I SÉRIE — NÚMERO 111
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A Sr.ª Presidente: — Srs. Deputados, gostava que se reconstituíssem as condições para prosseguirmos
com o debate.
Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Cecília Meireles.
A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP): — Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: O que hoje discutimos com o
projeto de resolução do Bloco de Esquerda são, basicamente, duas questões (e não sei se lhes chame
propostas ou intenções): uma tem a ver com a renegociação urgente da dívida pública e outra com a denúncia
do Memorando de Entendimento.
São duas propostas claras, concretas — é verdade! —, embora não profundamente fundamentadas. Mas
vamos discutir ambas, até porque ao fazê-lo — e por que não admiti-lo e dizê-lo, é assim mesmo —
analisamos boa parte do que é essencial, neste momento, na política portuguesa e do que tem sido a
discussão, seguramente, dos últimos três anos da política portuguesa.
A Sr. Mariana Aiveca (BE): — É verdade!
A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP): — Ao discutirmos estas propostas, se o fazemos com calma, com
seriedade e com ponderação, certamente todos defendemos um mundo fantástico, em que tudo corre bem,
em que há despesa pública a rodos, em que há crescimento económico como já não se vê em Portugal há 40
anos e em que se pode tomar decisões desta natureza sem que elas tenham quaisquer consequências,
sobretudo sem que elas tenham quaisquer consequências negativas.
O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Exatamente!
A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP): — Todos desejamos este mundo, Srs. Deputados. Mas há um pequeno
problema, que é um problema do tamanho do País: é que ele não existe.
O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Exatamente!
A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP): — E o principal problema destas propostas é que elas têm
consequências, e bem negativas.
Nesta intervenção, tentarei não dizer apenas que elas têm consequências negativas e que são
irresponsáveis — que o são —, mas também explicar porquê, porque explicando porquê talvez possamos, por
um lado, perceber melhor as propostas do Bloco de Esquerda e, por outro, perceber o mundo que elas
criariam, que seria bem pior do que aquele em que vivemos atualmente.
O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Muito bem!
A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP): — Primeira proposta: rasgar o Memorando de Entendimento, o fim da
austeridade.
Qual é a consequência óbvia? Mais despesa pública e aumento do défice — fazemos a despesa pública
que tivermos necessidade, sem problemas nenhuns.
Vejo dois problemas muito concretos com esta proposta. Em primeiro lugar, ela esquece que a situação
atual e os problemas que levaram Portugal a precisar de recorrer à troica e a ajuda externa têm a ver
precisamente, por um lado, com o acumular de défices, ano após ano, e, por outro lado, com o financiamento
da despesa pública através do recurso a dívida, e isso teve como consequência direta o fim do nosso
financiamento
O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Muito bem!
A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP): — Em segundo lugar, esquece o nosso défice externo estrutural, o que
significa — postas as coisas de forma simplista — que nós, durante décadas, importámos mais do que
exportámos, consumimos mais do que produzimos, e isto levou-nos à situação em que nos encontramos hoje.