I SÉRIE — NÚMERO 70
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A Sr.ª Presidente: — Tem a palavra, Sr.ª Deputada Catarina Martins.
A Sr.ª Catarina Martins (BE): — Sr.ª Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, pergunto-lhe o seguinte: qual é a
parte de as confederações patronais estarem disponíveis para um acordo no sentido da subida do salário
mínimo nacional que o Sr. Primeiro-Ministro não percebe?!
Vivemos um momento histórico em que as centrais sindicais e as confederações patronais estão
disponíveis para um acordo sobre o salário mínimo nacional. Só o Governo é que não quer!
Sr. Primeiro-Ministro, isto não pode ser decidido empresa a empresa, e o Sr. Primeiro-Ministro, com
certeza, sabe-o! Uma empresa sozinha não pode subir o salário mínimo nacional, porque suportaria o custo e
não teria o benefício do aumento da procura no mercado interno. Não pode ser assim! É por isso que existe
concertação social, porque a democracia não é a «lei da selva»!
Sr. Primeiro-Ministro, o Governo é o único que não quer subir o salário mínimo nacional e em toda esta
história há três coisas que ficam absolutamente claras: primeira, a palavra do Governo nada vale, pois disse
que era na concertação social e agora desdiz tudo o que disse; segunda, o Governo não respeita nada nem
ninguém, nem a concertação social; terceira, clara como o água, a única política do Governo para Portugal é a
política dos salários baixos. É tudo o que o Governo quer: salários baixos e desemprego!
Sr. Primeiro-Ministro, com a tragédia do desemprego em Portugal, a resposta que o Governo tem é mais
desemprego.
Assim, a pergunta clara que tenho para lhe fazer, uma vez que anunciou que quer cortar 650 milhões de
euros em salários na função pública, é a seguinte: quantos funcionários públicos quer mandar para o
desemprego?
Aplausos do BE.
A Sr.ª Presidente: — Tem a palavra, Sr. Primeiro-Ministro.
O Sr. Primeiro-Ministro: — Sr.ª Presidente, Sr.ª Deputada Catarina Martins, respondo-lhe dizendo que o
Governo não tem um modelo de salários baixos e de desemprego para o País.
A Sr.ª Catarina Martins (BE): — Não brinque!
O Sr. Primeiro-Ministro: — Não, Sr.ª Deputada, não tem!
Gostaria muito que, em Portugal, o salário mínimo tivesse um nível mais aproximado do de outras
economias do euro; gostaria muito que conseguíssemos diferenciar-nos em produtos de mercado
competitivos, através de inovação e com salários mais elevados;…
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Ninguém diria!
O Sr. Primeiro-Ministro: — … gostaria muito de ter uma economia mais madura, mais avançada, mais
aberta, mais competitiva, com salários médios mais elevados e com um poder de compra maior.
Portanto, Sr.ª Deputada, com certeza que não é isso que pode apontar ao Governo como pecado
estratégico e político. Desconfio até que não haja ninguém que não deseje o mesmo, embora possa existir
alguém um bocadinho mais enviesado que defenda uma realidade económica pior, mais miserável, mas não é
muito normal e, nessa medida, Sr.ª Deputada, deixe-me tranquilizá-la, sou uma pessoa normal.
Defendo para Portugal melhores salários, melhores remunerações, mas também defendo, Sr.ª Deputada,
maior produtividade, mais competitividade, para o País não viva com a ilusão, fornecida por muitos agentes
responsáveis, de que basta decretar o nível salarial para que o País o possa suportar. Isso é que não, Sr.ª
Deputada!
O que o Governo está a fazer é a reforma económica que permita, justamente, que o País seja competitivo
e que possamos melhorar essas perspetivas para futuro. Isso é o que nós queremos.
O que não queremos, Sr.ª Deputada, é despedir funcionários públicos.