I SÉRIE — NÚMERO 114
48
O Sr. Jerónimo de Sousa (PCP): — Está de cabeça perdida!
O Sr. Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros: — Não acredito em conversações com
megafone, porque elas devem decorrer com boa-fé, à mesa das negociações.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: A moção de censura apresentada pelo Partido Ecologista «Os
Verdes» é um direito legítimo e deve ser tratada com seriedade. Seriedade do ponto de vista da leitura do seu
provável resultado, a confiança política do Parlamento no Governo; e seriedade, ainda, na avaliação do que
seriam as consequências para Portugal se a mesma realizasse o seu fim, ou seja, o derrube do Governo.
Não ignoro que esta moção de censura tem a subtileza de ser apresentada por um partido, Os Verdes, que
até hoje decidiu não concorrer isoladamente às eleições e que pretende, apesar disso, desalojar do Governo
dois partidos que só estão no Governo por essa prosaica razão que é a de terem concorrido diretamente às
eleições e de terem recebido do povo o mandato para serem Governo.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
É, convenhamos, uma ironia parlamentar. Porém, este juízo é do domínio interpretativo. Facialmente, Os
Verdes aqui estão com a sua moção e, institucionalmente, a sua moção não é de menos, sobretudo
atendendo às circunstâncias nacionais.
O debate revelou o que o estado da Nação já mostrara: a maioria superou as suas diferenças; a maioria
apresentou ao Chefe de Estado um entendimento sólido e abrangente; a maioria tem a determinação de livrar
Portugal de um protetorado que herdou, concluir o Programa de Assistência no calendário previsto e fomentar,
potenciar e, por isso, proteger os ainda ténues sinais que apontam para menos recessão, que é a condição
básica para termos mais economia, mais crescimento e mais criação de emprego.
Nesse sentido, foi anunciado pelos líderes parlamentares do PSD e do CDS que votariam contra a moção
de censura. Isso tem três consequências meridianas que, não obstante a sua luminosa claridade, devem ser
registadas.
Em primeiro lugar, a oposição quis censurar o Governo, mas não deverá obter votos suficientes para sair
vitoriosa, donde a legitimidade democrática do Governo sai reforçada deste debate.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
Em segundo lugar, o Parlamento, que é um órgão de soberania com centralidade no nosso sistema
constitucional, tinha hoje duas possibilidades pela frente: ou confirmar o Governo e favorecer as condições
políticas de estabilidade e confiança ou derrubar o Governo e abrir uma crise institucional, podendo esta
conduzir à realização de eleições.
A opção do Parlamento parece clara: daqui sairá um sinal inequívoco de estabilidade e de confiança.
Em terceiro lugar, politicamente, uma censura que não censura confia. Não andarão longe da verdade
aqueles que alvitrarem que o que acontecerá hoje, na Assembleia da República, é uma espécie da moção de
confiança por contraste. Acontece aos melhores, na oposição, provocarem a validação do Governo por uma
clara maioria.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
Mas se a leitura objetiva dos factos é esta, a avaliação das consequências, que teria, precisamente agora,
uma censura que fosse consequente, não é despicienda.
Precipitar eleições, como Os Verdes desejam, significaria acumular riscos que não se aconselham de todo.
Portugal teria alguma coisa a perder se perdesse a estabilidade política, um valor institucional suficientemente