I SÉRIE — NÚMERO 70
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Sr. Primeiro-Ministro, fiquei muito preocupada com a sua resposta sobre os funcionários públicos. O que o
Sr. Primeiro-Ministro diz é que quer que os funcionários públicos com baixas qualificações se vão embora,
porque a Administração Pública não precisa deles, o País não os quer. Então, o que é que o Sr. Primeiro-
Ministro vem dizer? Vem dizer que se abre uma oportunidade para estas pessoas que têm menos
qualificações.
Sr. Primeiro-Ministro, estas pessoas são essenciais na Administração Pública para que os serviços
funcionem corretamente, para servir todos os cidadãos. Estas pessoas são necessárias, não temos
funcionários públicos a mais — são necessárias nos centros de saúde, nas escolas e em todos os serviços
onde as populações chegam e querem ser bem atendidas e com qualidade. Estas pessoas são necessárias.
Qual é a oportunidade que se lhes abre? Gostava que o Sr. Primeiro-Ministro respondesse a esta pergunta,
porque isto é quase gozar com os trabalhadores portugueses, fundamentalmente com os trabalhadores da
Administração Pública.
Sr. Primeiro-Ministro, quero relembrar-lhe o que disse, em resposta a Os Verdes, num dos primeiros
debates que aqui teve lugar após o Governo ter tomado posse.
O Governo disse, respondendo a uma pergunta direta de Os Verdes, que não haveria despedimentos na
função pública. Ora, as rescisões amigáveis não são outra coisa se não pôr as pessoas «entre a espada e a
parede» e dizer «ou aceitas a rescisão amigável ou daqui a uns tempos vais para a rua.»
Mas a afirmação que o Sr. Deputado Luís Menezes fez publicamente é ainda mais preocupante, porque
disse que se a meta das rescisões amigáveis não for atingida pode ter de se avançar para os despedimentos.
Ou seja, nesse caso já não é «não queres agora, queres depois», é «já, rua».
Não, Sr. Primeiro-Ministro, não podemos tolerar isto. O Sr. Primeiro-Ministro afirmou que não diz uma coisa
hoje e outra amanhã. Então, quero relembrar que o Sr. Primeiro-Ministro disse aqui, no Parlamento, que não
haverá despedimentos na função pública.
No que se refere à palavra do Governo, o País também já vai compreendendo o que é que ela significa. O
Sr. Ministro da Educação e Ciência afirmou, na Assembleia da República, que não haverá professores com
horário zero a irem para a mobilidade especial. Há ou não há? Há, Sr. Primeiro-Ministro. E agora, Sr. Primeiro-
Ministro? Se não vão, não vão! O Sr. Primeiro-Ministro também tem a responsabilidade de assegurar isso.
A palavra do Governo está de tal modo descredibilizada que o Sr. Ministro de Estado e das Finanças
garante que em Portugal não haverá nenhuma taxação sobre os depósitos e os portugueses ficam arrepiados.
Porque será? Não, Sr. Primeiro-Ministro, a palavra do Governo não vale rigorosamente nada.
A Sr.ª Presidente: — Sr.ª Deputada, tem de concluir.
A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Concluo já, Sr.ª Presidente.
Um Governo cuja palavra não vale rigorosamente nada é de um descrédito total, as suas políticas são de
um descrédito total e o Governo tem um rumo: sair! A oportunidade para o País é pôr o Governo na rua,
demitindo-se ou sendo demitido.
Aplausos de Os Verdes e do PCP.
A Sr.ª Presidente: — Tem a palavra o Sr. Primeiro-Ministro.
O Sr. Primeiro-Ministro: — Sr.ª Presidente, Sr.ª Deputada, o Governo não tem um programa de
despedimentos na função pública, tem uma intenção de construir um programa para rescisões amigáveis na
função pública. Vai toda a diferença do mundo entre uma coisa e outra, Sr.ª Deputada!
Todas as organizações precisam de ser redimensionadas quando, em alguma fase da sua vida, se
encontrem em disfunção entre os seus recursos e os seus objetivos e funções, e a Administração Pública
portuguesa não é uma exceção, é uma organização como muitas outras.
Sr.ª Deputada, não sou funcionário público e, portanto, não posso entrar num programa de rescisões —
julgo que percebeu o objetivo da minha referência.
Mas, Sr.ª Deputada, a verdade é que a Administração Pública portuguesa, como todas as organizações,
tem problemas. E não podemos dizer, tal como a Sr.ª Deputada diz, que não se pode mexer em nada na