12 DE ABRIL DE 2013
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O Sr. José Ribeiro e Castro (CDS-PP): — Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Antes de mais,
cumprimento a comunidade judaica, que segue o debate na galeria, pedindo-lhe que transmita também as
saudações do CDS ao rabino da sinagoga, que sabemos ter começado a assistir ao debate, mas que teve de
se ausentar.
Cumprimento igualmente o Sr. Embaixador de Espanha, já aqui saudado.
Hoje é um dia histórico para muitos compatriotas da comunidade judaica, sendo também um dia histórico
para nós, Assembleia da República, e para Portugal.
É um dia de reparação histórica, um dia de restabelecimento da memória, o dia em que repomos a ligação
por cima de 520 anos de separação forçada, que pomos termo a um hiato que nunca devia ter existido. É
como que repor o trato sucessivo da nacionalidade portuguesa, o trato sucessivo da pertença comum, que, no
coração de quem partiu, nunca se interrompeu.
O Sr. Artur Rêgo (CDS-PP): — Muito bem!
O Sr. José Ribeiro e Castro (CDS-PP): — É o dia em que damos de novo as boas-vindas a quem nunca
devia ter tido de partir de Portugal. É, portanto, um dia feliz.
Cito um texto de um autor judaico que fez as crónicas da diáspora sefardita, para termos um pouco a ideia
da importância que isso teve para o Novo Mundo: «A dispersão do povo de Israel, sobretudo após a instituição
da Inquisição na Península Ibérica, neste caso em Portugal, viu uma fuga de cérebros para o resto do mundo
de então, inclusive as ilhas e as colónias portuguesas de além-mar. No Novo Mundo, um dos lugares favoritos
foi o Brasil, para onde, sobretudo depois da segunda metade do século XVI, muitos cristãos-novos decidiram
deslocar-se, especialmente graças à sua educação — a abranger todos os ramos do saber humano — e aos
seus meios económicos, ambos muito vastos.
A história da diáspora judaica nas Américas começa com o êxodo de 1492…» — de Espanha — «… e
continua com a expulsão de Portugal, em 1496-98. Durante mais de um século, cartógrafos, cosmógrafos e
cientistas judeus foram indispensáveis para fundar as bases dos dois impérios ibéricos nas Américas. Eles
serão os alicerces dos descobrimentos europeus, da África às Américas. Com a expulsão dos judeus do solo
ibérico e com as atrocidades da Inquisição, as futuras potências coloniais ibéricas não só perderam uma
importantíssima parcela intelectual, indispensável ao crescimento económico nacional, mas também, e
mormente, limitaram ou até atrofiaram os seus contactos com o resto da Europa, financeiramente em mãos
dos Judeus. Isto aplica-se sobretudo a Portugal, com um império a cobrir todos os continentes.» (a)
E o estudo termina dizendo o seguinte: «Mesmo se não numerosos, a presença dos sefarditas, sobretudo
de origem portuguesa, foi muito importante no desenvolvimento económico das Américas, do Canadá ao
Brasil, passando pelas colónias anglo-americanas e Caraíbas.» (a)
Não é de surpreender, por isso, que numa série documental produzida há poucos anos na RTP, intitulada
Portugal Sem Fim, que viajava pelas presenças lusas espalhadas por todo o mundo, quatro dos 33 episódios,
assinados por grandes jornalistas portugueses, fossem especificamente sobre a diáspora sefardita. Foram
trabalhos assinados por Seruca Salgado, que, aliás, seria importante que a RTP pudesse reexibir nos
próximos dias (pude, na altura, ver alguns), em que se conta a história da presença de descendentes
sefarditas em Israel, na Turquia, em Belmonte, em Faro, em Jerusalém, em Curaçau, na Holanda e nos
Estados-Unidos. Sabemos também que há uma forte presença de descendentes sefarditas no Brasil, e é daí,
aliás, que veio a relação do CDS com este processo.
Este é, para nós também, na bancada do CDS, um dia de grande satisfação e de alegria, de honra e de
orgulho.
Gostava de dizer aqui, para ilustrar a importância que as redes sociais têm hoje em dia na política, que foi
através do Facebook que fomos alertados para a existência deste rasto que não se pode apagar na nossa
memória e que nos interessámos pelo assunto. Foram sefarditas do Brasil que nos contactaram.
Em 2010, seguimos uma petição eletrónica, que recolheu mais de 1000 assinaturas em pouco tempo, e
que está ainda pendente, e apresentámos duas perguntas aos Ministros da Justiça e da Administração Interna
de então para auscultar da sua sensibilidade para o acolhimento desta pretensão. Recebemos uma resposta
desses ministros que assinalava que a mera tradição histórica não era suficiente e que era necessário um
estudo mais profundo.