12 DE SETEMBRO DE 2013
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foram para lá de tudo o que é possível e exigível. Guardamos o seu exemplo, o mais forte e mais belo entre os
exemplos!
Shakespeare assinalou esta marca de esplendor que não morre, esta espécie de negação de morte dos
heróis, como os que aqui hoje choramos e veneramos. Na sua passagem sobre o pescador de pérolas, ele
dizia que os heróis se transformam em insólitos tesouros que havemos de transportar em exemplo para que
participem do mundo dos vivos.
É assim quando a ação humana desafia todos os limites. Ela torna-se marca indelével com os seus
autores, os seus tempos e lugares. Como uma muralha que se ergue e onde a nossa memória coletiva tem
sempre de bater, agradecer e refletir.
Armamar, em 1985; Caramulo, em 1986; Nisa, em 2003; Sabugal, em 2009; São Pedro do Sul, em 2010;
Tavira e São Brás de Alportel, em 2012; Alfândega da Fé, em 2013. Caramulo de novo! Estes lugares e estes
anos, representando outros lugares e outros anos.
As imagens da tragédia entraram nas nossas casas, deixaram-nos suspensos de apreensão e dor, uma dor
unânime e agradecida que nos atravessou a todos.
Os antigos diziam que a ação corajosa e desinteressada é o lugar predileto da virtude! Foi a virtude o que
eles levaram até às últimas consequências. A virtude como substância ética da alteridade e do sentido dela.
Eles dizem-nos que nada existe sem os outros, que nada tem valor sem a consideração dos outros. Desta vez,
somos nós esses outros e a nossa gratidão não tem limites.
Sentimos a perda destes homens e mulheres, sentimo-la doer dentro de nós. A contagem insuportável da
morte de seres humanos, cada um único e irrepetível. Sentimos a dor dos queimados e feridos. Sentimos a
dor dos que tudo arriscaram em terra desconhecida, fazendo-a sua, e dos seus habitantes o seu próximo.
Sentimos a dor de tantos outros e tantas outras!
E esta dor não pode aqui deixar também de ser também matéria de desafio. Porque é um desafio que nos
é lançado a todos nós que ficamos, a todos nós, sociedade política e sociedade civil: o de empreendermos
agora uma luta de muitas frentes, recusa da banalização da tragédia, de mobilização de todos os meios e
todas as vontades para que um mal assim não volte a acontecer. A luta passou agora para as nossas mãos,
somos nós agora os combatentes!
A dor que se expressa neste lugar de representação e decisão envolve um propósito político firme de agir.
O Parlamento vai constituir um grupo de trabalho, por vontade unânime dos grupos parlamentares, para uma
ação determinada que considere as múltiplas dimensões em que o problema dos incêndios florestais deve ser
enfrentado. E realizará, no próximo mês de outubro, um grande debate que não cabe nesta Comissão
Permanente.
O sinal dos mortos é para nos comprometermos com o renascimento. Só pelo renascimento nos fazemos
os pescadores de pérolas de que falava Shakespeare, só assim os faremos presentes no mundo dos vivos.
Entre a lei, o Governo e as autarquias, as comunidades de vizinhos e a autónoma vontade dos indivíduos
até à partilha da União Europeia.
Aqui, venerar e não esquecer é fazer!
Às famílias, às corporações e aos seus feridos, aos vizinhos e amigos, aos autarcas, o abraço de pesar de
todos os Deputados do Parlamento.»
Como está previsto, vou dar a palavra a todos os grupos parlamentares e ao Governo para intervirem sobre
este voto, lembrando os Srs. Deputados que se encontram nas galerias o Vice-Presidente da Liga de
Bombeiros e alguns familiares dos bombeiros falecidos, a quem dirijo um grande abraço em nome, tenho a
certeza, dos 230 Deputados, alguns dos quais aqui não estão mas que estão connosco de outro modo.
Sendo assim, vou dar a palavra pela ordem prevista, isto é, do maior partido para o mais pequeno e depois
ao Governo.
Em primeiro lugar, tem a palavra o Sr. Deputado Paulo Batista Santos, do PSD.
O Sr. Paulo Batista Santos (PSD): — Sr.ª Presidente, Sr. Ministro da Presidência e dos Assuntos
Parlamentares, Sr. Ministro da Administração Interna, Sr.as
e Srs. Deputados: Este ano, de facto, o flagelo dos
incêndios tem tido contornos particularmente trágicos. Foram oito os bombeiros que perderam a vida no
combate às chamas que assolaram o País este verão. A morte de um bombeiro já seria um número
demasiado trágico a lamentar, mas esta dolorosa contagem crescente de vidas perdidas e de famílias