12 DE SETEMBRO DE 2013
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Portanto, ter um Governo que não convive bem com a lei mãe, a Lei Fundamental do País é uma coisa que
não direi apenas e só que é esquisita mas que é perigosa. Estas inúmeras tentativas de violação da
Constituição é uma coisa absolutamente perigosa.
E o que vão fazendo o Governo e a maioria parlamentar? Vão disfarçando estas violações da Constituição
antes de elas serem declaradas inconstitucionais. Dissemos aqui vezes sem conta que este diploma, com este
nome pomposo da requalificação dos funcionários públicos, não era nada disso, era um programa de
despedimento de milhares de funcionários públicos — é isto que este diploma visa! — sem justa causa,
arbitrariamente.
A maioria, tal como o Governo, dizia sempre que não, que estávamos a ver mal as coisas, mas o Tribunal
Constitucional veio confirmar isso e hoje não restam dúvidas de que este era um diploma de despedimento
arbitrário de funcionários públicos, o que é algo absolutamente inqualificável, pois significa que para o Governo
e para esta maioria parlamentar vale tudo, tudo! Um Primeiro-Ministro que disse, não nesta sala mas na do
Plenário, que não despediria funcionários públicos está a querer fazê-lo.
Depois, a forma como reagem é até inqualificável. O Sr. Primeiro-Ministro falar do bom senso dos Srs.
Juízes do Tribunal Constitucional?!… O Sr. Primeiro-Ministro perguntar, assim, à boca larga, aos 900 000
desempregados (que, por acaso, são mais e ele sabe-o) de que é que já lhes valeu a Constituição da
República Portuguesa?!… O Primeiro-Ministro não sabe, por exemplo, que é a Constituição da República
Portuguesa que assegura o subsídio de desemprego aos desempregados?
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Exatamente!
A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — O Sr. Primeiro-Ministro não sabe a quantidade e a qualidade dos
direitos que estão assegurados na Constituição da República Portuguesa? Esta
interrogação/afirmação/provocação que o Sr. Primeiro-Ministro faz aos portugueses é uma absoluta vergonha.
Por último, ameaçar com um segundo resgate ou com medidas ainda mais gravosas devido a este chumbo
do Tribunal Constitucional, como quem diz «Não vão ter disto, mas vão ter ainda pior e eu cá estou para isso».
Sr.as
e Srs. Deputados, cada vez mais não restam dúvidas de que a solução para este País é este Governo ir
para a rua.
A Sr.ª Presidente: — Pelo PSD, tem a palavra a Sr.ª Deputada Teresa Leal Coelho.
A Sr.ª Teresa Leal Coelho (PSD): — Sr.ª Presidente, Sr.as
Deputadas e Srs. Deputados: O Grupo
Parlamentar do PSD acolhe com respeito esta devolução pelo Presidente da República, na sequência da
pronúncia por inconstitucionalidade do Decreto da Assembleia da República n.º 177/XII (2.ª), mas gostaríamos
aqui de clarificar um conjunto de pontos.
Em primeiro lugar, tal como já disse o Deputado João Pinho de Almeida, estamos condicionados por um
contexto de crise económica e financeira, que é um facto público e notório e que está corporalizado
precisamente enquanto pressuposto do Memorando de Entendimento que estamos a cumprir, documento
esse que foi subscrito pelo PS e por causa da sua governação,…
O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — Muito bem!
A Sr.ª Teresa Leal Coelho (PSD): — … por causa da dívida que atingimos. Foi por causa do despesismo e
dos défices sucessivos que as opções governativas do PS nos levaram às circunstâncias de 2011, obrigando-
nos a este Memorando de Entendimento.
Por outro lado, não temos a mesma interpretação da Constituição que os partidos da esquerda, e ainda
bem que não temos, porque esses partidos não admitem que há ciclos eleitorais resultantes de eleições por
sufrágio universal que são para cumprir. E estamos exatamente num desses ciclos eleitorais neste período de
governação, que vai chegar ao final da legislatura pacificamente, precisamente porque isso decorre de um
princípio democrático constitucionalmente consagrado.