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I SÉRIE — NÚMERO 111

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A Sr.ª Presidente: — A próxima intervenção é do PS.

Sr. Deputado Vieira da Silva, tem a palavra.

O Sr. Vieira da Silva (PS): — Sr.ª Presidente, Sr.as

e Srs. Deputados: Completam-se, hoje, 10 dias desde

que o ex-Ministro Vítor Gaspar apresentou a sua carta de demissão. Foram 10 dias que abalaram o Governo e

a maioria, mas também 10 dias que destruíram a já pouca credibilidade de uma política. Mas também,

infelizmente, foram 10 dias que abalaram a qualidade da nossa vida democrática e a capacidade de Portugal

responder à gravíssima crise que hoje vive.

Estes dias foram uma quase perfeita sequência do horror.

A demissão de um ministro que, comandando toda a política económica e financeira durante dois anos,

reconhece o seu fracasso, mas não deixa de o endossar à maioria e ao chefe do Governo.

Uma substituição anunciada na pasta das Finanças que se concretiza no exato momento em que o Ministro

Paulo Portas, líder do segundo partido da maioria, anuncia que, por discordar desta substituição, abandona,

de forma irrevogável, um Governo do qual disse que, a continuar, seria pertencer a algo que seria um ato de

simulação.

E, depois, uma agonia lenta, palco de pequenos e grandes ajustes de contas, agonia que degradou a

nossa vida democrática nos limites do inimaginável e que expôs Portugal à inaceitável pressão externa, vinda

até de quem, pela sua responsabilidade política e institucional — e até pelas suas funções anteriores —,

deveria ter permanecido isento, respeitando aquela que é uma reserva da nossa soberania como povo e como

democracia:…

Aplausos do PS.

… a escolha da forma como nos governamos e como assumimos as nossas responsabilidades perante os

nossos parceiros.

Diz-nos, hoje, a maioria que já está tudo bem, que fizeram as pazes, que renovaram os votos de fidelidade,

que até estão melhor do que antes. Pura farsa!

Pode uma coligação de Governo, em clima de emergência nacional, desnudar-se nas suas divergências,

na acusação de incompetência e de traição e querer que os portugueses continuem a dar-lhe o mais pequeno

crédito?

Podem os líderes de uma coligação de dois anos arrastarem-se em horas de reuniões sucessivas e querer

agora que os portugueses acreditem que são hoje capazes de fazer o que não conseguiram em dois anos:

entenderem-se?

Mas, principalmente, quem pode acreditar numa maioria que, no meio desta agonia, apenas parece

preocupada com os arranjos internos de poderes e de pastas e que nada sabe dizer sobre as políticas que

deveriam mudar?

Não. Os senhores podem fingir que a vossa crise passou, podem até jurar amor eterno e, quiçá, combinar

uma viagem, juntos, pela Europa lá mais para diante, mas desiludam-se: a escassa credibilidade que podiam

ter morreu nestes 10 dias.

Aplausos do PS.

Sr.ª Presidente, Sr.as

e Srs. Deputados: A crise destes 10 dias não pode ser resumida às cartas de

demissão, às lutas partidárias no seio da maioria ou aos erros da organização do Governo. Esta crise é o

resultado direto de uma política que colapsou, uma política errada nos objetivos e incompetente nas ações. E

é tempo, hoje, de o relembrar.

A política da austeridade reforçada, a política de ir para além da troica, falhou em todos os seus objetivos

principais.

Aplausos do PS.

Falhou no défice e falhou na dívida.