I SÉRIE — NÚMERO 79
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A Sr.ª Ana Drago (BE): — Sr. Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Discutimos hoje projetos de resolução
apresentados pelo PSD/CDS e pelo PS para tornar o turismo religioso um dos produtos estratégicos do PENT.
À partida, nada temos contra estes projetos de resolução. Contudo, a enunciação feita quer pelo Partido
Socialista quer pelos partidos da maioria parlamentar é manifestamente pouco ambiciosa. Ou seja, esta ideia
de colocar o turismo religioso como um produto estratégico no âmbito do PENT sem mais nada dizer sobre
qual é a ambição, o investimento, o enquadramento desta orientação parece-nos relativamente pouco
ambiciosa.
É nesse sentido que o Bloco de Esquerda vem colocar a questão do turismo cultural. Esse turismo cultural
tem muito a ver com o património histórico que temos. E, necessariamente, o património histórico que temos,
pela história nacional que temos, está ligado fortemente à questão dos edifícios e do património religiosos. O
que nos parece importante valorizar é que haja um investimento na requalificação desse património, enquanto
património cultural que é usufruído por turistas que vêm a Portugal, na lógica não apenas do turismo religioso
mas exatamente do usufruto daquilo que é o património e a história cultural do nosso País.
É, portanto, nesse sentido que propomos uma abrangência bastante maior, de modo a que a questão do
turismo cultural seja, ela própria, definida como produto estratégico, como visão estratégica para a nossa
orientação, em termos de visão de turismo em Portugal.
Nesse sentido, fazemos aqui desafios claros: não basta colocar o turismo religioso como produto
estratégico; é necessário ter uma visão de longo prazo de investimento e ver todo o turismo que, em Portugal,
está muitíssimo ligado com esse património cultural, que é também património religioso.
O desafio que fazemos a esta Assembleia e aos diferentes grupos parlamentares é, pois, este: que o
turismo cultural seja entendido como produto estratégico no âmbito do PENT; que a recuperação do
património cultural, religioso ou não, seja também uma ambição do plano futuro; e que o Conselho Nacional de
Cultura, assim como o ICOMOS, possam ser considerados parceiros consultivos na definição das políticas
públicas na área do turismo.
Creio que esta deve ser a visão estratégica que Portugal deve ter sobre a promoção do turismo.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (António Filipe): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado João Ramos.
O Sr. João Ramos (PCP): — Sr. Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Discutimos hoje três projetos de
resolução que recomendam a inclusão no PENT, como produto estratégico, do turismo religioso mas também
do turismo cultural.
Como realizamos este debate e a votação destes projetos já depois de o Governo ter aprovado o PENT em
Conselho de Ministros, estas recomendações terão pouco efeito prático. Aproveitamos, contudo, a
oportunidade para a Assembleia da República abordar este Plano, oportunidade não contemplada na
estratégia do Governo para a sua aprovação.
Considerar o turismo religioso como parte da estratégia para o setor, tendo em conta o que as questões da
fé representam em termos de mobilidade de pessoas, parece ser pacífico. Contudo, é sempre exigida uma
reflexão séria em torno de opções desta natureza. Desde logo, porque nos parece que podemos estar a
classificar como turismo religioso atividade que é efetivamente turismo cultural. A deslocação de judeus em
busca de antigas judiarias não é feita por motivos de fé, uma vez que já não existem os espaços sagrados,
mas para conhecer como sobreviveu a sua cultura e a sua religião. Isto não é turismo religioso mas, sim,
turismo cultural.
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Exatamente!
O Sr. João Ramos (PCP): — Outras implicações dessa classificação é que ela abre oportunidades no
recurso a fundos públicos, que poderiam não existir de outro modo, e isso merece outra reflexão, para além de
dever ser bem balizado.
Mas debrucemo-nos sobre o PENT. O contexto de elaboração deste Plano Estratégico parece ser marcado
por algum distanciamento da realidade, até daquela que está a ser profundamente alterada por ação do