I SÉRIE — NÚMERO 111
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a «corda na garganta». Ou seja, foi a destruição lapidar da economia e das condições sociais que se vivem no
País.
Pergunto: o Sr. Deputado ainda vive na ilusão de que, nestas condições de absoluta pobreza e de
degradação do País, ainda vamos ter condições para pagar a dívida, como os senhores continuam a dizer?
Não, Sr. Deputado. Temos dito desde o início que, nestas condições, e face a estes níveis de austeridade, não
conseguimos pagar a nossa dívida. Quando é que os senhores conseguem admitir isto? Chegámos a um
ponto tal, Sr. Deputado, que só temos dois caminhos: ou renegociamos a dívida ou vamos para um segundo
resgate. Nós não temos dívidas sobre aquilo que queremos: renegociação da dívida é um imperativo nacional
há muito tempo. Os senhores não brinquem com coisas sérias. Não nos levem para um segundo resgate.
Antes disso é preciso que os senhores vão para a rua!
Vozes do PCP: — Muito bem!
A Sr.ª Presidente: — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado Honório Novo.
O Sr. Honório Novo (PCP): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado Carlos Silva, vamos ver se conseguimos falar
claro. Os senhores estão perante um fracasso total e completo do Memorando da troica, das políticas da troica
e das vossas próprias políticas. Quem o diz, Sr. Deputado, nem sequer sou eu, é a carta que tenho à minha
frente, que é do seu anterior Ministro das Finanças, Vítor Gaspar, que diz o seguinte: «Não cumprimos
objetivos, enganámos-mos nas estimativas, houve uma queda brutal da procura interna, o desemprego é
grave, falhámos repetidamente». Repetidamente, Sr. Deputado Carlos Silva!
Esta carta não deixa peça sobre peça, linha sobre linha, parágrafo sobre parágrafo da intervenção que o
senhor acaba de fazer da tribuna.
O PSD e o CDS, em vez de, em nome do interesse nacional, dizerem «falhámos, vamo-nos embora,
damos a voz ao povo», sabe o que é que fizeram? Obedeceram aos senhores a que faz referência este título
de jornal: «Empresários e banqueiros recusam eleições antecipadas». Foi isto que os senhores fizeram. Isto é,
os senhores fazem o que os banqueiros e os empresários mandam!
O Dr. Paulo Portas teve um chelique político? Pois teve. Qual é a surpresa? Vai ter outro um dia destes! O
Dr. Paulo Portas diz que é sustentável o que ontem era politicamente insustentável?! Diz hoje que é revogável
o que ontem era irrevogável?! Ó Sr. Deputado Carlos Silva, qual é a surpresa?! O Sr. Dr. Paulo Portas dirá
sempre uma coisa e o seu contrário mesmo que os senhores lhe inchem o umbigo com a vice-presidência do
Governo.
O Governo é estável, Sr. Deputado Carlos Silva?! Mas, antes do chelique do Dr. Paulo Portas, ele não era
estável?! Só descobriram isso agora?!
Sr. Deputado Carlos Silva, o Governo tem apoio maioritário? Mas só agora é que tem apoio maioritário?!
Só descobriram isso depois do chelique do Ministro Paulo Portas?!
Disse o Sr. Deputado que o Governo agora vai apostar no crescimento. Diga-me uma coisa, Sr. Deputado
Carlos Silva: o senhor está a brincar connosco?! Com 4700 milhões de cortes nos próximos dois anos, com os
despedimentos na função pública, com a TSU dos reformados, com os cortes no subsídio de desemprego e
nas prestações sociais vai haver alguma espécie de crescimento possível, Sr. Deputado Carlos Silva?!
Quanto à sustentabilidade da dívida e à sua renegociação, os senhores tornaram a dívida impagável e
agora estão a preparar-se para um segundo resgate, embora lhe vão chamar «medidas cautelares». Mas será
sempre um segundo resgate.
Sr. Deputado Carlos Sila, fiz muitas observações, mas termino com um conselho: não será melhor o senhor
e os outros Deputados do PSD lerem bem a carta do Dr. Vítor Gaspar para verem se, finalmente, entendem
que o mal está na troica e no Memorando da troica e que é com a troica e com o Memorando que o País tem
de correr?
Aplausos do PCP.
A Sr.ª Presidente: — Para responder, tem a palavra o Sr. Deputado Carlos Silva.