I SÉRIE — NÚMERO 32
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Pedindo o mesmo aos Srs. Deputados que ainda vão intervir, dou a palavra, para uma intervenção, ao Sr.
Deputado Pedro Delgado Alves.
O Sr. Pedro Delgado Alves (PS): — Sr.ª Presidente, Srs. Deputados: Na discussão que hoje temos
oportunidade de fazer nesta Câmara, relativa ao relatório da ERC, é, mais uma vez, claro o peso e a
importância dos direitos fundamentais nas instituições da República.
Assim, este é um bom dia para recordarmos a importância da Constituição, do respeito pelos direitos
fundamentais e de termos presente que temos instituições na República Portuguesa que, como a ERC e como
o Tribunal Constitucional, servem como guardiões da nossa Constituição e asseguram que as «linhas
vermelhas» intransponíveis, insuscetíveis de destruir a dignidade das pessoas, não são ultrapassadas.
Portanto, em primeira linha, é de saudar que uma instituição de defesa das nossas instituições funciona e
tem capacidade de produzir bons resultados.
O Relatório, em grande medida, é claro na descrição das atividades da ERC e é bom recordarmos quais
são as áreas em que ele incide, principalmente para também nos guiarmos na nossa tarefa, enquanto
legisladores, de construção dos regimes em falta para dotar a ERC de meios para poder intervir.
De facto, já foi feita uma referência à transparência da propriedade e à não concentração dos meios, mas
essa é, precisamente, uma área relativamente à qual a legislação que temos está muito aquém das
necessidades que se impõem a uma sociedade democrática, transparente e que quer assegurar o pluralismo.
Portanto, mais uma vez, da leitura deste Relatório, verifica-se que devemos apelar à necessidade urgente
de rever a legislação sobre esta matéria, assegurando que não há concentração de meios e que é clara a
estrutura de propriedade dos meios de comunicação social.
Por outro lado, também relevante e na ordem do dia, há que olhar para o serviço público de rádio e de
televisão, objeto de detalhada análise no Relatório — área particularmente importante nos trabalhos e nas
queixas que a ERC tem ocasião de apreciar —, e não esquecer que essa tarefa fundamental, que o regulador
desempenha, obviamente que é aligeirada se o serviço público funcionar com qualidade, com sustentação,
com capacidade de autofinanciar-se sem ter que proceder a cortes cegos e a uma redução da sua
intervenção.
Mais do que uma verdadeira oportunidade para repensar a estrutura da Entidade Reguladora, que tem
mostrado estar a funcionar nos termos desejados, esta é uma oportunidade para refletir sobre o setor da
comunicação social e sobre as carências legislativas e de meios que se vão verificando.
Aplausos do PS.
A Sr.ª Presidente: — Antes de dar a palavra à Sr.ª Deputada Carla Cruz, pedia aos Srs. Deputados que
continuassem a ficar perto do limite do tempo de que dispõem.
Tem a palavra, Sr.ª Deputada, para uma intervenção.
A Sr.ª Carla Cruz (PCP): — Sr.ª Presidente, Srs. Deputados: Como aqui já foi dito hoje, compete à ERC,
de facto, a regulamentação e a supervisão de todas as entidades que atuam na área da comunicação social
em Portugal.
Sendo várias as atividades que competem à ERC, iremos apenas centrar-nos nos dados sobre a
regulação.
Da análise do relatório sobre a regulação, confirma-se aquilo que o PCP tem dito e a análise que o PCP
tem feito sobre o sector da comunicação social: nas últimas décadas, em Portugal, tem-se assistido a um
processo crescente de concentração da propriedade, estando esta, agora, nas mãos de um reduzido núcleo
de grupos económicos; ao aprofundamento da exploração e à precarização das relações laborais; à
degradação e à governamentalização do serviço público nas suas diversas dimensões; e a um crescente
condicionamento ideológico e empobrecimento informativo e cultural, favorável aos interesses estratégicos do
grande capital.
Sobre a concentração da propriedade, o Relatório mostra que os grandes grupos representam 73% do total
dos ativos e 66% do total do volume de negócios.