I SÉRIE — NÚMERO 69
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se vê pelo exemplo do Parlamento de Chipre, não tem de ser assim. O exercício da soberania não pode
aceitar o diktat permanente da União Europeia e do grande capital.
Vozes do PCP: — Exatamente!
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — O problema não é só o Governo, é o Memorando e a sua política.
Com este pacto de agressão, o resultado não podia ser outro.
É por isso que, quando exigimos a demissão do Governo e a convocação de eleições, acrescentamos a
necessidade de uma outra política, que garanta a imediata renegociação da dívida, o aumento da produção
nacional e uma justa redistribuição da riqueza. Renegociar já, produzir mais e distribuir melhor exige, contudo,
uma posição inequívoca perante o pacto de agressão que constitui o Memorando assinado pelo PS, PSD e
CDS com a troica, exige a sua rejeição e o seu repúdio!
Não se pode querer outra política, prometer crescimento e emprego e, ao mesmo tempo, continuar a
defender a aplicação do pacto de agressão. Isso é querer enganar mais uma vez os portugueses com palavras
sem correspondência com as políticas.
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Muito bem!
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Esta interpelação — e a resolução que a acompanha — não visa fazer
uma recomendação ao Governo; visa, sim, obter um pronunciamento político da Assembleia da República no
sentido da demissão do Governo.
Em vez de se centrar na crítica ao Governo, o contributo do PS para este debate foi, infelizmente, um
incidente parlamentar, que, aliás, adiou por vários minutos o confronto do Deputados com o Ministro da
Economia.
O PS critica o Governo pelos resultados da sua política, mas afinal, pelos visto, não quer a sua demissão,
quer que ele continue. Diz que é a hora da mudança, mas nós perguntamos: como é que há mudança sem a
demissão do Governo?
Falam do desemprego, da austeridade, da recessão, do corte dos 4000 milhões de euros, mas não
apresentam nenhuma iniciativa para concretizar essa mudança. Faz até lembrar aquele quadro do Gato
Fedorento: os senhores falam, falam, falam, mas não vos vejo apresentar nada para concretizar o que dizem!
Aplausos do PCP.
Já sabemos que vão votar contra a resolução. Pronto, está dito! Mas, pelo menos, Srs. Deputados do
Partido Socialista, mesmo que não queiram votar a favor da resolução, digam que querem a demissão do
Governo, coisa que até agora não fizeram! Façam uma intervenção, uma declaração política, um comunicado
ao País a dizer que o PS quer a demissão do Governo. Nós, PCP, queremos! Grande parte do povo português
quer. O PS, pelos vistos, ainda não quer.
O Sr. Jorge Machado (PCP): — Exatamente!
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Por isso, a nossa resolução expressa esta necessidade de demissão
do Governo, de convocação de eleições e de imediata interrupção desta política. É isso, nem mais nem
menos. Não é uma precipitação, é uma urgência!
Esta interpelação é, por isso, uma verdadeira censura sem moção — sim, é verdade! É um ato político
pleno de conteúdo. Se a resolução for aprovada, certamente ninguém nega que o Governo deixa de ter
condições políticas para continuar. Ela dá voz ao sentir de milhões de portugueses, expresso das mais
diversas formas, pelas ininterruptas formas de luta e tomadas de posição de trabalhadores, de reformados, de
estudantes, de empresários, de intelectuais, enfim, da população em geral.
Assim veremos quem está neste Parlamento com esse objetivo e quem continua a adiar, não se sabe bem
para quando, a demissão do Governo que o País exige.