I SÉRIE — NÚMERO 111
14
que, afinal, cumprir as metas do Memorando de Entendimento também é mau, porque isso implica a adoção
de medidas recessivas.
Afinal, em que ficamos, Sr. Deputado?
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
Se o Sr. Deputado e o PS acham que devemos deixar aumentar o défice, também lhe pergunto,
perguntamos nós, perguntam todos os portugueses: afinal, qual é o nível de défice a mais que sustentam? Por
quanto tempo? E, já agora, quais serão as consequências desse facto relativamente à dívida acumulada?
Finalmente, Sr. Deputado, diga-nos também, por favor, diga de uma vez por todas aos portugueses onde é
que o Partido Socialista vai buscar o dinheiro para financiar esse défice a mais que os senhores defendem.
E, já agora, diga-nos como é que o aumento do rácio da dívida pública permitirá a Portugal regressar aos
mercados — a não ser que isso não seja importante…
Sr. Deputado Vieira da Silva, os portugueses certamente ficar-lhe-iam muito agradecidos se fosse capaz de
responder sem tibiezas, sem ziguezagues, sem hesitações e com toda a transparência a estas perguntas por
cujas respostas há muito anseiam.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
A Sr.ª Presidente: — Tem a palavra o Sr. Deputado Bernardino Soares.
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado Vieira da Silva, o Sr. Deputado referiu, e
bem, a situação catastrófica ocorrida nos últimos dias, que poderíamos dizer se juntou à total falta de
credibilidade das políticas do Governo, à total falta de credibilidade dos políticos do Governo.
Isto significa que, hoje, as pessoas que já sofriam na pele as consequências desastrosas das políticas do
Governo — porque lhes foram roubados os salários e as reformas, porque viram os serviços públicos
piorarem, porque têm um acesso mais dificultado à saúde e à educação, porque sofrem o desemprego devido
à não aposta na procura interna e à quebra no investimento — assistiram a este lamentável espetáculo de
descredibilização da vida política e do regime democrático, que não pode, em nenhum momento, estar
incluído no regular funcionamento das instituições. Nada disto que se passou tem qualquer relação com o
regular funcionamento das instituições.
E é evidente que o que se prepara com esta suposta renovação do Governo, que é mais ou menos o
«baralhar e dar de novo», é continuar uma política de desastre nacional e de afundamento do País.
Queria confirmar estas suas afirmações, mas queria também perguntar ao Sr. Deputado alguma coisa em
relação às propostas do Partido Socialista, em relação a uma questão em concreto que, nos últimos dias, tem
sido referida pelo Secretário-Geral do Partido Socialista, o Deputado António José Seguro, que é a ideia do
segundo resgate.
O PS afirma que tem de haver um segundo resgate, dizendo depois que é preciso haver eleições para
legitimar um governo para negociar esse tal segundo resgate.
Ora, resgate, em princípio, significa libertação. E eu pergunto se a ideia do PS para esse segundo
chamado «resgate» é a de libertar o País desta política que nos afunda todos os dias, a de podermos decidir
sobre a nossa própria soberania, a de podermos decidir sobre aumentar o investimento, a de podermos decidir
sobre como é que vamos pagar a dívida pública — certamente que é negociando com os credores, mas
defendendo os nossos interesses e não defendendo os interesses dos credores.
Gostaria, pois, de saber se é isso que significa o segundo resgate ou se o segundo resgate é uma nova
dose da política que tem estado a ser seguida, mesmo que com alterações, se é mais uma dose no mesmo
caminho, se é uma dose do mesmo tipo, mesmo que com uma quantidade diferente. É essa a questão que
tem de ser respondida.
Do nosso ponto de vista, é preciso resgatar o País, sim senhor, mas trata-se de resgatar o País das mãos
desta política que o Memorando da troica, que os senhores também subscreveram, está a aplicar ao País,
desta política que nos destrói e que não abrirá nenhuma salvação, nenhuma janela para o futuro do nosso