I SÉRIE — NÚMERO 39
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O Sr. Paulo Sá (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Deputados, Sr.ª Ministra das Finanças, ao nono dia da
execução do Orçamento do Estado, o Conselho de Ministros aprovou o primeiro Orçamento retificativo. Ao
nono dia, Sr.ª Ministra! Será difícil, no futuro, um governo, qualquer governo, fazer pior! E a responsabilidade
desta situação é exclusivamente do Governo, que insiste em governar à margem da lei contra a Constituição
da República Portuguesa.
Com este Orçamento retificativo, o Governo ataca mais uma vez, pela enésima vez, os reformados, os
pensionistas e os trabalhadores da Administração Pública com o objetivo de lhes retirar 700 milhões de euros.
As questões que se levantam são as seguintes, Sr.ª Ministra: por que razão as vítimas são sempre as
mesmas? Por que razão não considerou o Governo outras medidas dirigidas aos grandes grupos económicos
e financeiros? Por que razão o Governo não reduz a despesa com os juros da dívida pública, renegociando
essa dívida? Por que razão o Governo não reduz os encargos com as PPP? Por que razão o Governo não
corta os benefícios e isenções fiscais das grandes empresas? Por que razão o Governo não altera a base de
incidência da contribuição extraordinária aplicada à banca e ao setor energético? Por que razão o Governo
não aumenta a taxa efetiva de IRC para as grandes empresas? Por que razão o Governo não cria uma taxa
sobre as transações financeiras? Ou por que razão o Governo não elimina a isenção de IMI para os fundos de
investimento imobiliário?
A Sr.ª Ministra nem quer ouvir falar destas medidas. O Governo nem quer ouvir falar destas medidas,
porque, para o Governo, os lucros do grande capital nunca são demasiado elevados. Mas se um reformado,
ao fim de uma vida de trabalho, depois de ter descontado para a segurança social, tem uma pensão de 1000
€, então, na ótica do Governo, ele é um privilegiado, vive acima das suas possibilidades e há que cortar-lhe a
reforma.
É esta a opção do Governo; atacar os rendimentos dos trabalhadores, dos reformados e pensionistas para
garantir os lucros e as benesses do grande capital.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!
O Sr. Paulo Sá (PCP): — Ainda uma questão sobre a ADSE, Sr.ª Ministra.
O Governo justifica este Orçamento retificativo com o Acórdão do Tribunal Constitucional, mas é preciso
que a Sr.ª Ministra explique o que é que o aumento da contribuição para a ADSE tem a ver com a famigerada
convergência de pensões. Por que é que o aumento da ADSE para os funcionários públicos tem a ver com o
Acórdão ou com as pensões? Nada, Sr.ª Ministra! Não tem nada a ver! Mas tem tudo a ver com a política de
roubo de pensões, de reformas e também de salários que o Governo e a maioria têm executado.
Por fim, Sr.ª Ministra, mais um pedido de explicações: é necessário que justifique porque e para onde
desvia as contribuições dos trabalhadores que deveriam reverter para a ADSE e que vão ter outro destino.
Qual é esse destino, Sr.ª Ministra?
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado Pedro
Filipe Soares.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as
e Srs. Deputados, Sr.ª
Ministra das Finanças, creio que a primeira pergunta que se coloca no debate deste Orçamento retificativo é a
seguinte: que mal fizeram os trabalhadores públicos ao Estado? Que mal fizeram a este Governo para serem
sempre eles os responsáveis que têm de pagar pelas escolhas desastrosas deste Governo? Que mal fizeram
eles? Esta é a pergunta que está em cima da mesa.
Aplausos do BE.
O Governo é incompetente? É! O Governo é irresponsável? É! É um Governo que não sabe fazer
Orçamentos? É! Tudo isso, nós já sabemos! Em todos os Orçamentos do Estado vemos inconstitucionalidades