I SÉRIE — NÚMERO 114
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legitimidade de protesto que substituísse e, de preferência, removesse a legitimidade das instituições que é,
evidentemente, a legitimidade democrática.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
Permitam-me discordar. Felizmente, o protesto é legítimo e a rua é livre. Mas no Portugal livre e
democrático, felizmente — também o digo —, a legitimidade das urnas é a legitimidade democrática, e é
claramente assim desde que, em 1982, os partidos democráticos,…
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Outra vez?!
O Sr. Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros: — … na revisão constitucional, decidiram
institucionalizar a supremacia do poder eleitoral e da sua representação sobre uma alegada legitimidade
revolucionária, baseada, aliás, em títulos de propriedade sobre a revolução que eram injustos e abusivos.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
Por isso, com o habitual respeito, Sr.ª Deputada Heloísa Apolónia, já não há Conselho da Revolução, há
Assembleia da República. Por isso, Sr.ª Deputada, com o habitual respeito, não há resultados oficiais aqui
dentro e resultados oficiosos lá fora. Algumas décadas depois, alguns podem não ter ainda compreendido esta
diferença fundamental — a diferença que faz a legitimidade democrática e das instituições. Mas sem
compreender essa diferença não conseguirão compreender o funcionamento do nosso sistema constitucional.
Aplausos do PSD e do CDS-PP, de pé.
O Sr. Jerónimo de Sousa (PCP): — Vai ter de explicar o insulto!
A Sr.ª Presidente: — A próxima intervenção, que encerrará o debate, cabe ao Partido Ecologia «Os
Verdes», que apresentaram a iniciativa.
Para o efeito, tem a palavra o Sr. Deputado José Luís Ferreira.
O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — Sr.ª Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as
e Srs.
Deputados: O Sr. Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros disse, da tribuna, que, de facto, esteve na
Comissão. É verdade, o Sr. Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros esteve na Comissão, só que
esqueceu-se de dizer que não respondeu a nenhuma das questões que aí lhe foram colocadas sobre a crise
política.
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Ora bem!
O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — Portanto, Os Verdes mantêm aquilo que disseram ainda há
pouco, ou seja, que o Sr. Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros continua a furtar-se ao contraditório.
Sr.ª Presidente, como ficou visível durante este debate, a moção de censura que Os Verdes apresentaram
ao Governo, às suas políticas e à maioria que o suporta foi oportuna, fundamentada e até inevitável.
O Sr. António Filipe (PCP): — Muito bem!
O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — Considerando, por um lado, a situação em que o Governo
PSD/CDS colocou o País e, por outro lado, a falta de credibilidade de um Governo sem palavra, moribundo, a
prazo e a cair aos bocados, a apresentação desta moção de censura impunha-se como um imperativo
democrático.