23 DE JANEIRO DE 2014
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consequente com essas palavras e responder ao repto do Sr. Primeiro-Ministro, de modo a que nos
entendêssemos de vez sobre o limite da despesa pública em Portugal, para não voltarmos a cair na situação
de pedir mais sacrifícios, como, infelizmente, tem estado a acontecer em Portugal.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Também para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado
Pedro Nuno Santos.
O Sr. Pedro Nuno Santos (PS): — Sr. Presidente, Sr.ª Ministra de Estado e das Finanças, o Governo
optou por substituir o corte de pensões dos pensionistas da Caixa Geral de Aposentações por outras medidas
de valor equivalente, mas que atingem, novamente, reformados e pensionistas, não só do setor público, mas
também do regime geral da segurança social, e, agora, ainda, trabalhadores da função pública, com o
aumento da comparticipação na ADSE.
O Partido Socialista, como já foi aqui lembrado, defendeu que o Governo deveria ter acomodado a decisão
do Tribunal Constitucional sem a substituir por medidas alternativas. Ao Partido Socialista preocupava proteger
os pensionistas, mas também entendemos e entendíamos que era a melhor opção, do ponto de vista da
consolidação das contas públicas. Caía o Carmo e a Trindade — «o Partido Socialista ignorava que défice é
mais dívida» — e, desta forma simplista, respondia-se a uma questão que é complexa, porque a economia é
mais complexa do que isso.
A verdade é que estas medidas de austeridade, ao deprimirem o Produto e os preços, podem até levar a
um aumento da dívida em relação à riqueza gerada no País. Aliás, é isso que tem acontecido nos últimos anos
em Portugal. Veja-se o ano de 2010, em que tivemos um défice primário de 7%, mas a dívida pública caiu
menos do que em 2012, ano em que tivemos um défice primário de 2,1%. Qual é a diferença entre estes dois
anos? É que, em 2010, tivemos um crescimento do PIB nominal de 2,5% e, em 2012, tivemos uma recessão,
uma queda do PIB nominal de 3,5%. As medidas de austeridade, ao deprimirem o Produto e os preços, fazem
com que a dívida pública aumente, em proporção do PIB. É por isso que nem sempre défice corresponde a
mais dívida.
Entre 1995 e 2000, a dívida pública caiu quase oito pontos percentuais. Mesmo retirando as receitas das
privatizações, durante esse período, entre 1995 e 2000, tivemos um défice orçamental a rondar os 4%, mas
nem por isso deixámos de ter a dívida pública a cair. Porquê? Porque tivemos crescimento do PIB nominal a
rondar os 7%. É esta a diferença entre a visão do Partido Socialista e a do Governo, no que diz respeito à
consolidação das contas públicas.
Mas, se o Governo não queria, de forma nenhuma, alterar a meta do défice orçamental, podia ter recorrido
às rubricas que tem no Orçamento do Estado, nomeadamente à dotação provisional ou à reserva orçamental,
que totalizam 900 milhões de euros. E nem sequer somos os primeiros a lembrar-nos disto. Uma ex-Ministra
de Estado e das Finanças, ex-Presidente do PSD, fez esta proposta: porque é que o Governo, perante uma
despesa imprevista, porque presumo que seja imprevista, já que não contavam com o chumbo do Tribunal
Constitucional, não recorreu à dotação provisional ou à reserva orçamental para acomodar a decisão do
Tribunal Constitucional, sem aumentar o défice orçamental?
O que é que o Governo tem contra os reformados? O que é que o Governo tem contra os pensionistas? O
que é que o Governo tem contra os trabalhadores do setor público?
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Ainda para pedir esclarecimentos, tem a palavra a Sr.ª Deputada
Cecília Meireles.
A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP): — Sr. Presidente, Sr.ª Ministra de Estado e das Finanças, certamente, o
Orçamento retificativo que hoje aqui discutimos não é um Orçamento fácil, como, aliás, já não foi a primeira
discussão e o primeiro Orçamento apresentado.
A solução que hoje discutimos não é a primeira opção do Governo, é a segunda,…