11 DE JULHO DE 2013
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nas últimas semanas, que perdeu, portanto, toda a credibilidade. Mas era bom que os Deputados que foram
eleitos pelo povo português tivessem a seriedade de discutir a situação que o País atravessa. É por isso que
vejo com grande dificuldade que o Sr. Deputado nos faça um apelo no sentido de valorizarmos o esforço que
foi feito pelos portugueses nos últimos dois anos. É que 17,4% de desemprego não é esforço, é estilhaçar a
capacidade produtiva dos portugueses e dos trabalhadores portugueses e tenho dificuldade em avaliar a sua
descrição deste percurso de dois anos. «Colocar a casa em ordem», Sr. Deputado?! O défice orçamental no
1.º trimestre de 2011 foi de 7,6%; o défice orçamental no 1.º trimestre de 2012 foi de 7,8% e o défice
orçamental no 1.º trimestre de 2013 foi de 10,6% — não percebo exatamente o que é que está a correr bem!
O Sr. Deputado falou-nos de investimento. Ora, a queda do investimento, em 2012, sob a responsabilidade
do seu Governo, do seu esforço, foi de 28%. Sr. Deputado, não percebo como é que «a casa está a ficar em
ordem»?
Mas concentremo-nos sobre o essencial do debate que o Bloco de Esquerda trouxe: a dívida. Disse-nos o
Sr. Deputado que quem apresenta propostas na sociedade portuguesa para uma renegociação e uma
reestruturação da dívida tem uma postura irresponsável. Disse-nos que não percebe como é que funciona o
mundo, que quer transformar Portugal num Estado pária. Então, Sr. Deputado, peço-lhe que comente e que
tenha a coragem e a hombridade de responder à pergunta de alguém que escreve o seguinte: «No caso da
dívida pública e, segundo as conclusões do Bank of International Settlements, se Portugal quiser voltar aos
níveis da dívida de 2007, teria de apresentar um superavit primário nas contas públicas de 6% ao ano, durante
cinco anos, ou de 3%, durante 10 anos. Tenho muitas dúvidas» — diz o autor deste texto — «e por isso só nos
resta o possível caminho da reestruturação da dívida, ou seja ir falar com os nossos credores e dizer-lhes que,
dos 100 que nos emprestaram, só vão receber 70 ou 80. Este é um caminho árduo e complicado. A tal parede
de que tanto se fala, mas que nos permitiria começar de novo. Se mantivermos os níveis atuais de dívida,
dificilmente conseguiremos crescer a níveis aceitáveis e, se não crescermos, morremos». Estas são as
palavras do braço direito do Sr. Primeiro-Ministro, o atual Secretário de Estado Adjunto Carlos Moedas, em
2010. Diga-nos: o braço direito do Sr. Primeiro-Ministro é irresponsável, quer transformar Portugal num Estado
pária, não sabe como é que funciona o mundo ou foi, pura e simplesmente, sequestrado pelos nossos
credores?
Aplausos do BE.
A Sr.ª Presidente: — Tem a palavra a Sr.ª Deputada Heloísa Apolónia.
A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado Carlos Silva, gostava de colocar-lhe
uma primeira questão de forma muito direta e de obter uma resposta muito sincera por parte do Sr. Deputado.
A pergunta é tão simples quanto isto: quanto vale a palavra em política? É que, depois daquilo que se tem
passado, Sr. Deputado Carlos Silva, quem é que consegue acreditar nos senhores? Os senhores dizem, há
não sei quanto tempo, que estamos a ir no caminho perfeito, que vamos no bom caminho. Mas, entretanto, um
dos protagonistas desse caminho desastroso — é assim que o qualificamos —, Vítor Gaspar, demite-se com
uma carta, anunciando o total falhanço do caminho que antes dizia ser magnífico.
Sr. Deputado, já não quero falar da atitude deprimente do Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros,
Paulo Portas, Presidente do CDS-PP. Mas as marcas ficam e devem ter consequências. Portanto,
defendemos liminarmente a demissão do Governo e a dissolução da Assembleia da República para voltarmos
a dar a palavra ao povo para que o povo português possa determinar dos destinos deste País.
Mas, Sr. Deputado, vamos um pouco mais atrás: o Sr. Primeiro-Ministro, em 2011, dizia que 2012 era o
ano de viragem, dadas as magníficas políticas que o Governo estava a prosseguir. Nada disso se verificou.
Em 2012, comprometido com a palavra dada, dizia assim. «Não, afinal o ano de viragem vai ser o ano de
2013, onde já vamos começar a crescer». Sr. Deputado, aquilo que se prevê para 2013 é uma recessão, no
mínimo, de 2,3%. Então agora já dizem que, afinal, não é em 2013, há de ser em 2014, e em 2014 há de ser
em 2015! Quem é que, nestas condições, consegue acreditar na palavra de um Governo que não tem rigor
algum nem vergonha alguma naquilo que diz aos portugueses?
Afinal, quais foram as consequências concretas de tudo isto? Mais recessão, mais pobreza, mais
desemprego, mais emigração forçada, mais portugueses numa vida completamente dura e as empresas com