu
parecer.
Mas o Governo português deve fazer muito mais, para lá da adequada transposição do Tratado de
Estabilidade. O Governo português deve, isso sim, lutar na Europa (e não ser sempre um beneficiário
contrariado) por um novo consenso em torno das políticas de crescimento económico no espaço europeu.
Agora que (mesmo contra a opinião do Governo português) temos uma ação decisiva do BCE na estabilização
da crise das dívidas soberanas, é preciso criar os instrumentos de regresso ao crescimento económico, uma
vez que já se percebeu que a austeridade excessiva só gerou mais recessão.
Precisamos de um Governo que aja na Europa pelo cumprimento da Agenda 2020, com mais crescimento
inteligente e competitivo no espaço europeu, com mais combate ao desemprego, em particular o desemprego
jovem, precisamos de uma Europa com um Orçamento reforçado que suporte aquela Agenda, que aproxime
os povos europeus e combata as perdas de competitividade relativa ocasionadas no quadro da própria moeda
única. Precisamos de um Governo que também participe ativamente no debate sobre a sobrevalorização do
euro, que afeta seriamente as exportações, afetando a dinâmica da procura de novos mercados por parte dos
exportadores portugueses.
O PS responsavelmente aderiu ao Tratado Europeu de Estabilidade e à sua transposição, porque não
temos dúvidas do nosso papel na defesa do projeto europeu. Mas defender a Europa, e defender o papel de
Portugal na Europa, exige muito mais do Governo português. Para isso, o PS manterá vigilância reforçada e
capacidade propositiva, também no quadro da discussão na especialidade desta proposta de lei de alteração
da Lei de Enquadramento Orçamental.
O Grupo Parlamentar do Partido Socialista.
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Relativa ao projeto de lei n.º 313/XII (2.ª):
Desde a apresentação e discussão, na Assembleia da República, da proposta de lei n.º 40/XII (1.ª), em
janeiro de 2012, que o Partido Socialista chamou a atenção para as erradas opções normativas e técnicas
inscritas no diploma e para os efeitos que a aprovação da sua versão inicial não poderia deixar de ter no
funcionamento da Administração Pública.
Já nesse momento, o Partido Socialista apresentou, com o intuito de corrigir os seus aspetos mais
problemáticos e grosseiros, várias propostas de alteração para que fosse possível cumprir o objetivo de não
aumentar os pagamentos em atraso — que é uma das prioridades do Programa de Ajustamento Económico e
Financeiro —, mas sem paralisar as instituições e as entidades públicas (hospitais, escolas ou autarquias)
sujeitas à lei. O Partido Socialista lamenta que, desde esse primeiro momento, a maioria PSD/CDS-PP tenha
recusado as propostas de alteração
Mais recentemente, os Deputados do Partido Socialista voltaram a propor alterações à Lei n.º 8/2012, a lei
dos compromissos e dos pagamentos em atraso, em sede do Orçamento do Estado para 2013. Não obstante
já serem amplamente conhecidas as dificuldades associadas à aplicação das soluções constantes desta lei, a
maioria PSD/CDS-PP, assumindo uma postura de inflexibilidade e insensibilidade face aos problemas gerados
por uma má lei, voltou a recusar as propostas do Partido Socialista, que teriam melhorado o instrumento legal
e evitar a paralisação da Administração Pública. Esta lei continua a padecer de problemas fundamentais e a
não cumprir a necessária compatibilização do objetivo de evitar a acumulação de pagamentos em atraso com
o objetivo de garantir um funcionamento eficaz da Administração Pública.
Por estes motivos, o Partido Socialista vota favoravelmente o projeto de lei n.º 313/XII (2.ª), apresentado
pelo PCP, que propõe a revogação da lei dos compromissos e dos pagamentos em atraso e apela a esta
Câmara que aprove o projeto de lei n.º 346/XII (2.ª), apresentado pelo Partido Socialista.