I SÉRIE — NÚMERO 104
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A Sr.ª Ana Drago (BE): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado Carlos Alberto Gonçalves, tenho uma confissão a
fazer neste Plenário…
Vozes do PSD e do CDS-PP: — Oh!… Não faça!
A Sr.ª Ana Drago (BE): — O Sr. Deputado encontra-me aqui algo impreparada, porque pensava que, hoje,
o agendamento potestativo da iniciativa de Os Verdes pretendia ver discutida, nesta Câmara, a questão do
desemprego jovem, sabendo nós que é uma calamidade aquilo que temos pela frente: 42% de desemprego
jovem, sendo que na faixa etária entre os 25 e os 34 anos a taxa de desemprego já atinge os 21%; portanto,
entre os 15 e os 34 anos, existem 435 000 jovens trabalhadores desempregados, que, como muitos já aqui
disseram, são a geração mais qualificada.
Perante o descalabro do que foi a execução do programa Impulso Jovem (e dado que o Sr. Ministro
anunciou ontem, mais alto e mais longe, que se pretende envolver 120 000 jovens, quando só atingimos cerca
de 8000), pensava que o Sr. Deputado ia debater desemprego jovem, perspetivas, linhas de atuação do
Governo. Mas não! O maior partido da Assembleia da República faz a sua primeira intervenção de fundo neste
debate sobre combate ao desemprego jovem, falando de emigração?!… E fá-lo reafirmando textualmente
aquilo que achávamos que tinha sido um momento de fraqueza do Sr. Primeiro-Ministro ou do Sr. Secretário
de Estado da Juventude quando disseram: «Emigrem!»
Pensávamos que os Deputados eleitos pelo povo português, nesta Câmara, iam dizer que a criação de
emprego para os jovens era a sua prioridade, que iam trabalhar nisso e que, apesar de terem falhado… Aliás,
trago comigo as respostas que foram dadas pelo Governo — é certo que há sempre um problema de números:
o Sr. Ministro ontem falou de 11 340 candidaturas, mas no mês passado tinha-nos dito que eram 12 000, ou
seja, as candidaturas decresceram ao longo do ano. Em todo o caso, o que queria dizer é que, no âmbito do
programa Impulso Jovem (não sei se ouviu ontem os jovens dizerem «não queremos estágios, queremos um
trabalho, queremos trabalhar, queremos emprego» —, houve 1177 apoios à contratação. Ora, para quem tinha
desenhado um programa para 89 000 jovens e agora pretende ir até aos 120 000, isto é um falhanço absoluto!
Protestos do PSD e do CDS-PP.
Mais do que isso, tinha pensado perguntar — ingenuidade minha — se os senhores estavam, de facto,
interessados em combater o desemprego jovem, criando emprego aqui, promovendo crescimento económico
em Portugal, porque há PME que escrevem aos grupos parlamentares dizendo que os pagamentos que era
suposto receberem pelos poucos estágios ou pelos apoios à contratação que foram criados no âmbito do
programa Impulso Jovem estão em atraso, não estão a chegar às pequenas e médias empresas e, portanto,
estas empresas, pura e simplesmente, não podem continuar com este programa. Foi ingenuidade minha,
porque o que o Sr. Deputado veio dizer é que a linha oficial assumida pelo maior partido na Assembleia da
República é dizer aos jovens: «Emigrem! Vão-se embora, desistam deste País.»
O Sr. Hugo Lopes Soares (PSD): — Não disse nada disso!
A Sr.ª Ana Drago (BE): — Portanto, estamos a construir uma sociedade totalmente desarticulada, com
uma economia que mostra, mês após mês, que está a morrer, porque é incapaz de incorporar no seu tecido
produtivo os jovens mais qualificados.
A Sr.ª Presidente: — Queira terminar, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Ana Drago (BE): — Sr. Deputado, nem sei que lhe pergunte! Os senhores enlouqueceram?! Não
têm sequer projeto de criação de emprego para os mais jovens? O que é que se passa?
Aplausos do BE.