I SÉRIE — NÚMERO 79
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se procura aparentar a situações de dificuldade de aprendizagem, quando, na verdade, são necessidades
educativas especiais.
Não vale a pena fazer uma defesa extremada do diploma de 2008. Na verdade, foi um erro.
A Sr.ª Inês Teotónio Pereira (CDS-PP): — Mas quem é que fez o diploma?
O Sr. Luís Fazenda (BE): — Esse é o erro de base que precisa de ser alterado.
O que tem vindo a suceder, quer com o anterior Governo, quer com o atual é, pouco a pouco, a tentativa de
segregar alunos e alunas com necessidades educativas especiais para turmas com percursos alternativos,
para unidades especializadas, etc., ignorando a grande indicação pedagógica que, na maior parte das
situações, é garantir a frequência do ensino regular, garantir que participam nas turmas de todos os outros
alunos e alunas nas unidades da escola pública.
Essa é a questão essencial da inclusão.
Percebe-se que há a orientação política para se fugir cada vez mais das turmas regulares em inúmeras
circunstâncias. Porquê? Porque a inclusão de alunos com necessidades educativas especiais obrigará à
diminuição do tamanho das turmas e a lógica do Ministério vai no sentido de aumentar o número de alunos por
turma para obter poupanças. Assim, vão-se colocando alunos com necessidades educativas especiais em
estruturas paralelas, o que é absolutamente contestável, já para não falarmos de um outro conjunto de
circunstâncias que atinge a formação, atinge os profissionais, atinge o funcionamento da educação especial na
escola pública.
Sr.as
e Srs. Deputados, ouvi aqui dizer, por parte do PSD, que estão dispostos a fazer alterações ao
Decreto-Lei n.º 3/2008, presumo que à portaria que regula as situações em relação ao ensino secundário. Fico
a contar os dias para que o PSD apresente essas propostas, pois, pelo menos, já chegou à conclusão de que
há várias circunstâncias negativas na legislação vigente. Esperemos, pois, que o PSD assuma essa
responsabilidade e que esse não seja meramente um voto pio neste debate e nestas circunstâncias.
Srs. Deputados do CDS e do PSD, é preciso uma alteração de posição, é preciso uma alteração de fundo.
Não foram capazes de evidenciar hoje, aqui, que tenha havido um balanço melhor em relação à educação
especial. Aliás, o relatório do Conselho Nacional de Educação, ontem apresentado, não identifica essas
melhorias. Portanto, isso é pura propaganda política neste momento.
Estão na disposição de reforçar uma via inclusiva para a escola pública? Estão na disposição de
reconhecer que é preciso alterar de raiz o conceito dos alunos com necessidades educativas especiais? Estão
na disposição de ver o currículo específico de como isso se articula com um programa inclusivo?
Se estiverem nessa disposição, estaremos no bom caminho. Não estando nessa disposição, estaremos
apenas no caminho da poupança, do economicismo e de prejudicar os que verdadeiramente mais precisam da
escola pública porque são mais vulneráveis.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (António Filipe): — Para uma segunda intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Rita
Rato.
A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: O PCP, desde 2009, apresentou pelo menos
três vezes este projeto. O Sr. Deputado Jacinto Serrão referiu apenas uma, mas apresentámos mais duas
vezes, porque, de facto, somos coerentes na análise que fazemos, o que, hoje em dia, é uma qualidade que
poucos elogiam, mas que, da parte do PCP, entendemos ser muito importante.
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Muito bem!
A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Importa também dizer que o PSD faz uma defesa acérrima do Decreto-Lei n.º
3/2008, mas em 2008, quando foi apresentado pelo anterior Governo, foi um «ai, Jesus, o que é que aí vem!».
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Ora bem!