I SÉRIE — NÚMERO 114
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O Governo que hoje censuramos é o Governo condicionado, porque o Presidente da República, à cautela,
perante um Governo que não lhe oferece muitas garantias de solidez, o obriga a entender-se com o Partido
Socialista.
Como ficou bem visível hoje no debate, é este Governo, censurado, desacreditado, a prazo, condicionado,
de pés atados e de coração nas mãos, que Os Verdes hoje censuram.
Nunca, como hoje, assistimos a um balançar tão incerto do regular funcionamento das instituições
democráticas
Por isso, a nosso ver, seria dever do Presidente da República demitir este Governo já, mas o Presidente da
República acabou por permitir que ele se prolongue nos nossos destinos por mais um ano.
Será mais um ano de desemprego, de recessão económica, de falências, de pensões de miséria, de
empobrecimento dos portugueses, de cortes nas funções sociais do Estado e de ajuda à banca e de proteção
aos grandes grupos económicos. Tudo em nome dos mercados, os mesmos mercados que provocaram a
situação que o País vive.
O pior é que condicionar uma solução aos mercados implica condenar os portugueses a mais
empobrecimento.
O Presidente da República, que na sua comunicação se esqueceu completamente dos portugueses — nem
uma referência foi capaz de fazer à situação dos portugueses, aos seus problemas, às suas preocupações e à
sua dor —, mostra-se profundamente empenhado em salvaguardar estas políticas.
O Presidente da República, que não quer devolver a palavra aos portugueses já, preferiu um acordo entre
os partidos do arco da responsabilidade, quer um acordo entre os que são, de facto e de direito, os
responsáveis pela situação que hoje atravessamos.
E os responsáveis pela situação voltam a sentar-se à mesa das negociações, na procura de caminhos que
garantam a continuação das políticas que nos trouxeram ao ponto onde estamos hoje.
O compromisso para a destruição nacional está, assim, entregue aos mesmos que, ao longo de quase
quatro décadas, destruíram o tecido económico do País, arruinaram a nossa indústria, enterraram a nossa
agricultura e afogaram as nossas pescas.
Trata-se dos mesmos que delapidaram o nosso património coletivo, com a privatização de empresas
estratégicas, que deixaram de estar ao serviço da economia nacional para estarem ao serviço dos interesses
dos seus acionistas; os mesmos que inventaram as parcerias público-privadas, que foram na conversa dos
swaps e que permitiram a fuga de capitais para o estrangeiro; os mesmos que permitiram a distribuição
antecipada de dividendos dos grandes grupos económicos com o propósito de não pagar impostos e que
permitiram a transferência das sedes sociais das grandes empresas para o estrangeiro para não pagarem
impostos em Portugal; os mesmos que socializaram os prejuízos do BPN, mas que mantiveram os lucros do
Grupo nas mãos dos seus acionistas.
O Presidente da República deixa, assim, nas mãos dos partidos que colocaram o País na rota da desgraça
a procura da solução para manter tudo na mesma.
Esta decisão do Presidente da República, que a nosso ver é inaceitável, porque exclui partidos, tem, no
entanto, a virtude de reconhecer que os partidos não são todos iguais.
É, pois, altura de separar as águas, de separar as águas entre aqueles que entendem que o interesse
nacional é continuar com estas políticas, continuar a governar para os mercados e para financiar a banca e
aqueles que entendem que o interesse nacional é romper com estas políticas, é romper com a subserviência,
perante interesses que não são os interesses do País.
Se dúvidas houvesse sobre os propósitos dos partidos do arco da responsabilidade que agora negoceiam,
bastaria ter presente o que está a ser objeto de negociação para se perceber que o esforço é apenas para
assegurar a continuidade destas políticas.
Da parte de Os Verdes, continuamos a defender a urgência de outro caminho, a urgência de políticas
alternativas que invertam o rumo desta catástrofe e a urgência da construção de uma posição negocial forte
que faça frente à troica.
A troica, sabemo-lo bem, não está preocupada com os interesses do País, os membros da troica continuam
a ganhar com esta situação através dos juros que estamos a pagar.
Em 2014, Portugal terá de pagar mais de 14 000 milhões de euros de empréstimo e, em 2015, quase 17
000 milhões, isto sem considerar a dívida a curto prazo, que também é elevada.